InComunidade

InComunidade http://www.incomunidade.com Editor:
515 - Cooperativa Cultural, CR
ISSN 2182-7486

A InComunidade é uma publicação mensal de pensamento e criação que aborda áreas como a Política, a Economia, o Direito, Ciência, etc. , não havendo limitação de temas, excepto se atentarem contra a dignidade humana.

Em comemoração ao Dia de Luís Vaz de Camões, ao dia de Portugal e das comunidades lusófonas, às 14h do Brasil e 18h de P...
10/06/2024

Em comemoração ao Dia de Luís Vaz de Camões, ao dia de Portugal e das comunidades lusófonas, às 14h do Brasil e 18h de Portugal :

Dia de Camões,  comemorações dos 500 anos da sua morte
10/06/2024

Dia de Camões, comemorações dos 500 anos da sua morte

A PAZ SEM VENCEDORES E SEM VENCIDOSDai-nos Senhor a paz que vos pedimosA paz sem vencedor e sem vencidosQue o tempo que ...
09/06/2024

A PAZ SEM VENCEDORES E SEM VENCIDOS

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Sophia de Mello Breyner Andresen
In “Dual”

09/06/2024

Para onde vai a minha vida, e quem a leva?
Porque faço eu sempre o que não queria?
Que destino contínuo se passa em mim na treva
Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia?

O meu destino tem um sentido e tem um jeito,
A minha vida segue uma rota e uma escala,
Mas o consciente de mim é o esboço imperfeito
Daquilo que faço e que sou; não me iguala.

Não me compreendo nem no que, compreendendo, faço.
Não atinjo o fim ao que faço pensando num fim.
É diferente do que é o prazer ou a dor que abraço.
Passo, mas comigo não passa um eu que há em mim.

Quem sou, senhor, na tua treva e no teu fumo?
Além da minha alma, que outra alma há na minha?
Porque me destes o sentimento de um rumo,
Se o rumo que busco não busco, se em mim nada caminha

Senão com um uso não meu dos meus passos, senão
Com um destino escondido de mim nos meus atos?
Para que sou consciente se a consciência é uma ilusão?
Que sou eu entre quê e os factos?

Fechai-me os olhos, toldai-me a vista da alma!
Ó ilusões! se eu nada sei de mim e da vida,
Ao menos goze esse nada, sem fé, mas com calma,
Ao menos durma viver, como uma praia esquecida...

5-6-1917

Fernando Pessoa

“Fernando Pessoa II”, pintura de Josep Plaja

Feira nordestina, 1951Di Cavalcanti
02/06/2024

Feira nordestina, 1951
Di Cavalcanti

02/06/2024
Cecília é o caso de poesia total. Cecília é o próprio nome da poesia. Riqueza verbal e espiritual. E nobre por fora e po...
31/05/2024

Cecília é o caso de poesia total. Cecília é o próprio nome da poesia. Riqueza verbal e espiritual. E nobre por fora e por dentro. Não participa nunca das coisas menos elevadas. Não tem deficiências. E poesia no sentido universal. Tem coisas que não se encontram em nenhum outro.”
– Carlos Drummond de Andrade, em “Pedro Bloch entrevista”. (Grandes Entrevistas Manchete). BLOCH, P.. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.

“A arte de ser feliz”

Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu f**ava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma f**ava completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda. À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava história. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que ouvisse, não entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu que não participava do auditório imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela se abria para uma cidade que parecida feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração f**ava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos: que sempre parecem personagens de Lope da Vega. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outras dizem que essas coisas só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

* Crônica extraída do Livro “Escolha o seu sonho” de Cecília Meireles. 4ª ed., Rio de Janeiro: Global Editora, 2016.

Editora da autora Cecília Meireles
Global Editora

Saiba mais sobre Cecília Meireles:

Cecília Meireles – poemas e outros versos
Cecília Meireles – vida e obra
Cecília Meireles – fortuna crítica
Cecília Meireles – batuque, samba e macumba
Cecília Meireles – poesia para crianças

“Cecília, és libérrima e exata; como uma co**ha. / Mas a co**ha é excessiva matéria … / E a matéria mata. / Cecília, és tão forte e tão frágil; como onda ao termo da luta. / Mas a onda é água que afoga. / Tu, não, és enxuta. / Cecília, és como o ar, diáfana. / Mas o ar tem limites. / Tu, quem te pode limitar? Definição: / Co**ha, mas de orelhas; / água, mas de lágrimas;/ ar com sentimentos;/ brisa, viração de asa de uma abelha.”
– Manuel Bandeira, em “Pedro Bloch entrevista”. (Grandes Entrevistas Manchete). BLOCH, P.. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1989.

