08/09/2024
𝗧𝗵𝗲 𝗪𝗮𝗿 𝗶𝘀 𝗮 𝗿𝗮𝗰𝗸𝗲𝘁 / 𝗔 𝗴𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗲́ 𝘂𝗺 𝗲𝘀𝗾𝘂𝗲𝗺𝗮 (𝗥𝗲𝘀𝘂𝗺𝗼)
𝗜𝗡𝗧𝗥𝗢𝗗𝗨𝗖̧𝗔̃𝗢
Na minha humilde opinião, este pequeno livro deveria ser leitura obrigatória em todas as aulas de história do ensino secundário nos Estados Unidos. War Is a Racket, escrito em 1935, continua a ser tão relevante hoje como era na altura, talvez até mais. A velha expressão "quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma" aplica-se bem à avaliação contundente de Smedley Butler, que contém uma mensagem vital a ser ouvida nos nossos dias.
Butler, um general que serviu com honra, compreende bem os soldados que lutam pelo seu país e ficou indignado com aqueles que lucram à custa do seu sacrifício. Para apreciar plenamente o que está prestes a ser lido, é importante conhecer um pouco sobre a vida de Butler. Nascido em 1881 numa família quaker proeminente na Pensilvânia, ele alistou-se nos fuzileiros navais aos dezassete anos, mentindo sobre a sua idade. Ao longo da sua carreira, participou em várias ações militares, tornando-se um dos generais mais condecorados dos EUA.
Butler criticou abertamente a exploração das guerras por interesses económicos e partilhou a sua experiência de ter atuado como "muscle man" para grandes empresas. A sua mensagem é um apelo à reflexão sobre os verdadeiros custos da guerra e os interesses que a sustentam, enfatizando a necessidade de responsabilidade e integridade na política militar.
Smedley Butler era um militar que desprezava a burocracia e trabalhava arduamente ao lado dos seus homens, ascendendo rapidamente nas fileiras. Participou em quase todas as ações militares dos EUA da sua época, incluindo a Guerra Hispano-Americana, a Rebelião dos Boxer na China e as intervenções na América Central e no Caribe, conhecidas como as "Guerras das Bananas", que visavam proteger os interesses comerciais dos EUA, como a United Fruit Company.
Aos trinta e sete anos, Butler tornou-se brigadeiro-general e, durante a Primeira Guerra Mundial, destacou-se por cuidar das condições dos seus soldados. Nos anos 20, foi diretor de segurança pública em Filadélfia, onde enfrentou a corrupção, o que lhe trouxe problemas com os poderosos da cidade. Após quase dois anos tumultuosos, resignou, afirmando que limpar Filadélfia era mais difícil do que qualquer batalha.
Na década de 1920, Butler comandou uma força expedicionária na China e foi promovido a major-general. Reconhecido como um dos melhores soldados americanos, recebeu a Medalha de Honra duas vezes. Após se retirar em 1931, tornou-se um civil que tinha estado sob fogo mais de 120 vezes.
Em 1931, fez uma declaração pública sobre a sua carreira militar, afirmando que tinha sido um "muscle man" para grandes empresas e que ajudou a proteger os interesses financeiros dos EUA em vários países da América Latina e na China. Essa revelação gerou controvérsia e Butler decidiu candidatar-se ao Senado, defendendo os veteranos da Primeira Guerra Mundial que não haviam recebido os seus bônus prometidos.
Em 1934, Butler testemunhou perante um comitê da Câmara, revelando que havia sido abordado por um grupo de corretores de Nova Iorque para liderar um movimento fascista nos EUA. Este testemunho gerou uma investigação que confirmou algumas das suas alegações, mas a investigação foi interrompida sem que os responsáveis fossem chamados a depor. A história de Butler sobre o complô fascista foi ridicularizada pela mídia, mas a investigação revelou que ele havia recebido uma oferta de suborno. A falta de ação contra os implicados levantou questões sobre a influência do poder corporativo na política americana.
