26/10/2021
PÁTRIA AMARGA, BRASIL.
O país em tratamento precoce, agrava seu quadro e precisa de intubação urgente.
Gustavo Felipe Berça Ogata
Para compreender o que está acontecendo com o país atualmente, é necessário observar aspectos cruciais para aspectos econômicos, políticos e sociais. O Brasil, 4º maior produtor de grãos do mundo, não possui um complexo industrial do agronegócio forte, que possa substituir importações que variam de acordo com o mercado internacional, o que gera aumento do custo de produção - observando, por exemplo, que 10 empresas dominam cerca de 75% do mercado de sementes transgênicas no mundo, e todas são multinacionais). Além do custo de produção ser alto, o custo de escoamento dessa produção também o é. Rodovias precárias, pedágios com valores estratosféricos, combustível nas alturas, peças para manutenções dos veículos de transporte, na maioria das vezes, com um custo elevadíssimo, enquanto o frete não acompanha as despesas, ferrovias abandonadas, portos se deteriorando.
A precariedade do transporte rodoviário e o baixo valor do frete - ao se comparar com as despesas de transporte – geram, por exemplo, um aumento em acidentes causados por deformidades nas pistas, falta de manutenção adequada da frota e fadiga dos motoristas, o que causa, dentre muitos outros, problemas de segurança e de saúde pública, principalmente quando a maior parte dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva estão sendo destinados à pacientes COVID-19 e boa parte dos materiais utilizados para a atenção básica, como ingredientes farmacêuticos, máscaras e respiradores, são importados, o que volta ao mesmo problema das sementes apresentado anteriormente, o qual, também afeta o preço do combustível vendido, esse, ao invés de ser refinado no país, é, em uma boa porcentagem, importado devido a capacidade de refino ser menor que a demanda.
Além disso, a nação brasileira é, atualmente, a maior exportadora de carne bovina do mundo. Porém, para criação de gado para abate são necessários, principalmente, terra; pasto; ração; vacinas, dentre outros. A terra tem sido cada vez mais apropriada indevidamente através de grilagem, derrubando vegetação nativa para o pastoreio e agricultura. As sementes e o maquinário para plantação, adubo, irrigação e colheita são, na maioria dos casos, importados. A pecuária e agricultura são as maiores consumidoras de água no Brasil. Derrubando a floresta nativa, há uma diminuição da evapotranspiração – o que leva a uma drástica diminuição das chuvas e, por consequência, gera crise hídrica que leva à uma crise energética, aumentando a tarifa sob a energia -, erosão do solo, improdutividade, entre outros aspectos. O descaso ambiental, tem trazido sanções às Exportações brasileiras em diversos países europeus. O custo da carne e grãos exportados, bem como as incertezas advindas de escândalos políticos e diplomáticos, levaram a China, maior importador de produtos brasileiros, a investir na introdução da produção tecnológica da agricultura e pecuária na África.
Nesse meio tempo, há mais de 500 mil mortes por COVID-19; 14,4 milhões de desempregados; e 5,6 milhões de desalentados no 2º trimestre de 2021, sendo que, dos 86,7 milhões de trabalhadores empregados no Brasil, 34,7 milhões (cerca de 40%), eram trabalhadores informais no fim do trimestre em maio de 2021. No entanto, a crise não afeta todas as pessoas. No 1ª trimestre de 2021, 10% daqueles que estão no topo da distribuição de renda ganham 42,3% vezes mais que os 40% da base da distribuição. Em meio a recessão, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL) n.º 2.337/21, que alterou as taxas de tributação. O Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), caiu de 25% para 18%. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), caiu de 9% para 8%. A taxação sobre herança também não é das melhores para o Estado. O teto no País é de 8%, sendo a menor taxa a do Rio Grande do Norte, de 3%. Como se não bastasse, o Brasil é um dos três países do mundo que não taxa dividendos pagos aos acionistas.
A conta não fecha. O agronegócio possui cerca de 600 bilhões de dívidas. Mais de 70% das famílias brasileiras estão endividadas. Grandes empresas devem bilhões para a previdência social, FGTS e fisco. Em 2019, essas empresas deviam cerca de 2,2 trilhões de reais. Dívidas ambientais, quando possível de constituição da Dívida Ativa, dificilmente são pagas. Nos dois últimos casos, impera a prescrição intercorrente. Por fim, a dívida pública, pela primeira vez na história, alcança 90% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, mais de cinco trilhões de reais e a inflação dada pela previsão do índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), possuiu sua 24ª alteração consecutiva, estando posicionada em 8,35%.
Em meio a tudo isso, observa-se o Executivo legislando por Medidas provisórias, a cloroquina do Executivo. As instituições democráticas sendo ameaçadas. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) trazendo à luz práticas criminosas do desgoverno bolsonarista. O povo está perdido. A morosidade no atendimento de demandas que efetivamente irão atender as demandas emergentes do povo como alimentação, educação, saneamento básico, saúde, segurança, tira a credibilidade das instituições. Assim, cada vez mais, governos paralelos erguem-se e fortificam-se na sombra do abandono estatal, assim como ocorreu com o PCC há poucos anos atrás. Como é possível projetar um futuro concreto para um país que está aos frangalhos, com uma dívida exorbitante, com instituições que buscam os interesses de grupos específicos e não do povo, com condições tão precárias de subsistência?
Não existe resposta simples. Não há um Messias para colocar no governo. Não existem salvadores da pátria, sendo que ela mesmo está se dissolvendo. No próximo ano teremos eleições: pão e circo. Danças sincronizadas, passeatas, desentendimentos, radicalização, criação de polos. A ambiguidade existe somente nas entrelinhas. Tome cuidado, nobre eleitor! É impossível que possamos ser tão manipuláveis assim. Para querer um Brasil para o futuro é necessário que no futuro haja um Brasil. Essa é a realidade brasileira, a verdade nua e crua. O país está em crise aguda sem tratamento adequado.