Aniversariante do dia: WALT WHITMANCanção de mim mesmo (Song of Myself) Eu celebro a mim mesmo,E o que eu assumo você va...
31/05/2024

Aniversariante do dia: WALT WHITMAN

Canção de mim mesmo (Song of Myself)

Eu celebro a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.
Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade.... Observando uma lâmina de grama do verão.
Casas e quartos se enchem de perfumes.... As estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também, mas não deixo.
A atmosfera não é nenhum perfume.... Não tem gosto de destilação .... é inodoro,
É p’ra minha boca apenas e p’ra sempre.... Estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco p’ra que ela faça contato comigo.
A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros.... raiz de amaranto, fio de seda, forquilha e
videira,
Minha respiração minha inspiração.... a batida do meu coração.... Passagem de sangue e
ar por meus pulmões,
O aroma das folhas verdes e das folhas secas, da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz.... Palavras disparadas nos redemoinhos do
vento,
Uns beijos de leve.... alguns agarros.... o afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores enquanto oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas, ou pelos campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar .... apito do meio-dia .... a canção de mim mesmo se erguendo da
cama e cruzando com o sol.
[...]
Uma criança disse, O que é a relva? Trazendo um tufo em suas mãos;
O que dizer a ela?.... Sei tanto quanto ela o que é a relva.
Vai ver é a bandeira do meu estado de espírito, tecida de uma substância de esperança
verde.
Vai ver é o lenço do Senhor,
Um presente perfumado e o lembrete derrubado por querer,
Com o nome do dono bordado num canto, p’ra que possamos ver e examinar, e dizer
É seu ?
[...]
O blablablá das ruas.... Rodas de carros e o baque das botas e papos dos pedestres,
O ônibus pesado, o cobrador de polegar interrogativo, o tinir das ferraduras dos cavalos
no chão de granito.
O carnaval de trenós, o retinir de piadas berradas e guerras de bolas de neve ;
Os gritos de urra aos preferidos do povo.... O tumulto da multidão furiosa,
O ruflar das cortinas da liteira — dentro um doente a caminho do hospital,
O confronto de inimigos, súbito insulto, socos e quedas,
A multidão excitada — o policial e sua estrela apressado forçando passagem até o centro
da multidão;
As pedras impassíveis levando e devolvendo tantos ecos,
As almas se movendo.... Será que são invisíveis enquanto o mínimo átomo é visível ?
Que gemidos de glutões ou famintos que esmorecem e desmaiam de insolação ou de
surtos,
Que gritos de grávidas pegas de surpresa, correndo p’ra casa p’ra parir.
Que fala sepulta e viva vibra sempre aqui.... quantos uivos reprimidos pelo decoro,
Prisões de criminosos, truques, propostas indecentes, consentimentos, rejeições de lábios
convexos.
Estou atento a tudo e as suas ressonâncias.... Estou sempre chegando.
[...]
Sou o poeta do corpo.
E sou o poeta da alma.
[...]
WHITMAN, Walt. Folhas de relva: a primeira edição. Trad. Rodrigo Garcia Lopes. São
Paulo: Iluminuras, 2005.

Viva Isadora Duncan, a bailarina dos pés nus, nossa aniversariante do dia !"Cheguei a me convencer de que a atmosfera co...
29/05/2024

Viva Isadora Duncan, a bailarina dos pés nus, nossa aniversariante do dia !

"Cheguei a me convencer de que a atmosfera constante de luxo nos leva à neurastenia".

27 de maio de 1878
Natalicio de Isadora Duncan

"Tenho de Havana outra memória interessante. Numa noite de festa em que todos os cabarets estavam cheios de animação, depois do nosso passeio habitual à beira-mar, chegamos a um café típico de Havana. Eram cerca de 3 da manhã. (... ). Nós sentamos em uma mesinha do quarto do piso baixo, mal iluminada e com uma atmosfera carregada pelo fumo do tabaco. Olhei para um homem pálido e alucinado, bochechas cadavéricas, olhos ferozes. Com seus dedos longos e finos tocava as teclas de um piano. Fiquei surpreso ao ouvir os “Prelúdios” de Chopin, tocados com arte maravilhosa. Olhei para ele por um tempo e depois aproximei-me dele, mas não conseguia pronunciar nada além de palavras incoerentes. Meu ademão chamou a atenção de todo o café e como eu sabia que era completamente desconhecida, fiquei com o desejo fantástico de dançar para aquela rara participação. Enrolei-me na capa, dei algumas instruções ao pianista e dancei ao ritmo de alguns dos “Prelúdios”. Os bebedores f**aram calados, e como eu continuava dançando, avisei que não só tinha conquistado a atenção deles, mas que muitos deles estavam chorando. O próprio pianista acordou da sua embriaguez de morfina e tocou com mais inspiração.”

