10/11/2022
Um Rumor Devastador
O dia tinha corrido bem até ao momento. Asgard vivia dias pacíficos, Midgard estava a salvo de malfeitores e eu estava presente em mais uma festa épica onde mead escorria como água e desafios de força ocorriam num piscar de olhos. Como disse tudo corria bem até que um rumor, rápido como fogo florestal, se espalhou pelos salões dourados de Asgard e chegou aos meus ouvidos. ‘Um gigante de gelo capaz de derrotar o poderoso Thor!’ A minha reacção inicial foi rir até o meu maxilar doer, um riso estrondoso que ecoou pelos salões e que silenciou a música e forçou toda a gente virar-se para mim. Certamente alguns acharam que tinha perdido o juízo à custa da quantidade copiosa de mead que já tinha bebido. Outros f**aram com a impressão de que Loki me tinha contado a sua última tentativa de piada. A verdade é que a ideia que havia alguém capaz de me derrotar em combate singular, quanto mais um gigante do gelo, enchia a minha mente de humor. Chamando o meu valente e leal martelo, Mjolnir, decidi entreter este rumor humorístico e viajar via Bifrost para Jotunheim e provar, por uma vez por todas, que ninguém vence o poderoso filho de Odin. “Se alguém acha que consegue vencer Thor, Thor vai-lhes mostrar o quão enganados estão!” Anunciei enquanto me levantava da cadeira em que tinha estado sentado e saía vigorosamente do salão onde decorria uma das muitas festas dessa noite em Asgard.
Após ter convencido Heimdall a abrir a Bifrost para mim e a guardar segredo da minha viagem, não fosse Odin saber que estava a sair de Asgard para um reino cujas relações connosco sempre foram pouco amigáveis. A transmissão entre Asgard e Jotunheim foi quase instantânea e a ligação entre os reinos imediatamente interrompida. Eu estava sozinho num reino hostil e sem possibilidade de receber reforços caso algo acontecesse de errado. Não que eu esperasse ter algum tipo de problema, afinal, quem pode vencer o Thor? Certamente não seria nenhum dos habitantes deste reino de tundras infindáveis e temperaturas abaixo de zero. Um mortal teria congelado em segundos neste tipo de ambiente, mas eu, Thor, um deus de Asgard, não padeço desses males. Deixando cair o meu martelo e assumindo uma postura confiante esperei pela chegada do meu primeiro opositor. Segundos tornaram-se minutos, minutos transformaram-se em horas e a minha paciência ameaçava esgotar-se. Usando a minha incrível capacidade pulmonar, gritei um desafio aos habitantes do reino dos gigantes de gelo. “Queriam o Thor? Pois Thor está aqui. Que se apresente aquele que acha que me pode derrotar.” O anunciar da minha presença quebrou a ventania desenfreada que sempre se sentiu neste reino gélido, mas pouco fez, aparentemente, para trazer à minha presença, quem tinha lançado o desafio. Voltando a pegar no Mjolnir, usei a minha leal arma e invoquei o trovão, uma força elemental raramente vista e sentida em Jotunheim e que perturbou mais aquele reino do que a minha voz conseguiu. Depois disto não tive de esperar muito pela chegada dos meus vis opositores.
