25/03/2023
Esses dias lembrei dos scarpins (ainda se fala scarpins?) vermelhos, lindíssimos, que comprei dias antes de ter uma crise de pânico daquelas, reflexo do que enfrentaria pelos próximos 10 meses lá em 2012.
Ali, mais de 10 anos depois, presa no conto de Mulheres Que Correm com Lobos, flertando discretamente com a história dos sapatinhos vermelhos que aprisionam a alma feminina, relembrando as concessões, a carruagem dourada e a perda da alma… Voltei aos scarpins.
Recordo que os usei no máximo duas vezes, mas que por alguns anos ainda, após ter saído do corporativo, eles me acompanharam como símbolo de status, de poder e feminilidade e o mais louco disso é que nunca gostei mesmo de salto. Vai entender. 🤦🏾♀️
Levei um bom tempo depois pra relembrar isso.
E os scarpins? Mesmo novos, sofreram a ação do tempo, o desuso, um trem chamado hidrólise, assim como uma dezena de outros pares, que faziam parte da minha antiga versão.
Aquela que tentou desesperadamente se encaixar, mas no fim do dia, num gesto de alforria, calçava suas havaianas e se sentava em qualquer espaço vazio (lê-se chão) do coletivo lotado que levaria umas 2 ou 3 horas para chegar ao destino e vez ou outra ainda ouvia uma gracinha de uns conhecidos: Nem parece gestora de uma multinacional.
De volta aos sapatinhos vermelhos, não os meus antigos scarpins e sim os do livro e a trágica história da menina criativa e seus sapatos de pano, costurados de forma artesanal que vê seus sapatos trocados, sem aviso, pelo modelo de última geração e devidamente aceitos pela sociedade, pensei:
Quantas vezes você já se pegou no processo de algo que está sendo costurado, ainda não é a sua melhor versão, mas um protótipo, muitos até dizem que não é lá grande coisa, melhor comprar um novo, esse assim meia-boca é perda de tempo. Outros, já em menor número, até acreditam que dá pra vingar, afinal é um processo.
No fundo, você sabe o que fazer, mas olha pra um lado: a multidão e do outro os 5 amigos, a cabeça ferve, o coração acelera, por fim para de olhar pros lados e decide olhar pra dentro!
Porque, afinal, melhor do que comprar sapatos, é ser livre e capaz de escolher seu próprio caminho.
Claudia