16/09/2022
11 TECNOLOGIAS PARA FICAR DE OLHO EM 2023
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Conheça as tendências que o mercado de tecnologia prevê como as mais importantes no próximo ano para acelerar a transformação digital no mundo
Leandro Steiw
Empresas de tecnologia, pesquisa e consultoria costumam preparar listas de tendências para o futuro. É uma forma de pensar, fundamentada nos conhecimentos atuais, para onde caminha a humanidade e refletir o que as pessoas esperam do mundo nos anos seguintes. Após a leitura de dezenas de listas, relatórios e artigos especializados, a INSPERTECH separou alguns temas que foram citados mais de uma vez como as principais tendências para ficar de olho em 2022.
Algumas das sugestões se entrelaçam. Hiperautomação, por exemplo, depende de inteligência artificial. Metaverso depende da nuvem. Blockchains, de cibersegurança. Cidades inteligentes, de energia sustentável. Faz sentido, portanto, que todas apareçam juntas como tendências de transformação digital. Os novos cenários desenhados pela pandemia da covid-19, como o trabalho e o ensino remoto, justificam a implantação acelerada de algumas delas.
1. Hiperautomação
Engenheiro monitora robôs industriais
A hiperautomação é o resultado do trabalho que começa com a identificação e o exame do maior número possível de processos de negócios e tecnologia da informação. Essencialmente, a ideia é substituir tarefas automatizadas limitadas por outras que funcionem coletivamente, nos diversos setores da organização. As empresas podem reduzir em até 30% os custos operacionais de TI, segundo a consultoria Gartner, se redesenharem os seus processos e adotarem diversas ferramentas e plataformas, como inteligência artificial, aprendizado de máquina, arquitetura de software orientada a eventos, automação de processos robóticos (RPA), gerenciamento de processos de negócios (BPM) e suítes de gerenciamento de processos de negócios inteligentes (iBPMS), plataforma de integração como serviço (iPaaS), ferramentas de low code e no code e pacotes de software.
Um relatório da Gartner mostra que uma empresa de petróleo e gás utiliza 14 estratégias simultâneas de automação para acelerar os processos de negócios e, consequentemente, aperfeiçoar a tomada de decisões. Em 2020, o mercado mundial de tecnologia para hiperautomação movimentou 482 bilhões de dólares e deverá chegar a 597 bilhões de dólares em 2022, se a tendência se confirmar — O que parece provável num mundo pós-pandemia dacovid-19, no qual o trabalho híbrido e a digitalização são inevitáveis.
2. Tudo como um serviço (XaaS)
O conceito de tudo como um serviço (do inglês XaaS, ou everything-as-a-service) não é tão novo assim. Ele reúne o compartilhamento em nuvem de softwares, plataformas, infraestrutura e redes. Serviços de streaming, como Netflix e Spotify, são exemplos típicos de softwares e plataformas de uso doméstico. Entretanto, essa tecnologia potencializa-se no ambiente empresarial com a oferta de soluções de TI que não exigem a montagem de infraestruturas monstruosas. Qualquer empresa poderá aderir a soluções sofisticadas de inteligência artificial e internet das coisas — dedicadas a recursos humanos, marketing, vendas, design de produtos e gerenciamento de projetos, entre outros — sem dispor de hardwares e equipes de manutenção. Tudo poderá funcionar com assinaturas de serviços hospedados na nuvem, acessando datacenters remotamente. O cliente pagará apenas pelo consumo do serviço.
Amazon, Google e Microsoft — só para citar alguns nomes mais conhecidos — já são grandes fornecedores de infraestrutura como serviço (IaaS). A consultoria Gartner prevê gastos de 362 bilhões de dólares em 2022 em serviços de nuvem pública, cerca de 20% mais que em 2021. Numa projeção mais avançada, 85% das empresas mundiais estarão adaptadas ao novo modelo.
