29/12/2023
Tardes quentes na Belém Brasília
Estava voltando para Belém, quando no decorrer da viagem subiu em Paraiso do Tocantins um senhor, chamado de Antônio, mas conhecido com Sarneyzinho, sujeito bem humorado, que não parou um minuto de falar.
Era uma tarde quente, o ar-condicionado do ônibus apanhava feio, e as turras com as cadeiras apertadas entre meus joelhos e as costas de um sujeito visivelmente irritado, ouvíamos as “lorotas” do seu Sarneyzinho, confesso que eu o incentiva a falar, mesmo tendo tomando dois comprimidos para dormir, eu perguntava a cada afirmação dele, e as histórias fluíram, e a distância diminuíram, vi em seu semblante alegria e as palavras dele vinham do coração.
Certamente, os demais passageiros reclamavam com o olhar, mas as vezes percebia um sorriso, meio disfarçado, meio escondido em alguns casos gargalhadas se ouviam distante.
Como disse a tarde era quente, ele estava indo para o Estreito, já do lado do Maranhão, seu Sarneyzinho foi até sua parada sem parar de falar, e eu já desmaiando de sono, devido aos remédios (corticoides) incentiva ele com gemidos quase grunhidos.
E a tarde foi se passando, algumas de suas histórias eu vou contar em outras oportunidades, pois foram tantas, e eu anotei cada uma, o que vale aqui dizer é que debatemos muitas potocas, claro, contei as minhas e ele as deles, foi um encontro de almas e de muitas gargalhadas, obrigado seu Antônio, pelas palavras sábias, de um homem corajoso, com sua bicicleta Monark de 1982, que ele insistia que era necessário trocar a coroa para um de 24, para subidas da Belém-Brasília.
Enfim, tarde quente, palavras convidativas para uma prosa divertida, povo querendo dormir e a gente lá no fundão do ônibus contando nossas histórias. Ele desceu, acenou e com um sorriso no rosto, continuou sua jornada pelas terras áridas do sertão.
Marcelo Bastos