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23/01/2025
Consumo de carne processada eleva risco de demência
Uma pesquisa feita ao longo de mais de quatro décadas nos Estados Unidos apontou que quanto maior o consumo de carne processada, maior o risco de desenvolvimento de declínio cognitivo e de doenças neura degenerativas, como o Alzheimer. O estudo, conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard, foi publicado na última quarta, na Neurology, revista científ**a da Academia Americana de Neurologia.
Para investigar o impacto da dieta sobre o risco de demência, os pesquisadores acompanharam 133.771 profissionais de saúde, com idade média de 49 anos – nenhum tinha demência no início do estudo. Por 43 anos, os participantes registraram seu consumo alimentar regularmente, especif**ando os tipos e a frequência dos alimentos consumidos.
No grupo “carne vermelha”, foram consideradas as carnes bovina, suína, de cordeiro e hambúrgueres. Já a “carne processada” incluiu alimentos como bacon, linguiça, salsicha, salame e mortadela.
Os resultados revelaram que aqueles que consumiram, em média, 0,25 porção diária de carne processada apresentaram um risco 13% maior de desenvolver demência em comparação a quem comia pouca ou nenhuma carne processada. Essa quantidade equivale a cerca de 20 g, o que corresponde, por exemplo, a meia unidade de salsicha, segundo a nutricionista Lara Natacci, que fez pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP). É o equivalente também a duas fatias de mortadela ou presunto e a quatro rodelas de salame.
Esses indivíduos ainda apresentaram risco 14% maior de relatar declínio cognitivo subjetivo – nesses casos, embora existam queixas cognitivas, como problemas de memória, as pessoas mantêm um desempenho normal nos te**es neuropsicológicos. Mas, a cada porção adicional de carne processada consumida por dia, o envelhecimento cognitivo foi acelerado em até 1,69 anos.
Fatores
O consumo de carne vermelha também teve impacto, embora menos expressivo. Os resultados não mostraram associação signif**ativa para o risco de demência. Por outro lado, participantes que consumiam uma porção ou mais de carne vermelha por dia (ou 85 g, o equivalente a um bife do tamanho de uma carta de baralho) apresentaram risco 16% maior de relatar declínio cognitivo subjetivo em relação àqueles que ingeriam menos de 0,50 porção.
Para chegar a essas conclusões, os cientistas levaram em consideração fatores como idade, histórico de doenças crônicas e estilo de vida.
“A carne vermelha é rica em gordura saturada e foi demonstrado, em estudos anteriores, que aumenta o risco de diabete tipo 2 e doenças cardíacas, que estão diretamente ligadas à piora da saúde cerebral”, disse o nutricionista D**g Wang, principal autor da investigação, em nota à imprensa.
Na opinião de especialistas, pesquisa tem limitações
Para o neurologista Marcel Simis, do Hospital Albert Einstein, a metodologia utilizada pela pesquisa é interessante, mas se trata de um estudo observacional, isto é, que não estabelece relação definitiva de causa e efeito.
Diogo Haddad, chefe do Centro Especializado em Neurologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alerta ainda que, embora os pesquisadores tenham se preocupado em eliminar variáveis capazes de interferir nos resultados (como doenças preexistentes ou hábitos de vida, a exemplo do tabagismo), é difícil garantir que isso seja 100% controlado. Outro ponto é que o consumo de carne, bem como os sintomas associados ao declínio cognitivo, fora registrado com base no auto relato dos participantes, o que pode render imprecisão.
Apesar das limitações, Simis diz que a pesquisa traz uma evidência científ**a importante e que, sobretudo, reforça uma série de estudos que caminham no mesmo sentido. “A melhor orientação segue sendo reduzir o consumo de carne vermelha e, sempre que possível, evitar as processadas. ”