3. No code e low code
As plataformas de low code (código baixo, em inglês) possibilitam a criação de aplicativos sem conhecimento de programação. A montagem é feita por meio de uma interface gráfica de usuário, com o arrasto e o encaixe de blocos que contêm os comandos, e não com a digitação de linhas de texto. Isso facilita a adequação de ferramentas preexistentes às peculiaridades dos negócios da empresa. Os desenvolvedores estimam que 80% desse trabalho manual é feito pelos funcionários com um perfil técnico mínimo, enquanto os 20% restantes são validados e otimizados pela equipe de TI.
Por sua vez, as plataformas no code (sem código) permitem a qualquer um desenvolver soluções em softwares, sem uso de códigos de programação e análise posterior da TI, criando a figura do desenvolvedor cidadão. Na teoria, elas são uma evolução do low code. Para as empresas, uma solução pensada e executada pelas pessoas que vão de fato utilizá-la torna o desenvolvimento mais rápido, eficiente e barato. Uma nova ideia pode ser implantada em pouco tempo, diferentemente do desenvolvimento tradicional de softwares, cujas demandas vão e vêm de uma equipe à outra até a aprovação final.
O conceito de low code remete aos anos 1980, com a implantação das linguagens de programação de quarta geração, e ganhou impulso com as aplicações mobile e a computação em nuvem. Experimentalmente, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) mantém uma ferramenta amadora de construção de aplicativos em Android, o MIT App Inventor, que é usada para o ensino de computação em escolas do mundo todo. Mas 2022 pode testemunhar a expansão do low code no universo empresarial. Existem várias plataformas comerciais robustas que oferecem a tecnologia com altos níveis de confiabilidade e segurança, acessíveis na nuvem. A empresa de pesquisas Mordor Intelligence calcula um crescimento anual composto de 28% do mercado de low code de 2021 até 2026. É um dado significativo, porque a Forrester, também do ramo de pesquisas, informa que essas plataformas representam 75% do total de softwares criados e aperfeiçoados em 2021.
4. Cibersegurança e escore de segurança
Cibersegurança
A preocupação com a cibersegurança está destinada a ser permanentemente um top trend. Não há ano sem que se fale sobre vazamento de dados, desvio de recursos financeiros e ataques por ransonwares a sistemas públicos e privados. O custo médio da violação de dados empresariais chegou a 4,2 milhões de dólares em 2021, o maior valor médio no histórico de 17 anos monitorado pelo relatório especializado da IBM. Fragilidades nas conexões do trabalho remoto e comprometimento de credenciais (usuário e senha) inflaram esse valor durante a pandemia. Nos Estados Unidos, só o comércio eletrônico na web sofre uma média de 206 mil ataques mensais, segundo a Seon, uma empresa de TI.
A adoção de uma malha de segurança cibernética, na qual soluções autônomas operam em conjunto para melhorar a segurança geral, seja na nuvem, seja fora dela, poderia reduzir o impacto financeiro causado por ataques maliciosos. Muitas ferramentas de proteção de endpoint (os dispositivos conectados à rede) usam inteligência artificial para antecipar o comportamento dos agressores. O relatório da IBM observa que a implementação total da inteligência artificial de automação e segurança reduz o já citado custo de violação de dados em até 3,8 milhões de dólares, na comparação com as organizações sem ela. A abordagem de confiança zero também previne consideravelmente os prejuízos.
Cibersegurança, entretanto, extrapola o investimento em softwares. Sabe-se que uma porção dos ataques explora senhas fracas, cliques em links maliciosos e compartilhamentos indevidos. Em 2022, as empresas precisarão treinar e conscientizar todos os seus funcionários sobre o tema, como se fossem questões de saúde e segurança no trabalho. Em busca da inexpugnabilidade, não bastará cobrar resiliência cibernética apenas das equipes de TI.
Portanto, como o funcionamento correto dos processos afeta a vida dos usuários e dos consumidores das empresas, uma forte tendência é a exigência do escore de segurança, uma pontuação de crédito que identifica as organizações mais e menos seguras. Esse escore, já medido por consultorias internacionais, se baseia em escalas preditivas, capazes de inferir problemas que poderão acontecer no futuro a partir de práticas presentes. Em se tratando de cibersegurança, bom comportamento ainda rende excelentes notas.
