30/10/2024
HALLOWEEN
por DIEGO FRANZEN
O Halloween, ah, como eu amo o Halloween! Com toda a sua magia e peculiaridade, a data se apresenta como um momento de celebração que transcende fronteiras, reunindo pessoas em um espírito de diversão e criatividade. Como não se contagiar com a alegria e imaginação das crianças?
O primeiro registro do termo "Halloween" remonta a aproximadamente 1745, sendo uma contração do escocês "All Hallows' Eve", que se traduz como a véspera do Dia de Todos os Santos, uma data imbuída de significados cristãos. Contudo, suas raízes se entrelaçam nas tradições ancestrais dos povos que habitavam as terras da Gália e das ilhas da Grã-Bretanha, entre os séculos VI a.C. e VIII d.C. Essas práticas estavam intimamente ligadas ao festival celta de Samhain, uma festividade que celebrava a colheita e que era tradicionalmente observada na Irlanda, Escócia e na Ilha de Man.
No cerne do Halloween também se encontram as fantasias que emergiram na França entre os séculos XIV e XV. É crucial lembrar que esse período histórico foi marcado pelo sombrio flagelo da Peste Negra, que devastou quase metade da população europeia. Esta calamidade desencadeou um terror profundo acerca da morte, levando os católicos a multiplicar as Missas em memória dos Fiéis Defuntos, dando origem a representações artísticas que enfatizavam a fragilidade da vida, como as famosas danças da morte, ou danças macabras. Embora o seu conteúdo possa parecer macabro, festejar à sombra da mortalidade torna-se uma forma de refletir e valorizar a vida; paradoxalmente, é nesse contexto que celebramos a memória das almas.
Na contemporaneidade, a valorização da cultura brasileira está sempre em voga, e não se pode ignorar a riqueza de nossos próprios folguedos. No entanto, se formos condenar toda e qualquer influência externa, corremos o risco de abolir até mesmo festividades que se tornaram ícones da nossa sociedade, como o Natal, o Ano-Novo e até mesmo a célebre canção de parabéns. Seria absurdo desmerecer a diversidade cultural que nos constitui como cidadãos do mundo.
Assim, podemos discernir que a importação de elementos culturais, como o Halloween e até o Dia de Ação de Graças, oferece uma riqueza de experiências que pode enriquecer nosso próprio repertório festivo. Se nos tornarmos xiitas em nossas convicções culturais, estaremos perpetuando os mesmos erros que uma vez trouxeram guerras e divisões, banalizando nossa capacidade de acolher o diferente — um fenômeno que se reflete na xenofobia cultural.
Curiosamente, na tentativa de banir o Halloween no Brasil, surgiu a ideia do Dia do Saci, uma celebração que visa eternizar um personagem do folclore brasileiro. Previsto em lei aprovada no Congresso, inclusive. Entretanto, é inegável que, apesar de toda a beleza e essência que o Saci representa, tal iniciativa não conseguiu superar a abrangência e a diversão genuína que o Halloween proporciona.
Cultura nunca é demais; pelo contrário, ela se apodera de um espaço apátrida em nossa existência, convidando-nos a celebrar a vida, a criatividade e a comunhão entre as diversidades. E assim, no espírito do Halloween, encontramos uma oportunidade de alegria que vale a pena compartilhar.
Um ótimo Halloween a todos.