O livro, escrito por Smedley Butler, aborda uma conspiração real ocorrida nos Estados Unidos durante a década de 1930, conhecida como a tentativa de golpe contra o presidente Franklin D. Roosevelt. Essa conspiração foi detalhada no livro The Plot to Seize the White House, de Jules Archer. Butler, um general altamente respeitado e condecorado, foi abordado por figuras influentes de Wall Street que se opunham ferozmente ao New Deal de Roosevelt, o qual eles viam como uma ameaça direta aos seus interesses financeiros e corporativos.
Esses poderosos, incluindo magnatas como os Rockefeller, Mellon e Pew, estavam furiosos com as reformas de Roosevelt, que visavam regular a especulação financeira, proteger os direitos dos trabalhadores, impedir execuções hipotecárias e aumentar os impostos sobre os ricos. Eles elaboraram um plano para derrubar Roosevelt, acreditando que o público poderia ser manipulado para apoiar um governo autoritário disfarçado de constitucional.
Para realizar esse golpe, eles escolheram Butler como líder, devido à sua popularidade entre os veteranos de guerra. O plano era que ele organizasse uma nova "Bonus Army"—uma grande marcha de veteranos até Washington—para criar caos e pressionar Roosevelt a transferir o poder para Butler, alegando que sua saúde debilitada o tornava incapaz de governar. Butler, no entanto, percebeu a armadilha e decidiu expor a conspiração.
Ele começou a coletar provas, trazendo um jornalista para documentar o caso, e em 1934, testemunhou perante o Comité McCormack-Dickstein da Câmara dos Representantes, revelando os detalhes do plano. Apesar das evidências contundentes, a investigação não resultou em punições para os conspiradores, que incluíam figuras influentes do setor financeiro. A mídia da época, como o The New York Times e a Time Magazine, minimizou o escândalo, retratando Butler como um alarmista.
Butler usa essa história para fazer uma crítica ao militarismo e às guerras promovidas pelos interesses financeiros, refletindo sobre como aqueles que promovem conflitos raramente enfrentam as consequências diretas de suas decisões. Ele sugere que, para evitar que decisões de guerra sejam tomadas de forma tão leviana, qualquer político que vote a favor de um conflito deveria ter um membro da sua família obrigado a servir nas forças armadas, garantindo assim que sintam pessoalmente o impacto de suas ações.
O texto conclui com Butler exaltando a importância de seu livro War Is a Racket, no qual ele denuncia a corrupção e o oportunismo que impulsionam as guerras. Butler acredita que sua mensagem ainda é extremamente relevante, e que os jovens deveriam conhecer e refletir sobre sua história, assim como fazem com outras figuras históricas americanas como Washington e Lincoln. Ele enfatiza que os ricos e poderosos muitas vezes agem em benefício próprio, e que a conscientização sobre isso é crucial para impedir futuras manipulações e abusos.
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭: 𝗔 𝗚𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮 𝗲́ 𝘂𝗺𝗮 𝗙𝗿𝗮𝘂𝗱𝗲
Smedley Butler começa o livro com a poderosa declaração de que "a guerra é uma fraude". Ele afirma que a guerra, ao longo da história, tem sido utilizada como um esquema para enriquecer uma pequena elite, enquanto o custo em vidas humanas e sofrimento é pago pela grande maioria. Butler descreve a guerra como o esquema mais antigo, mais lucrativo e mais cruel da humanidade, conduzido por aqueles que conhecem os verdadeiros motivos por trás dos conflitos. Ele critica a forma como as guerras são frequentemente justificadas com argumentos patrióticos, como a defesa da liberdade ou da democracia, quando na realidade são motivadas pela ganância e pela busca desenfreada por lucros. Butler usa a Primeira Guerra Mundial como exemplo, mostrando como um pequeno grupo de industriais e banqueiros enriqueceu imensamente, enquanto milhões de soldados morreram ou ficaram gravemente feridos.
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮: 𝗤𝘂𝗲𝗺 𝗟𝘂𝗰𝗿𝗮?