5. Tecnologias para cidades inteligentes
As cidades inteligentes são um desafio para os gestores urbanos. Em dezembro, por exemplo, o Insper abordou o tema no curso Gestão de Mandatos Municipais, cujos alunos eram prefeitos e vereadores brasileiros. O uso da tecnologia da informação a favor dos cidadãos, das empresas e dos governos seguirá avançando em 2022. Novas tecnologias, como veículos elétricos e redes de internet das coisas, exigem uma infraestrutura praticamente inexistente na maioria das cidades brasileiras. Mas smart city não é um conceito restrito às demandas dos novos produtos de consumo. A administração das cidades inteligentes depende da colaboração entre secretarias, departamentos, agências e organizações, em busca da governança de dados. O gerenciamento eficaz dos dados corporativos resulta em melhores serviços aos cidadãos, além de gerar sustentabilidade ambiental, social e econômica.
A consultoria Deloitte elaborou uma lista de tendências que as cidades podem seguir para se tornarem mais inteligentes, sustentáveis e resilientes, respeitando as características locais. Do ponto de vista tecnológico, destacam-se: comunidades digitais de saúde preventiva; ecossistema de inovação digital para atrair talentos por meio da combinação de elementos físicos e digitais; uso de dados sobre resíduos, água e energia para obter edifícios e infraestrutura inteligentes e sustentáveis; operações e processos da cidade automatizados, com uso de inteligência artificial, e planejamento baseado em dados; e cibersegurança e conscientização sobre a importância da privacidade de dados.
O relatório da Deloitte estima, até 2028, 4 bilhões de dispositivos de internet das coisas conectados a edifícios inteligentes, que funcionarão ininterruptamente. Entretanto, 75% dos prédios existentes nos países da Comunidade Europeia ainda são ineficientes em consumo de energia, abrindo um campo vasto para o desenvolvimento integrado de tecnologias sustentáveis. A empresa de pesquisa ESI ThoughtLab entrevistou gestores de 167 cidades em 82 países, com um total de 527 milhões de habitantes, e constatou: 66% delas investem fortemente em inteligência artificial e 80% pretendem fazê-lo nos próximos três anos. Os investimentos em IA incluem assistentes digitais, aprendizado de máquina, deep learning e visão computacional.
6. Energia sustentável e tecnologia de bateria
Recarga de bateria de carro elétrico
A fabricação de equipamentos movidos a eletricidade atinge uma escala cada vez maior e vai tornando crítico o fornecimento de energia. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o aumento na geração e consumo de energia renovável chegou a 40% em 2020, quando começou a pandemia, em comparação com o ano anterior — esse crescimento deve continuar ao longo de 2022. Em contrapartida, o custo mundial de geração de energia renovável de várias fontes, incluindo eólica, solar e das marés, caiu entre 7% e 16%, o que pode contribuir para a redução das emissões de carbono. A renovada perspectiva do fim da pandemia e da retomada completa das atividades presenciais pode tornar 2022 um ano crítico, pois não se descarta o recrudescimento do consumo das energias não renováveis.
Carros, scooters e bicicletas com motores elétricos são substitutos dos veículos movidos a combustíveis fósseis, porém, ainda são soluções a médio e longo prazo. As novas gerações de smartphones têm baterias que não só duram maior quantidade de horas como carregam em menos tempo. A empresa de pesquisa BloombergNEF prevê um aumento constante da demanda por baterias de íon-lítio nos próximos nove anos, principalmente devido ao mercado de veículos elétricos, chegando a 2,7 terawatts-hora de potência por ano, ou 35% a mais do oferecido em 2021. No final desse período, a AIE estima 145 milhões de veículos elétricos rodando pelo mundo, o que indica a irreversibilidade da tendência. Tanto que outros materiais têm sido testados nas baterias, como o sódio — um metal mais barato, que permite cargas mais rápidas, mas ainda apresenta menor autonomia e potência em relação ao lítio.
