18/09/2024
Os indígenas Guarani da Terra Indígena Jaraguá, localizada na zona noroeste de São Paulo, trouxeram de volta abelhas nativas que estavam praticamente extintas na região. A reintrodução começou há sete anos e hoje conta com 140 colméias. Além disso, o projeto também envolve o reflorestamento com árvores nativas da Mata Atlântica, essenciais para a sobrevivência dessas espécies. Márcio Verá Mirim, liderança guarani à frente da iniciativa, recebe visitantes para compartilhar conhecimentos sobre a importância do respeito e cuidado com a natureza.
Essas abelhas, que não possuem ferrão, pertencem à tribo Meliponini. Conhecidas como abelhas indígenas, desempenham um papel crucial na preservação ambiental, contribuindo para a biodiversidade e beneficiando toda a cidade.
Ao contrário do que muitos pensam, a meliponicultura — criação de abelhas sem ferrão — existe há séculos. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, aprenderam com os povos indígenas o manejo dessas abelhas. Esta é uma prática tradicional em vários biomas brasileiros, sendo cultivada por povos indígenas e comunidades tradicionais em regiões como a Amazônia, o Cerrado e a Caatinga, onde essas abelhas são fundamentais para a polinização de plantas nativas e para a manutenção dos ecossistemas locais. Sagradas para os Guarani, essas abelhas fornecem cera, usada para afastar maus espíritos, e mel e própolis, que são empregados para curar diversas doenças.
As abelhas sem ferrão desempenham um papel vital na polinização de diversas plantas, atraídas por diferentes formas, tamanhos e cores de flores. Por exemplo, a Jataí (𝘛𝘦𝘵𝘳𝘢𝘨𝘰𝘯𝘪𝘴𝘤𝘢 𝘢𝘯𝘨𝘶𝘴𝘵𝘶𝘭𝘢) poliniza as flores de jabuticabeira, abacateiro, aroeira-vermelha entre outras. Já a Uruçu-amarela (𝘔𝘦𝘭𝘪𝘱𝘰𝘯𝘢 𝘳𝘶𝘧𝘪𝘷𝘦𝘯𝘵𝘳𝘪𝘴) poliniza as flores da abóbora e jambo. A Tubuna ou canudo (𝘚𝘤𝘢𝘱𝘵𝘰𝘵𝘳𝘪𝘨𝘰𝘯𝘢 𝘣𝘪𝘱𝘶𝘯𝘤𝘵𝘢𝘵𝘢) prefere girassol, flores de cenoura, canola e erva-mate. A Mandaçaia (𝘔𝘦𝘭𝘪𝘱𝘰𝘯𝘢 𝘲𝘶𝘢𝘥𝘳𝘪𝘧𝘢𝘴𝘤𝘪𝘢𝘵𝘢) é responsável por polinizar o pimentão, a pimenta-malagueta, o tomate, a acerola e a goiabeira. A Mandaguari-amarela (𝘚𝘤𝘢𝘱𝘵𝘰𝘵𝘳𝘪𝘨𝘰𝘯𝘢 𝘱𝘰𝘴𝘵𝘪𝘤𝘢) poliniza o cajueiro, o cacau e o abacateiro, a Borá (𝘛𝘦𝘵𝘳𝘢𝘨𝘰𝘯𝘢 𝘤𝘭𝘢𝘷𝘪𝘱𝘦𝘴) as flores da mangueira e da paineira, a Mirim (𝘗𝘭𝘦𝘣𝘦𝘪𝘢 𝘥𝘳𝘰𝘳𝘺𝘢𝘯𝘢) as pitangueiras, jabuticabeiras, uvaia. A Arapuá (𝘛𝘳𝘪𝘨𝘰𝘯𝘢 𝘴𝘱𝘪𝘯𝘪𝘱𝘦𝘴) gosta das flores da mangueira, da goiabeira, do abacateiro e a Marmelada (𝘍𝘳𝘪𝘦𝘴𝘦𝘰𝘮𝘦𝘭𝘪𝘵𝘵𝘢 𝘷𝘢𝘳𝘪𝘢) poliniza flores da acerola e do eucalipto.
Essas abelhas, em sua maioria, constroem ninhos em ocos de árvores ou troncos caídos, mas também se adaptam bem a caixas de madeira. Elas são insetos eusociais, assim como formigas e cupins, o que signif**a que vivem em colônias altamente organizadas, com divisão de trabalho, sobreposição de gerações e cuidado cooperativo das larvas. As colônias são compostas por uma rainha, operárias e zangões, todos trabalhando em conjunto para garantir a sobrevivência da colmeia.
Este trabalho dos Guarani não só preserva as abelhas nativas, como também ajuda a manter o equilíbrio ecológico e reforça a importância da conservação ambiental nas grandes cidades.
Saiba mais:
Por que os Guarani da cidade de São Paulo trouxeram as abelhas nativas de volta à sua aldeia - Mongabay: https://bit.ly/4g8GfBD
Reintrodução de abelhas: iniciativa Guarani para preservar a Mata Atlântica - Mídia Ninja: https://bit.ly/4cRMfvP
Indígena guarani traz de volta abelhas nativas que haviam desaparecido do Jaraguá - Folha de S. Paulo: https://bit.ly/4cTlUh1