“Enfrentai agora Thor, deus do trovão e vede que não sois forte o suficiente para o filho de Odin.” Um gigante de gelo é uma criatura curiosa, com aspecto humanoide, mas com um tamanho cinco vezes maior. Uma criatura totalmente coberta de gelo e armada com uma moca de tamanho descomunal. Cinco destes gigantes anunciaram a sua presença com um rugido atroador e pelos tremores no solo gélido de Jotunheim com cada passada sua. O primeiro acercou-se da minha presença, elevando a sua moca acima da sua cabeça, preparando um golpe que me poderia esborrachar, mas eu estava preparado. “POR ASGARD” berrei eu enquanto com um prodigioso salto, ascendi acima do gigante de gelo e com um golpe vigoroso do meu fiel martelo, estilhacei completamente o meu adversário. E assim continuei. Todos os gigantes que se apresentaram à minha frente, foram prontamente derrotados. A fila de adversários parecia infindável, mas para mim não era importante, não havia nenhum que me pudesse derrotar. Não fossem eles estilhaçarem, estaria a combater numa montanha cada vez mais alta, mas felizmente isso não era uma preocupação. Já combatia há horas e, até para um deus como eu, o cansaço acumulado tornava os meus movimentos mais lentos, mais previsíveis e os gigantes não tinham fim. Eventualmente, após arremessar Mjolnir para destruir mais um vilão, vi-me preso contra o chão por quatro gigantes. Incapaz de me mexer e de chamar o meu martelo de volta, apercebi-me do verdadeiro perigo em que me encontrava, pois, um quinto gigante preparava-se para pulverizar a minha cabeça. “Não és nada sem o teu martelo, Asgardiano. Agora morre e deixa-nos em paz.” Esse mesmo gigante grunhiu enquanto um sorriso malévolo se desenhava no seu rosto. “Pensais porventura que Thor é o deus dos martelos? Estais muito enganadas vis criaturas, Thor é o deus do trovão!” E com esta declaração invoquei o maior relâmpago alguma vez visto e sentido em Jotunheim. Com os meus mais imediatos adversários derrotados, chamei o meu martelo de volta. “Mjolnir a mim.”
Mais gigantes já se acercavam, mas ao longe, algo bem maior e muito mais perigoso se aproximava de mim. “Que faz aqui um Asgardiano a combater os meus súbditos quando Jotunheim e Asgard estão em paz?” A voz de Laufey troou aos meus ouvidos e foi aí que uma súbita revelação se revelou. Embora o rumor pudesse se ter espalhado por Asgard até chegar aos meus ouvidos, não passava de uma perfídia, uma tentativa de fazer com que eu invadisse Jotunheim. Laufey podia ter muitos defeitos, isso era certo, mas não usava a mentira como uma arma. “Rei Laufey…” Eu tentei começar uma explicação, sabendo que não tinha grandes argumentos, mas fui rapidamente interrompido. “Silêncio Asgardiano. A tua punição é a morte e com ela saberás que deste inicio a uma guerra que irá destruir Asgard.” A situação era delicada e apesar do meu gosto pelo combate, não queria iniciar uma guerra entre os nossos dois reinos, sabendo o custo que isso iria trazer para Asgard e para o Universo. Mesmo assim, preparei-me para combater com esforços redobrados, se estes gigantes e o seu rei achavam que iria-me render, iriam aprender que isso nunca aconteceria. “Isso não irá ser necessário.” Uma voz muito familiar declarou antes que o combate se renovasse. Senti o Mjolnir a ser puxado do meu aperto e foi mesmo levado até à mão Odin, pai dos deuses. “Esta incursão não foi sancionada por Odin. Thor f**ará cem anos como refém em Jotunheim para reparar os danos que foram hoje causados. Mas f**a sabendo Laufey, se iniciares uma guerra contra Asgard ou o meu filho for morto enquanto f**ar como teu refém, Jotunheim deixará de ser um dos Nove Reinos, pois será totalmente destruído.” Tentei cruzar o olhar com Odin mas o meu pai evitou todos os meus esforços. Conseguia sentir no seu tom de voz e na sua postura a raiva disfarçada pelas minhas acções. Nunca me tinha sentido tão impotente como neste momento, sem o Mjolnir, exilado de Asgard, obrigado a f**ar num reino hostil, o mesmo que tinha levado a atacar por causa dum rumor. Mas Thor não se rende e Thor sairá por cima. Com os pulsos presos, segui a longa procissão de gigantes até ao castelo de Laufey. Cem longos anos me esperavam pela frente.
Fim?