"Eu estava dançando até a manhã seguinte, e quando saí fui abraçado. Sentia-me mais orgulhosa do que em qualquer teatro, porque compreendia que aquela era uma prova ef**az do meu talento, sem o concurso de nenhum empresário, nem de anúncios que chamassem a atenção do grande público”.

-Isadora Duncan
[Minha vida]

Angela Isadora Duncan (San Francisco, 27 de maio de 1878 - Nice, 14 de setembro de 1927), conhecida como Isadora Duncan, foi uma bailarina e coreógrafa americana, considerada por muitos como a criadora da dança contemporânea.

Ela explorou a capacidade das novas tecnologias, dançando em uma nuvem de seda iluminada pelos novos sistemas elétricos da iluminação teatral. Ele usou os ideais da antiga arte grega para inspirar formas mais naturais de dança. Ele fez uso do corpo humano como instrumento de expressão emocional. Sua vida e sua morte fizeram dela uma figura mítica da dança. Filha de um casamento infeliz, cresceu ao abrigo do carinho e desenvolveu uma inclinação precoce para a dança. Na sua autobiografia, intitulada Minha vida, escreveu: «Nasci na beira-mar. Minha primeira ideia de movimento e dança veio certamente do ritmo das ondas... ».


A bailarina dos pés nus
Ruben Dário

Ia, em um passo rítmico e felino.
a avanços doces, ágeis ou rudes,
com algum animal e divino.
a bailarina dos pés nus.

Sua saia era a saia das rosas.
Nos seus seios havia dois escudos...
Constelada de casos e coisas...
A bailarina dos pés nus.

Mil deleites desciam dos seios para a pérola afundada do umbigo.
e iniciavam propósitos obscenos.
açúcares de morango e mel de figo.

Do lado da cadeira gestatória
estavam meus palhaços e meus mudos...
E foi tudo Selene e Anactoria.
a bailarina dos pés nus!

-Ruben Dário


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Isadora Duncan (1878-1927)🇺🇸

LiteraturaExcertos de “Triste fim de Policarpo Quaresma” de Lima BarretoPor Revista Prosa Verso e Arte - Afonso Henrique...
28/05/2024

Literatura
Excertos de “Triste fim de Policarpo Quaresma” de Lima Barreto
Por Revista Prosa Verso e Arte -


Afonso Henriques de Lima Barreto, escritor carioca, o “romancista da Primeira República”, como é hoje considerado, foi um crítico severo da vida nesse período, retratada com sarcasmo em sua obra. Nela, expôs a mediocridade da burguesia nascente e o cotidiano miserável nos subúrbios do Rio de Janeiro. Mulato de origem pobre, teve muitas dificuldades para publicar seus livros. O primeiro foi Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), lançado seis anos antes do clássico O triste fim de policarpo Quaresma (1915), sobre o destino tragicômico de um homem ingênuo e patriota em quixotesca luta contra a corrupção dos políticos.

TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA
Publicado originalmente em 52 folhetins do Jornal do Comércio – Rio de Janeiro/RJ, na edição da tarde, entre 11 de agosto a 19 de outubro de 1911. A edição em livro sai pela Typ. ‘Revista dos Tribunaes’, em 1915, a obra comprova a incompetência dos políticos brasileiros através dos tempos, o que lhe dá uma atualidade surpreendente e um caráter profético ao seu autor. Clássico da literatura brasileira, Triste fim de Policarpo Quaresma denuncia os males da sociedade brasileira da época (!): a burocracia das repartições públicas, o clientelismo, a bajulação, a injustiça social, o problema da terra, etc. Neste enredo surge um D. Quixote nacional, o Major Policarpo Quaresma. Visionário e patriota, o personagem encarna a luta pela grandeza do país. Um motivo mais do que suficiente para acabar muito mal…

“Saiu o major mais triste ainda do que vivera toda a vida. De todas as cousas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.” – Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Brasiliense, 1956.

§§

“Desde os dezoito anos, que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Brasiliense, 1956.

revistaprosaversoearte.com - Excertos de "Triste fim de Policarpo Quaresma" de Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto – escritor
Aforismos e excertos da obra “Triste fim de Policarpo Quaresma” – de Lima Barreto

– trechos e frases não estão necessariamente na ordem cronológica da obra e tampouco são da mesma edição ou editora.

