28/12/2023
Analistas defendem investigação da PGR ao irmão do Presidente de Angola. A aquisição "duvidosa" de três aviões da Sonangol, bem como a aproximação a figuras suspeitas do regime de Kinshasa estão sob escrutínio público.
As denúncias são de uma investigação conjunta do semanário português Expresso, do congolês Actualité e da Plataforma para Proteção dos Denunciantes em África (PPLAAF), com sede em Paris, França.
Segundo as investigações, o general Cerqueira João Lourenço, que é irmão do Presidente angolano e que foi nomeado este ano chefe adjunto da Casa Militar da Presidência da República, adquiriu três aviões da Sonangol e transferiu-os para República Democrática do Congo (RDC) de forma duvidosa.
Presidente deveria estimular PGR a investigar
O tema foi tornado público na segunda quinzena deste mês e continua a gerar debate em Angola. Para o jornalista Ilídio Manuel, a Procuradoria-Geral da República (PGR) já deveria ter investigado estas denúncias.
"O Presidente da República também devia estimular este tipo de investigações, uma vez que ele hasteou o combate à corrupção como a sua bandeira de luta", comentou à DW África.
"Ele tinha de demonstrar que não foram apenas aqueles que chama de marimbondos do ex-Presidente da República que estão envolvidos em atos de corrupção, mas também da sua governação", acrescentou.
Nkinkinamo Tussamba, docente universitário e especialista em relações internacionais, lembra que os "crimes não são transmissíveis" e, por isso, apela à "separação das águas".
"Não sendo transmissíveis, não podemos aqui olhar para pessoa do General Cerqueira como se estivéssemos a olhar para o Presidente João Lourenço. É bom que isso fique claro", asseverou.
Falta de informação
Para o especialista angolano Nkinkinamo Tussamba, a PGR deveria informar a sociedade sobre este ca*o.
"Ausência de informação vai dando a*o a especulação. E isso, sim, é que nos preocupa", considerou.
"É preciso aqui apelarmos à cultura de informar. Informar a sociedade, informar a população porque é o nosso direito. Nós precisamos de ser informados para fugirmos do campo da especulação", opinou ainda.
A DW África tentou ouvir a PGR, mas sem sucesso.
Este ca*o sobre alegada corrupção surge numa altura em que o Comité Técnico Especializado de Justiça e Assuntos jurídicos da União Africana (UA) aprovou, este mês, a proposta de Angola sobre prevenção e combate à corrupção.
A iniciativa visa reforçar a eficácia do Conselho Consultivo da União Africana para o Combate à Corrupção. No entanto, surgem agora dúvidas sobre a eficácia dessa medida.
"Só poderá ajudar ou não Angola no campo de investigação sobre este ca*o quando houver, de facto, alguma manifestação pública da PGR no sentido de investigar este ca*o. Não havendo uma manifestação pública, não havendo uma solicitação oficial da PGR angolana, pensamos que, este processo, não existe", conclui Nkinkinamo Tussamba.