Vale lembrar que boa parte dos veículos não são 100% elétricos, mas híbridos, ou seja, funcionam alternadamente com baterias e combustíveis fósseis. A empresa PPES, uma joint venture da Toyota e da Panasonic, quer reduzir pela metade os custos de fabricação de baterias de íon-lítio já em 2022, para não perder a concorrência com os chineses e os sul-coreanos. A economia poderia ser repassada para os preços dos produtos, pelo menos no Japão, e consolidar o mercado de veículos totalmente elétricos.
No Brasil, o processo de substituição deverá ser mais lento se o cenário de investimentos permanecer restrito a iniciativas isoladas. Um estudo encomendado pela Anfavea, associação brasileira das montadoras de automóveis, projeta para 2035 uma participação de 33% dos veículos híbridos e elétricos, caso as políticas não mudem. Entretanto, para chegar a um cenário similar ao da Europa, com 62% de participação da tecnologia, seriam necessários investimentos de 150 bilhões de reais no período — valor que parece irreal no atual cenário econômico brasileiro. Mais uma vez, aponta o documento da Anfavea, a solução caseira de sustentabilidade energética para reduzir as emissões seriam os biocombustíveis, como o etanol.
7. Tecnologia em nuvem
Cidade inteligente e computação na nuvem
O mercado mundial de serviços em nuvem pública deve movimentar 331 bilhões de dólares em 2002, prevê a consultoria Gartner. O crescimento da indústria de serviços em nuvem seria, então, quase três vezes o crescimento dos serviços gerais de TI. Na nuvem pública, o provedor oferece aos usuários recursos gratuitos ou pagos, como aplicativos, máquinas virtuais, plataformas e infraestrutura. Existem ainda as nuvens privadas, nas quais a infraestrutura e os recursos de computação são dedicados e acessíveis a um único cliente. Para 2022, é bom ficar ligado às outras ramificações da nuvem:
– Distributed cloud
Segundo a IBM, é um serviço de computação em nuvem pública que permite executar a infraestrutura de nuvem pública em vários locais diferentes, não apenas na infraestrutura do seu provedor de nuvem. A partir de um único plano de controle, gerenciam-se os dados armazenados no local, em data centers de outros provedores de nuvem ou em data centers de terceiros ou de hospedagem compartilhada. Resumidamente, a nuvem distribuída é uma base para a computação de ponta, quando servidores e aplicativos são executados mais perto de onde os dados são criados. Internet das coisas, inteligência artificial e telecomunicações, que processam quantidades enormes de dados em tempo real, são uma demanda natural da nuvem distribuída.
– Cloud-native
Tecnologias nativas da nuvem capacitam as empresas a criar e rodar aplicações escalonáveis e tolerantes a falhas em ambientes como nuvens públicas, privadas e híbridas, conforme a definição da Cloud Native Computing Foundation (CNCF), criada pela Fundação Linux. Contêineres, malhas de serviço, microsserviços, infraestrutura imutável e APIs declarativas são alguns termos técnicos incluídos nessa abordagem, que incentiva o uso de código aberto na criação de aplicativos e soluções em computação.
– Hybrid cloud
Novamente, a IBM explica: “A nuvem híbrida combina e unifica a nuvem pública, a nuvem privada e a infraestrutura local para criar uma infraestrutura de TI única, flexível e com ótimo custo-benefício. O resultado é um ambiente de computação distribuído único, unificado e flexível, no qual uma organização pode executar e escalar suas cargas de trabalho (conjunto de códigos e recursos) tradicionais ou nativas da nuvem no modelo de computação mais apropriado”.
– Multicloud
Multicloud é o uso de serviços de mais de um fornecedor de nuvem, tanto em software quanto em plataforma e infraestrutura. Ao adotar dois ou mais fornecedores, as empresas conseguem melhorar o desempenho das suas ferramentas, controlar os custos e aproveitar o melhor de cada tecnologia disponível na nuvem. Essas soluções são normalmente em tecnologias nativas da nuvem, em código aberto, que são suportadas por qualquer provedor de nuvem pública.