“Esse encerramento em si mesmo deu-lhe não sei que ar de estranho a tudo, às competições, às ambições, pois nada dessas coisas que fazem os ódios e as lutas tinha entrado no seu temperamento. Desinteressado de dinheiro, de glória e posição, vivendo numa reserva de sonho, adquirira a candura e a pureza d’alma que vão habitar esses homens de uma ideia fixa, os grandes estudiosos, os sábios, e os inventores, gente que f**a mais terna, mais ingênua, mais inocente que as donzelas das poesias de outras épocas. É raro encontrar homens assim, mas os que há e, quando se os encontra mesmo tocados de um grão de loucura, a gente sente mais simpatia pela nossa espécie, mais orgulho de ser homem e mais esperança na felicidade da raça.”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ática, 2002.

§§

“Quem uma vez esteve diante deste enigma indecifrável da nossa própria natureza, f**a amedrontado, sentindo que o gérmen daquilo está depositado em nós e que por qualquer coisa ele nos invade, nos toma, nos esmaga e nos sepulta numa desesperadora compreensão inversa e absurda de nós mesmos, dos outros e do mundo. Cada louco traz em si o seu mundo e para ele não há mais semelhantes: o que foi antes da loucura é outro muito outro do que ele vem a ser após. E essa mudança, não começa, não se sente quando começa e quase nunca acaba.”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ática, 2002.

§§

“E enfim? A loucura declarada, a torva e irônica loucura que nos tira a nossa alma e põe uma outra, que nos rebaixa… Enfim, a loucura declarada, a exaltação do eu, a mania de não sair, de se dizer perseguido, de imaginar como inimigos, os amigos, os melhores. Como fora doloroso aquilo!”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ática, 2002.

§§

“- É verdade, minha filha. Que magníf**a idéia, tens tu! Há por ai tantas terras férteis sem emprego… A nossa terra tem os terrenos mais férteis do mundo… O milho pode dar até duas colheitas e quatrocentos por um…”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Brasiliense, 1956.

§§

“Mas, como é que ele tão sereno, tão lúcido, empregara sua vida, gastara o seu tempo, envelhecera atrás de tal quimera? Como é que não viu nitidamente a realidade, não a pressentiu logo e se deixou enganar por um falaz ídolo, absorver-se nele, dar-lhe em holocausto toda a sua existência? Foi o seu isolamento, o seu esquecimento de si mesmo; e assim é que ia para a cova, sem deixar traço seu, sem um filho, sem um amor, sem um beijo mais quente, sem nenhum mesmo, e sem sequer uma asneira!”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Brasiliense, 1956.

§§

“Brancos, pretos, mulatos, caboclos, gente de todas as cores e de todos os sentimentos, gente que se tinha metido em tal aventura pelo hábito de obedecer, gente inteiramente estranha à questão em debate, gente arrancada à força aos lares ou à calaçaria das ruas, pequeninos, tenros, ou que se haviam alistado por miséria; gente ignara, simples, às vezes cruel e perversa como crianças inconscientes; às vezes, boa e dócil como um cordeiro, mas enfim gente sem responsabilidade, sem anseio político, sem vontade própria…”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Penguin – Companhia das Letras, 2011.

§§

“Havia simples marinheiros; havia inferiores; havia escreventes e operários de bordo. Brancos, pretos, mulatos, caboclos, gente de todas as cores e todos os sentimentos, gente que se tinha metido em tal aventura pelo hábito de obedecer.”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Penguin – Companhia das Letras, 2011.

§§

“De todas as coisas tristes de ver, no mundo, a mais triste é a loucura; é a mais depressora e pungente.”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Penguin – Companhia das Letras, 2011.

§§

“Além do que, penso que todo este meu sacrifício tem sido inútil. Tudo o que nele pus de pensamento não foi atingido, e o sangue que derramei, e o sofrimento que vou sofrer toda a vida, foram empregados, foram gastos, foram estragados, foram vilipendiados e desmoralizados em prol de uma tolice política qualquer… Ninguém compreende o que quero, ninguém deseja penetrar e sentir; passo por doido, tolo, maníaco e a vida se vai
fazendo inexoravelmente com sua brutalidade e fealdade”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Companhia Editora Nacional, 2004.

