29/06/2022
ILHA DE UNO, UM MUNDO À PARTE
A viagem de Bissau para a ilha de Uno é, invariavelmente, uma aventura, sobretudo no tempo das chuvas altura em que o bom e o mau tempo se alternam bruscamente. A ligação é feita por embarcações construídas artesanalmente (ao estilo canoa de nhominca, pescador senegalês), movidas por motores fora de bordo de potências que variam de 15 a 75 CV (cavalo v***r). A aposta dos proprietários, diz quem supostamente sabe, é a poupança de combustível em detrimento da velocidade de navegação; quanto menor é a potência, mais prolongada é a duração da viagem menor é o consumo do motor. Em dia de bom tempo uma viagem pode durar 6 a 7 horas, mas quando faz mau tempo uma viagem chega a durar mais de 9 horas.ESPERANÇAS DANÇAM NA CRISTA DAS CANOASA dança na crista das nodas dura horas. É inquestionável, que é preciso muita coragem da parte dos marinheiros e dos próprios passageiros para suportar às ligações muitas vezes sob a fúria das intempéries.Os habitantes locais poucas esperanças têm de que poderá haver alguma melhoria nas ligações entre as ilhas, que lhes garantam circulações seguras, em meios minimamente seguros, sem medo de naufrágios que muitas vezes são funestos para os desafortunados.Na realidade, entre o pouco e o muito que se oferece dizer neste particular, deve-se sublinhar apenas que o desenvolvimento vai levar tempo, muito mesmo, para chegar nesse espaço geográfico onde a calma é paradisíaca, mas o sofrimento infernal.Entretanto, de tempo em tempo, quando o azar faz das suas proezas nefastas, ocorrem naufrágios em que se contam não só muitas perdas materiais, mas, essencialmente, perdas de vidas humanas, vidas de pessoas que, não obstante estarem cientes, terem a noção dos perigos a que estão expostas, são obrigadas viajar para tratar das mistidas da vida.Críticas não faltam. Os cidadãos locais criticam, em voz alta, que os políticos que cobrem essas zonas, sobretudo os eleitos como seus representantes na ANP, pontuais como relógio suíço, surgem por altura das campanhas eleitorais e somem assim que se dá por concluído o processo eleitoral. As promessas ficam de molho durante anos a fio enquanto as suas condições de vida vão piorando dia a dia.NA TABANCAQuando se chega à tabanca, nota-se que o dia-a-dia é animado pelas mulheres, enquanto os homens sentados à sobre de árvores, saboreando gostosamente o vinho de caju acompanham tudo como simples espectadores. É da tradição, por isso, ninguém se rala por isso.As crianças, essas, têm boas escolas, edifícios de construções lindas e salas de aulas como mandam as regras. Diferentemente das outras partes do país, os professores cumprem rigorosamente o programa escolar. Ali, não chegam as greves que paralisam as aulas às vezes por longo período. O único grande senão é a grande distância que os alunos são obrigados a percorrer diariamente nas idas e voltas para cumprirem o calendário escolar.Mas, no entanto, a alegria da caminhada em grupo tendo à mistura pequenas disputas e até brigas, transformam o ambiente, dão vida ao percurso dando a ilusão de que os quilômetros que se estendem são poucos e não custa nada cobri-los.No Tchom di Bidjugu falta tudo o que um cidadão pode desejar para ter uma vida sã, viver minimamente bem com a família. O hospital carece de tudo… O pior que pode acontecer a um paciente é precisar de assistência médica que não pode obter no local, só em Bubaque. Nesse caso a espera é longa uma vez que nem todos os dias chega qualquer canoa de transporte. Os habitantes em geral acreditam num ser supremo, Deus para uns Irã para outros, que os protege e os livra de todo o mal. Não se pode falar de estradas em condições. Entre as tabancas as moto-cars de fabricação chinesa fazem o transporte de pessoas e cargas, sobretudo nesta altura em que decorre a campanha de compra de castanha de caju. Tal como na maioria dos setores administrativos do país, os edifícios herdados do colonialismo degradam-se a olhos vistos produzindo uma desagradável impressão com os seus aspectos fantasmagóricos que à medida que cai a noite torna-se mais horripilante. À chegada em UNO ou de regresso a Bissau, a embriaguez das ondas prolonga-se durante horas. Cada passo que se dá tem-se a impressão de meter o pé num buraco. Para quem está pouco habituado a essas andanças gingar ao estilo de quem tomou uns goles a mais é bastante incómodo. Mas, olhando os marinheiros fica-se com a impressão de que isso não é nada para eles. Homens de fibra esses MARINHEIROS, que nem sequer ganham o suficiente para compensar os riscos que correm em cada travessia.