14/10/2024
Reflexão:
O ESTRANHO NAMORADO
(História sombria)
Esther, 24 anos, uma garota que depois de conhecer um amigo pelo Facebook e conversar no Messenger por quase um ano, sentiu que se conheciam o suficiente para se encontrarem pessoalmente.
Era uma sexta-feira, de uma noite gelada de chuva e até as horas pareciam congelar. Eles se encontraram num bar, que estava pouco movimentado, certamente por causa do clima.
Ela usava jeans e um casaco vermelho. Ele estava vestido todo de preto e "não arrancou" o olhar do chão, fazendo com que o seu cabelo, liso e comprido até os ombros, lhe cobrisse boa parte do rosto.
A recebeu, puxou-lhe uma cadeira e sentou-se na frente dela, com o olhar para baixo e fixamente para a mesa.
A noite foi muito curta, porque depois de beber alguns vinhos, Esther estava entediada, porque ele não olhava prá ela e se mantinha em silêncio (ao contrário de suas constantes e divertidas conversas no Messenger). Ela propôs que terminassem a noite e se despedissem.
Pela primeira vez, ele resolveu dizer alguma coisa, num tom quase cavernoso e muito pausadamente:
"– Estou de carro!... Por favor, permita-me levá-la para casa... ou para onde quiser!"
Ela quis recusar, mas pensou que seria uma descortesia. Além disso, Esther queria aproveitar o fato dele, finalmente, ter se encorajado à falar com ela, mesmo que sua voz soasse de forma estranha. Depois de alguns segundos, ela concordou.
A chuva havia parado e eles caminharam silenciosos por duas quadras, até que ele parou ao lado de um "carro fúnebre" antigo, mas em estado impecável de conservação. Ela perguntou:
"– Tá de brincadeira, né?"
Sem responder, ele tirou as chaves do bolso, desativou o alarme, abriu a porta do passageiro, tirou um caderno que estava no assento e, sem olhar prá ela, a convidou entrar.
Esther passou a pensar então, que "o interessado" seria um agente funerário, já que ela não sabia no quê ele trabalhava. Sem reação, ela entrou mas, assim que ele ligou o motor, arrancou em disparada, cuja alta velocidade só não bateu em nada porque, por onde passavam, as ruas estavam incrivelmente desertas.
E, para aumentar ainda mais a tensão, Esther percebeu que na parte de trás, estava um caixão preto! Ele reconheceu o pânico dela e, apontando para o caixão, disse-lhe:
"– É aqui que eu moro e é aqui que eu durmo!"
Ela quis gritar, mas se engasgou na própria saliva, pondo-se à tossir sem parar. Tentou abrir sua porta mas estava trancada e, além disso, o carro não baixava a velocidade.
Sem precisar dar-lhe o endereço, ele travou bruscamente em frente à casa da jovem, dizendo audaciosamente:
"– Um beijo de boa noite!"
Disse isso, já rodeando-lhe a nuca de Esther com sua mão esquelética, aprisionando-a para ele, fazendo com que seus lábios frios e secos se apossassem sobre os lábios suaves e rosas dela.
Esther sentiu na hora, um fedor repulsivo e um arrepio percorrer-lhe pelo corpo. Olhou-o nos olhos e encontrou apenas dois buracos vazios em um rosto cadavérico. Ele começou a rir muito, emitindo um eco cada vez mais alto e sinistro.
Ao ver que não estava conseguindo nenhuma reação de Esther, ele a empurrou para fora do carro fúnebre e arrancou violentamente, deixando o local em alta velocidade e sumindo em segundos.
Ao ouvir o barulho, a mãe de Esther saiu correndo para ajudar a filha, pálida, deitada no chão e repetindo sem parar:
"– Ele é morto, ele é morto, ele é morto e ainda por cima me beijou!"
E assim, Esther passou o fim de semana sem comer, sem dormir e a sussurrar a mesma frase sem parar. Sem conseguir acalmar ou controlar a filha, sua mãe buscou ajuda médica que, prontamente, foi encaminhada para um hospital psiquiátrico.
Dois meses depois, Esther teve alta hospitalar e o médico, Dr. Márcio, diante do histórico da baixa, resolveu opinar:
"– Isso tudo, com certeza, foi um alerta para a ingenuidade de um encontro com pessoa desconhecida.
De acordo com Você mesma, foi apenas "um estranho namorado". Grande parte das mulheres, nesse tipo de encontro, são estupradas e até assassinadas.
Custou-lhe uma internação psiquiátrica, mas Você está aí, sã e salva!"
E a partir daí, Esther nunca mais quis saber de envolvimentos online, como tão pouco entender àquele... "estranho namorado".
Todo cuidado é pouco, meninas e também vocés, os homens!
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Da obra "Sentirás Escalofrios", Medellín, Colômbia. Tradução, adaptação e pesquisa: Sérgio Gitel. Foto meramente ilustrativa.