§§

“Aborrecia-se com o rival, por dois fatos: primeiro, por ser preto; e segundo, por causa das suas teorias. Não é que ele tivesse ojeriza particular aos pretos. O que ele via no fato de haver um preto famoso tocar violão, era que tal coisa ia diminuir ainda mais o prestígio do instrumento. Se o seu rival tocasse piano e por isso f**asse célebre, não havia mal algum; ao contrário, o talento do rapaz levantava a sua pessoa, por intermédio do instrumento considerado; mas tocando violão, era o inverso, o preconceito que lhe cercava a pessoa desvalorizava o misterioso violão que ele tanto estimava. E além disso com aquelas teorias! Ora! querer que a modinha diga alguma coisa e tenha versos certos! Que tolice!”
– Lima Barreto, no livro “Triste fim de Policarpo Quaresma”. Ática, 1997.

Você pode ler o romance na íntegra online:

revistaprosaversoearte.com - Excertos de "Triste fim de Policarpo Quaresma" de Lima Barreto:: Triste fim de Policarpo Quaresma. Lima Barreto (romance). Literatura Brasileira – UFSC. Disponível no link. (acessado em 12.7.2021).

:: O triste fim de Policarpo Quaresma. Lima Barreto (romance). Biblioteca Nacional. Disponível no link. (acessado em 12.5.2021).

:: Triste fim de Policarpo Quaresma. e ‘outros textos*’. Lima Barreto (romance). Rio de Janeiro: Typ. ‘Revista dos Tribunaes’, 1ª ed., 1915. {*contém outros 7 textos, os contos: ‘Um especialista’ – ‘O filho da Gabriela’ – ‘A Nova Califórnia’ – ‘O homem que sabia javanês’ – ‘Um e outro’ – ‘Miss Edith e seu tio’ e ‘Como o “homem” chegou’}. Disponível online no link e link. (acessado em 12.7.2021).

Leia mais sobre Lima Barreto:

:: Maio (crônica). Lima Barreto. Disponível no link. (acessado em 29.6.2021).
:: País rico (crônica). Lima Barreto. Disponível no link. (acessado em 29.6.2021).
:: Esta minha letra… (conto). Lima Barreto. Disponível no link. (acessado em 29.6.2021).
:: Obra literária de Lima Barreto online. Disponível no link. (acessado em 29.6.2021).
*Leia também: Lima Barreto – biografia, obra publicada, adaptações, fortuna crítica e afins.

PAGINA DEDICA A LIMA BARRETO NO FACEBOOK

:: Lima Barreto – escritor

(...) Estou cansado, não consigo pensar em nada e quero apenas colocar o meu rosto no teu colo, sentir a tua mão na minh...
28/05/2024

(...) Estou cansado, não consigo pensar em nada e quero apenas colocar o meu rosto no teu colo, sentir a tua mão na minha cabeça e permanecer assim durante toda a eternidade.

— Franz Kafka, no livro "Cartas a Milena". (Ed. Relógio D'Água; 10.ª edição [2018]).

Obra: "The Lovers", 1933 - Konstantin Somov.

28/05/2024

Na era da globalização, onde as fronteiras parecem ter se dissipado e as oportunidades de emprego estão ao alcance de um clique, muitos profissionais qualif**ados de outras nacionalidades decidem atravessar oceanos em busca de novas perspectivas na Europa. Movidos pelo imaginário de uma vida mel...

DICA DE LITERÁRIA Memórias de Adriano é a obra-prima de Marguerite Yourcenar. Publicado pela primeira vez em 1951, após ...
28/05/2024

DICA DE LITERÁRIA

Memórias de Adriano é a obra-prima de Marguerite Yourcenar.

Publicado pela primeira vez em 1951, após um intenso processo de pesquisa, escrita e reescrita que durou cerca de trinta anos, o livro obteve enorme sucesso e converteu-se imediatamente em um clássico da literatura moderna.

Nesta espécie de autobiografia imaginária, a “grande dama da literatura francesa” recria a notável vida do imperador Adriano, com seus triunfos e reveses, e dá forma a um romance histórico, mas também poético e filosófico, que se tornaria uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX.

26/05/2024

Locations: Amorgos / Paros / SifnosMusic: Franz SchubertString Quintet in C major D. 956 / AdagioThe Chamber Music Society of Lincoln CenterIsabella Stewart ...

LiteraturaO haver – Vinicius de MoraesPor Revista Prosa Verso e Arte - Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternuraE...
25/05/2024

Literatura
O haver – Vinicius de Moraes
Por Revista Prosa Verso e Arte -


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido…

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada…

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/4/1962
– Vinicius de Moraes, do livro “Jardim Noturno – Poemas inéditos”. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

Ouça aqui o poema na voz do poetinha Vinicius de Moraes

https://youtu.be/u6LcZfStlfc?si=bcYPwamKHCYHRreU

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