Neste capítulo, Butler examina em detalhe como as grandes corporações e indústrias lucram enormemente com a guerra. Ele fornece exemplos concretos de empresas que multiplicaram os seus lucros durante a Primeira Guerra Mundial. Por exemplo, a DuPont, que tinha lucros anuais de cerca de 6 milhões de dólares antes da guerra, viu os seus lucros aumentarem para 58 milhões de dólares anuais durante o conflito. Butler também cita outras indústrias, como as de aço e de munições, que tiveram aumentos significativos nos lucros. Ele critica a hipocrisia dessas empresas, que justificam seus lucros sob o manto do patriotismo, enquanto os soldados que arriscam suas vidas na linha de frente recebem salários miseráveis. Butler destaca a disparidade entre os ganhos astronómicos dessas corporações e os sacrifícios feitos pelos soldados, argumentando que a guerra é essencialmente um grande negócio para alguns, às custas do sofrimento de muitos.
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟯: 𝗤𝘂𝗲𝗺 𝗣𝗮𝗴𝗮 𝗮 𝗖𝗼𝗻𝘁𝗮?
Butler discute quem realmente paga o preço da guerra: os soldados e os cidadãos comuns. Ele descreve o sofrimento físico e mental dos veteranos que retornam dos campos de batalha, muitos dos quais acabam esquecidos em hospitais ou asilos. As suas famílias também suportam o peso da guerra, tanto emocionalmente quanto financeiramente, enquanto os industriais que lucraram com o conflito continuam a viver em luxo. Butler critica o governo por manipular os soldados, incentivando-os a comprar títulos de guerra que depois desvalorizam, resultando em grandes perdas para os soldados e em lucros para os banqueiros. Ele destaca que o custo da guerra vai muito além das vidas perdidas, incluindo também a dívida nacional que sobrecarrega a economia por gerações, e os impostos que pesam sobre a população. Butler argumenta que a guerra é uma troca desigual, onde a maioria paga a conta enquanto uma minoria colhe os frutos.
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟰: 𝗖𝗼𝗺𝗼 𝗔𝗰𝗮𝗯𝗮𝗿 𝗰𝗼𝗺 𝗘𝘀𝘁𝗮 𝗙𝗿𝗮𝘂𝗱𝗲?
Neste capítulo crucial, Butler apresenta suas propostas para acabar com a exploração e o lucro da guerra. Ele acredita que a chave para acabar com a guerra como um negócio lucrativo é remover o incentivo financeiro que a sustenta. Para isso, ele propõe várias medidas:
𝑪𝒐𝒏𝒔𝒄𝒓𝒊𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒆 𝑪𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝒍 𝒆 𝑰𝒏𝒅𝒖́𝒔𝒕𝒓𝒊𝒂: Butler sugere que, antes de o governo conscrever jovens para a guerra, deve primeiro conscrever o capital, a indústria e o trabalho. Ele propõe que os executivos de empresas, industriais, banqueiros e todos os que lucram com a guerra sejam obrigados a trabalhar pelo mesmo salário que os soldados, que na época era de 30 dólares por mês. Se aqueles que tradicionalmente lucram com a guerra fossem tratados como os soldados, recebendo um salário mínimo e sem a possibilidade de acumular lucros, o apetite pela guerra diminuiria drasticamente.
