19/08/2022
Movimento dos Lugares de Afeto – MLA
Manifesto Existe Afeto em SP
Os lugares de afeto são o pilar de nossa sociedade. É neles que vivemos com as pessoas que amamos. É onde aprendemos e ensinamos, ouvimos e somos ouvidos. Onde recebemos e participamos da nossa cultura, observando e aproveitando da arte, da gastronomia e dos costumes do nosso povo. Nestes lugares encontramos pessoas queridas e amadas, trocamos afetos com elas, conversamos e nos divertimos, toleramos e aprendemos com nossas diferenças. Exercitamos um essencial respeito mútuo. É onde dançamos, praticamos esportes ou apenas nos reunimos para passar o tempo juntos. Pode ser uma praça, um parque. A rua da sua casa. Uma quadra, um campo de várzea. Uma casa de cultura, uma balada ou um bar. Pode ser aquela esquina onde você se reúne com amigos para comemorar. Qualquer lugar que seja de juntar. De ver gente. De se encontrar. Representar e se reconhecer. Conectar no real. Aqui e agora. Lugar de troca e soma. Equalizar e multiplicar. Onde você vem disposto à emoção que o outro pode te provocar. Os lugares de afeto são os locais onde as pessoas encontram a sociedade livremente.
Nosso movimento, nossa ação política, é em defesa desses espaços, que tem sido cada vez mais perseguidos, cerceados, destruídos ou proibidos. Isso acontece porque é nesses lugares que as transformações sociais acontecem, é onde uma micropolítica potente se concretiza. Por serem espaços livres e informais, permitem que se frutifiquem boas relações humanas, com o forte desenvolvimento pessoal dos participantes. Com liberdade para se mostrarem e se portarem como querem, para dizerem o que querem, de defenderem suas ideias de modo espontâneo e descontraído, esses lugares são os locais perfeitos para a experimentação e o aperfeiçoamento das potencialidades humanas, individuais ou coletivas. Todas essas potencialidades são mal vistas pelos grupos que detêm o poder e querem manter a população sobre controle e exploração.
Nós amamos viver entre pessoas amigas, companheiras e familiares. Trabalhamos e nos desenvolvemos para melhorar o ambiente onde convivemos e o bem-estar delas. Nossas identidades e modos de viver estão diretamente ligadas a essas relações e espaços. São nos lugares que vivemos que tudo isso acontece. São nesses lugares que trocamos afetos e aprendemos a tolerar as diferenças. Porém, a nossa sociedade parece ter se afastado dessa percepção e nos impõe dificuldades para cultivar e manter esses locais. As instituições que deveriam colaborar com este trabalho se tornaram insensíveis a esta condição.
A sociedade moderna é o resultado do avanço acelerado no último século do desenvolvimento de tecnologias para atravessar e ocupar territórios, prolongar a vida e sanar doenças, produzir bens de consumo e interconectar o mundo com os meios de comunicação de massa. Esses avanços levaram ao aumento exponencial da população mundial e em sua urbanização. Houve aumento da expectativa e na qualidade de vida de grande parte dos povos. Mas este progresso não vem também sem novos desafios para a humanidade. A vida humana tem sido cada vez mais desvalorizada. As relações presenciais com pessoas queridas têm diminuído significativamente, sendo substituídas por encontros virtuais ou individualização de anônimos perdidos na multidão. O trabalho consome praticamente todo o tempo da maioria das pessoas. Empregos que raramente lhes dão vazão a criatividade e em instituições que apenas hipocritamente dizem se preocupar com a subjetividade de seus colaboradores.
Com o grande incentivo ao individualismo em nossa sociedade, nossa vida tem se tornado cada vez mais solitária e egoísta. Mas ainda existem lugares em que podemos ir para encontrar outras pessoas e fazer aquilo que nós mais gostamos, aquilo que faz a vida valer a pena, estar juntos. Seja para conversar, dançar, comer e beber ou seja para assistir exposições e apresentações artísticas e culturais ou esportivas, esses lugares de encontro são o pilar de sustentação de nossa vida social. Nesses lugares trocamos afetos com pessoas queridas, admiramos e nos orgulhamos do nosso povo, ouvimos e somos ouvidos. E nesses lugares também fazemos política. Nos identificamos e nos aliamos com aqueles que vivem e pensam de modo semelhante a nós. É preciso defender o respeito a todas as individualidades e as liberdades individuais, mas a melhor forma de fazer isso é garantindo a manutenção de locais em que todos possam se expressar, ser acolhidos e terem suas questões ouvidas e atendidas.
Por tudo isso, podemos afirmar sem dúvidas que a defesa desses lugares não é só boa, mas necessária nos nossos tempos, em que o isolamento e o desamparo, além do controle e da exploração, ameaçam tornar um momento que poderia ser um período áureo para a humanidade num verdadeiro inferno na Terra. Precisamos levantar essa bandeira, convidar pessoas a se unirem nessa luta, levar essa mensagem de amor e solidariedade a todos, pois esses são os verdadeiros valores que levam a sociedade a sua evolução e são nestes lugares que isso pode ser visto e vivido por todos os presentes.