06/12/2023
Beber é uma coisa. Degustar é outra.
Há quem goste de beber. Apenas de beber. Nem tanto pelo que bebe. Muito mais pelo efeito do álcool. E não há problema nisso. Cada um sabe as válvulas de escape que precisa acionar para suportar as questões da vida. Claro, desde que não estejamos falando aqui de vícios. Alcoolismo não entra em questão.
Por outro lado, há os que degustam. Esses, dentre os que bebem, são minoria. É claro que bebem, também, porque o horizonte etílico é convidativo. Mas sentem que pode existir algo além da simples embriaguez pela embriaguez.
Degustar é valorizar dois dos cinco sentidos mais desvalorizados da história. Olfato e paladar. Degustar é reconhecer que, através de aromas e sabores, é possível se interessar mais pela vida; de se abrir a questionamentos; de se espantar com descobertas; de revelar limites do prazer onde nunca se imaginou chegar. Tudo através do olfato e do paladar. Vividos ali, na proximidade da taça à mesa, ao alcance das mãos.
Do ato de degustar, abre-se uma caixa de ‘por que’. Por que tais aromas? Por que tais sabores? Por que? Para sanar essas dúvidas, entram em cena a história, a geografia, a biologia, a química, a psicologia…
Degustar provoca uma cadeia de eventos. Ativam-se o olfato e o paladar que, por sua vez, ativam e expandem o intelecto. Daí surgem novos desejos, novas buscas. E tudo se repete. Mais vida acontece.
O ato de degustar é sempre um convite de um horizonte misterioso, mas que chega perto, pelo nariz e pela boca. O ato de degustar é um ato de aproximação. Ou melhor, uma afirmação de que vale a pena se aproximar da vida. Pelo olfato e pelo paladar.
Degustar então seria mais do que um simples ato? Talvez um… hábito de viver?