𝑰𝒈𝒖𝒂𝒍𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒆 𝑺𝒂𝒄𝒓𝒊𝒇𝒊́𝒄𝒊𝒐𝒔: Butler defende que todos os trabalhadores das indústrias envolvidas na produção de material bélico, assim como os diretores, executivos e políticos, deveriam receber o mesmo salário que os soldados na linha de frente. Além disso, ele sugere que essas pessoas também deveriam ser obrigadas a pagar metade desse salário às suas famílias, e a comprar seguros de guerra e títulos do governo, tal como os soldados. Se todos compartilhassem os mesmos sacrifícios, a guerra se tornaria menos atraente para aqueles que normalmente lucram sem riscos. Sugere ainda que, para evitar que decisões de guerra sejam tomadas de forma tão leviana, qualquer político que vote a favor de um conflito deveria ter um membro da sua família obrigado a servir nas forças armadas, garantindo assim que sintam pessoalmente o impacto de suas ações
𝑷𝒍𝒆𝒃𝒊𝒔𝒄𝒊𝒕𝒐 𝑹𝒆𝒔𝒕𝒓𝒊𝒕𝒐 𝒔𝒐𝒃𝒓𝒆 𝒂 𝑫𝒆𝒄𝒍𝒂𝒓𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒆 𝑮𝒖𝒆𝒓𝒓𝒂: Butler propõe que, antes de qualquer declaração de guerra, deveria ser realizado um plebiscito restrito, onde apenas aqueles que seriam chamados para lutar e morrer na guerra teriam o direito de votar. Ele argumenta que não faz sentido permitir que pessoas que não serão diretamente afetadas pela guerra, como empresários e políticos de idade avançada, decidam sobre o destino daqueles que terão que lutar. Apenas aqueles que estariam na linha de frente deveriam ter o poder de decidir se a nação deve ou não entrar em conflito.
𝑳𝒊𝒎𝒊𝒕𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒂𝒔 𝑭𝒐𝒓𝒄̧𝒂𝒔 𝑴𝒊𝒍𝒊𝒕𝒂𝒓𝒆𝒔 𝒂̀ 𝑫𝒆𝒇𝒆𝒔𝒂 𝑵𝒂𝒄𝒊𝒐𝒏𝒂𝒍: Butler sugere que as forças militares dos Estados Unidos devem ser limitadas exclusivamente a funções de defesa nacional. Ele critica as manobras militares que ocorrem longe das costas americanas, sugerindo que essas ações provocam outras nações e aumentam o risco de conflito. Butler defende que os navios da Marinha dos EUA deveriam ser restritos a uma distância de 320 km (200 milhas) da costa dos EUA e que os aviões militares deveriam ser limitados a 800 km (500 milhas) da costa, garantindo que as forças armadas sejam usadas apenas para defesa, e não para agressões ou expansões territoriais.
𝑹𝒆𝒔𝒑𝒐𝒏𝒔𝒂𝒃𝒊𝒍𝒊𝒛𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐 𝒅𝒐𝒔 𝑳𝒊́𝒅𝒆𝒓𝒆𝒔: Butler também sugere que, para acabar com a guerra, é necessário que as pessoas exijam que os seus líderes eleitos ajam em seu nome e não em nome dos lucros dos ricos. Ele argumenta que, enquanto o capital tiver influência sobre os governos, as guerras continuarão a ser uma opção lucrativa. Portanto, é essencial que o povo faça ouvir sua voz e pressione os seus representantes a tomar decisões que beneficiem a maioria e não os poucos que lucram com o conflito.
𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟱: 𝗤𝘂𝗲 𝘀𝗲 𝗟𝗶𝘅𝗲 𝗮 𝗚𝘂𝗲𝗿𝗿𝗮!
No capítulo final, Butler expressa o seu ceticismo sobre a possibilidade de acabar com a guerra, mas enfatiza que a sociedade deve estar consciente de quem realmente se beneficia dos conflitos e deve opor-se ativamente à guerra. Ele descreve como, mesmo após a Primeira Guerra Mundial, os esforços de desarmamento e as conferências de paz foram sabotados pelos interesses daqueles que lucram com a guerra. Butler critica a hipocrisia dos líderes que, publicamente, afirmam buscar a paz enquanto, nos bastidores, continuam a preparar-se para futuros conflitos. Ele alerta que, enquanto a população não se mobilizar contra a guerra e os seus lucros, o ciclo de conflito e destruição continuará. Butler encerra o livro com um apelo para que a sociedade rejeite a guerra e se concentre na construção de uma paz duradoura, argumentando que a paz, e não a guerra, é o verdadeiro caminho para a prosperidade e o bem-estar de todas as nações.
Este resumo detalhado reflete as críticas incisivas de Butler à guerra e ao complexo industrial-militar, e as suas propostas concretas para remover o lucro da guerra e criar as condições para um mundo mais justo e pacífico.