– Hybrid multicloud
É uma nuvem híbrida que inclui serviços de nuvem pública de mais de um provedor de serviços de nuvem. Segundo a IBM, o valor derivado de uma tecnologia de plataforma multicloud totalmente híbrida é 2,5 vezes o valor derivado de uma abordagem de plataforma única, com fornecedor de nuvem única.
8. Realidade aumentada, realidade virtual e metaverso
Mulher usa óculos de realidade virtual
Metaverso pode até cheirar a conversa de 2021, mas as tecnologias complementares para a especulada internet do futuro, como realidade aumentada e realidade virtual, ganham ainda mais força a partir de 2022. Espera-se que a aplicabilidade extrapole o mundo dos games e que novos dispositivos ofereçam mais do que experiências visuais, mas também táteis e olfativas. Sem essa evolução, um provável metaverso não ofereceria mais do que os usuários podem encontrar nos simuladores à venda atualmente. A expectativa é por funcionalidades para o trabalho e os negócios.
A empresa de pesquisas Grand View estima um crescimento anual composto de 44% nas vendas de dispositivos de realidade aumentada até 2028, gerando 340 bilhões de dólares, ante os 27 bilhões de dólares de 2021. Conforme o relatório, as corporações estão usando a tecnologia para rastrear, identificar e resolver problemas técnicos, além de tarefas de reforma, montagem, fabricação e reparo de linhas de produção: “A preferência crescente entre os indivíduos por smartphones, óculos inteligentes e outros dispositivos portáteis e vestíveis está impulsionando a adoção da realidade aumentada móvel para fornecer experiências imersivas”.
Outros usos potenciais dessas tecnologias são nos setores de construção e arquitetura, saúde e medicina, marketing e publicidade, viagens e turismo, hotelaria, educação, navegação urbana e produtos de consumo. O lançamento da tecnologia 5G favorece a implementação dos dispositivos, pois torna as conexões mais rápidas, móveis e resilientes. Como se percebe, realidade aumentada, realidade virtual e metaverso oferecem no presente bem mais do que o anunciado por Mark Zuckerberg para daqui a 15 anos.
9. Blockchain e NFT
A versatilidade é um dos apelos da blockchain, segundo a empresa de pesquisa Grad View. Ele pode ser usado em aplicativos de pagamentos bancários, finanças e comércio internacional, com segurança de alto nível, processamento em tempo real e transferências mais ágeis. Esse mercado é impulsionado pelo aumento de transações online, pela digitalização de moeda, pelos portais de pagamento online, pelo crescente interesse do setor bancário, de serviços financeiros e de seguros e pela aceitação das criptomoedas por um número cada vez maior de comerciantes.
Um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) estima em 60 bilhões de dólares os gastos mundiais com soluções de blockchain para 2024. Em 2022, esse mercado deverá fechar em 12 bilhões de dólares. As criptomoedas, que usam a tecnologia de blockchain, acompanharão a tendência ascendente. Em 2020, a capitalização das 100 criptomoedas mais valorizadas foi de 330 bilhões de dólares, sendo 200 bilhões de dólares em bitcoins — a criptomoeda mais conhecida mundo afora. O grande desafio continua sendo o consumo de energia. A Unctad diz que os processos de validação e segurança de blockchain gastam em energia o equivalente ao consumo inteiro da Suíça, em torno de 67 terawatts-hora de potência. Outro problema são as fraudes, mesmo com toda a segurança reconhecida de blockchain. Em apenas 11 dias de dezembro de 2021, três golpes surrupiaram 404 milhões de dólares de carteiras de criptomoedas, após hackers romperem a criptografia das plataformas.
Outro conceito que vem com força em 2002 são os tokens não fungíveis (NFT, da sigla em inglês), ativos digitais com direitos de propriedade verificados que são armazenados em blockchains. Os NFTs movimentam 2 bilhões de dólares por mês, segundo levantamento do banco JPMorgan, e reúnem músicos, artistas plásticos e designers entre os seus investidores. A obra mais cara em NFT foi negociada por 69 milhões de dólares, uma composição com 5 mil desenhos do artista digital americano Beeple, arrematada em 2021.
10. Metodologia ágil
As metodologias ágeis, como Scrum e XP, revolucionaram o trabalho de times que entregam projetos. No setor de tecnologia, a mudança principal foi na criação de softwares, que até a década de 1990 eram desenvolvidos em cascata, em etapas verticais e inflexíveis, com pouca ou nenhuma interação entre as equipes de trabalho e os usuários. Cada mudança de programação era um transtorno para todos, desperdiçando tempo, dinheiro e energia laboral. Vários negócios pereceram por ineficiência na gestão dos projetos.
Em 2022, o desafio das empresas é se tornarem inteiramente ágeis, conectando mercado, necessidade dos clientes e entrega contínua de produtos ou serviços. Alguns frameworks que despertam para esta função são o SAFe (do inglês Scaled Agile Framework) e Scrum@Scale. Um caso famoso de aplicação do Scrum@Scale é o Spotify, lançado em 2008. Usando a metodologia ágil, 30 equipes em três cidades criaram uma plataforma de streaming de música que chegou, 13 anos depois, a 172 milhões de assinantes em 184 países. Hoje, o Spotify tem escritórios em 43 cidades, inclusive São Paulo e Rio de Janeiro.
11. Ética da inteligência artificial
Tecnologia de reconhecimento facial
A esta altura da leitura, já ficou claro por que a inteligência artificial será tendência em 2022. Da sua implementação dependem a hiperautomação, o tudo como um serviço, as cidades inteligentes, a cibersegurança. Portanto, uma vida dependente dessa ferramenta leva a pensar sobre o uso ético da inteligência artificial. Famosas por seus algoritmos de engajamento, as redes sociais da internet já são questionadas pelo mau uso de dados dos seus usuários e pelo estímulo a discursos discriminatórios — xenofobia, racismo, homofobia e misoginia, para citar alguns. Governos podem fazer uso abusivo de sistemas de reconhecimento facial ou “pontuação social”. Os impactos se estendem à livre concorrência nos negócios e aos direitos do consumidor.
Nos próximos anos, a encruzilhada é a regulamentação da IA, em prol da sociedade, sem obstáculos para a inovação defendida pelas empresas de tecnologia. Um estudo da consultoria KPMG diz que 87% dos tomadores de decisão de tecnologia da informação acreditam que as ferramentas baseadas em IA devem ser reguladas. Para 32%, a norma deve ser decidida entre governo e indústria. Em 2021, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que trata do Marco Legal da Inteligência Artificial no Brasil, que aguarda votação no Senado. Em resumo, o marco legal estabelece o respeito aos direitos humanos, aos valores democráticos, à igualdade, à pluralidade, à não discriminação, à livre iniciativa e à privacidade dos dados. A regulamentação valerá para todo o país, evitando a insegurança jurídica que seria causada por eventuais normas estaduais e municipais.
A questão ética se espalha para a internet do comportamento (IoB, do inglês internet of behavior), um conceito que define o modo como as pessoas interagem no mundo digital. Todos os usuários fornecem dados sobre comportamento, interesses e preferências através de dispositivos móveis conectados à internet das coisas: postagens nas redes sociais, compras com cartões de crédito, transferências de dinheiro, geolocalização do smartphone, escolhas de alimentos no supermercado, deslocamentos em aplicativos de transporte, frequência cardíaca em smartwatchs. Essas informações analisadas por inteligência artificial são usadas para vender produtos e influenciar decisões de compra. Mas, outra vez, podem incentivar a vigilância pública das nossas ações por agentes mal intencionados. Assim como a ética, a transparência sobre os softwares será diferencial — de onde veio o programa, como foi construído e testado, como e por quem é mantido, quem acessa os dados.