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Filosofia Cotidiana Empreendimento intelectual de qualif**ação ontológica.

A BELEZA DEGRADA  Por Amanda KellyO fascínio pelo s**o feminino e sua beleza me chegaram muito cedo. Sete anos. Aos sete...
23/05/2020

A BELEZA DEGRADA
Por Amanda Kelly

O fascínio pelo s**o feminino e sua beleza me chegaram muito cedo. Sete anos.
Aos sete, eu já sabia, ainda que em germe, do que era capaz o poder avassalador da Beleza sobre o Mundo. Nesta idade, enquanto fuçava umas revistas (na casa de quem não direi, rs), encontrei uma revista Pl***oy, na edição que trazia Adriane Galisteu nas ilhas gregas, e fiquei absolutamente encantada com a perfeição que uma mulher é capaz de possuir.

Meus olhos infantis f**aram extasiados: jamais haviam visto ser tão belo, quase que uma ode viva à perfeição, sem nada que maculasse a obra. Eu olhava e não acreditava que as fêmeas pudessem ser tão belas, e que eu era uma partícipe da categoria (o que muito me alegrou), mas eram. Deus quis mesmo que os Seus filhos que não fossem tão espiritualmente elevados (tal qual eu) tivessem experiência do Sublime pelos pálidos simulacros de Bem que temos na nossa vida terrena: a beleza da mulher, a inocência de uma criança, as amizades ainda que imperfeitas, a paz de uma bela pradaria ou a perfeição artística de um poema épico.

Ninguém mais, senão a mulher, recebeu a tarefa de tornar a vida bela, doce, e ao mesmo tempo avassaladora e pacif**adora, a depender tão-somente de sua escolha.
Este contato primitivo, desordenado e nada sofisticado deu-me olhos benevolentes para com quase todas as mulheres, mesmo as comuns, não tão belas, nada sofisticadas, nada brilhantes.

Infelizmente cresci, nos horrendos anos 90, vendo até à exaustão a hiperexploração monotemática e burra que no Brasil se fazia da Beleza feminina. A descida ao mau gosto, o comércio s*xual grosseiro (como dum bodegueiro a vender cereais básicos), o uso pródigo e repetitivo de encantos que são em essência tão mais sutis e próprios de sua dona, a uniformização das mulheres, e, por fim, o enfaro e o desencanto, como se a beleza perdesse sua mágica ante a dessensibilização da massa perante tanta fartura imerecida. Não é novidade para ninguém a quantidade colossal (e crescente) de mulheres belas e sozinhas, enfiadas numa vida de trabalho e sobrevivência, quase no fim dos ciclos ovarianos e ainda sem filhos, sem um alento de romantismo, sem jamais conhecer o amor, condenadas à solidão ou investindo em relacionamentos fracassados: agradeçam por isto à Revolução Sexual, majoritariamente.

A Beleza não perdeu seu poder, e nem está se perdendo por completo na matéria: foi degradada. Degradada no meio da competição pública pelos últimos machos, degradada pela autolatria, pela incapacidade da doação. A exaltação da beleza burra ou da mulher simplesmente má traz maus arquétipos para o mulherio: quando uma feia e/ou má (a "cantora" Madonna, que é as duas coisas, por exemplo) passa a ser o s*x symbol de uma época, o modelo de imitação serve para rebaixar todos os padrões físicos, morais e comportamentais das mulheres.

É óbvio que antes da tal Revolução havia machismo e opressão feminina em casamentos burgueses: sempre haverá gente que não sabe viver (e nem deixa os outros fazê-lo): o erro a que somos induzidos é pensar que isto era regra geral. A verdade é que a Revolução Sexual como que devolveu a mulher à sua condição pré-cristã: importância secundária. O Cristianismo foi quem exaltou Maria Mãe de Deus como a mais perfeita de todas as criaturas, e o homem (no sentido de s**o masculino, mesmo) pôde então perceber a força da delicadeza que não se utiliza da sedução, riqueza ou magia para reinar, mas do sacrifício e renúncia que elevam o ser humano, seja homem ou mulher.
A propósito, esta constatação imprescinde de ser católico: qualquer um (pagão, agnóstico, cristão não católico ou de qualquer outra crença), desde que ocidental e com uma inteligência e honestidade mínimas, admite que nenhuma figura feminina pré-cristã (seja humana, figura mitológica ou deusa) é equiparável a Maria Mãe de Jesus. Em nenhum aspecto.

P.S. :

É claro que a beleza "pagã"/"carnal" me encanta: sempre vou admirar as divas que espalharam beleza e elegância pelo mundo. Mas agora, depois que conheci quem é Maria Mãe de Jesus, sei o que é o ideal superior de ser uma mulher, pois a mais perfeita das criaturas Deus quis que fosse mulher, aquela que esmagará a cabeça da serpente.

Façam o teste: comparem as fotos de Beyoncé (com sua inegável beleza agressiva) a fotos da mística Maria Valtorta, que tinha um rosto perfeito e gentil com olhos que refletiam o Céu.

As mulheres não sabem a noção da palavra sacrifício para uma vida com propósito é signif**ado.

"A thing of beauty is a joy for ever"--Endimião (trecho)Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:O seu encanto cresce...
20/02/2020

"A thing of beauty is a joy for ever"

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Endimião (trecho)

Tudo o que é belo é uma alegria para sempre:
O seu encanto cresce; não cairá no nada;
Mas guardará continuamente, para nós,
Um sossegado abrigo, e um sono todo cheio
De doces sonhos, de saúde e calmo alento.
Toda manhã, portanto, estamos nós tecendo
Um liame floral que nos vincule à terra,
Malgrado o desespero, a carestia cruel
De nobres naturezas, os escuros dias,
E todos os sombreados e malsãos caminhos
Abertos para nossa busca: não obstante,
Alguma forma bela afasta essa mortalha
De nossa lúgubre alma. Assim são sol e lua,
As árvores lançando a dádiva da sombra
Às ovelhas sem mal; e assim são os narcisos
Com o mundo verde no qual vivem, e os regatos
Que fazem para si uma coberta amena
Contra a quente estação; a moita mato adentro,
Rica de um jorro em flor de almiscaradas rosas;
E assim também a majestade dos destinos
Que imaginamos para os mortos poderosos;
Os lindos contos que nós lemos ou ouvimos:
Uma fonte infindável de imortal bebida
Que da fímbria dos céus a nós se precipita.

(John Keats, 1818. Trad. Péricles Eugenio da Silva Ramos, 1987 - Premio Jabuti - 1986)

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Endymion (trecho original)

A thing of beauty is a joy for ever:
Its loveliness increases; it will never
Pass into nothingness; but still will keep
A bower quiet for us, and a sleep
Full of sweet dreams, and health, and quiet breathing.
Therefore, on every morrow, are we wreathing
A flowery band to bind us to the earth,
Spite of despondence, of the inhuman dearth
Of noble natures, of the gloomy days,
Of all the unhealthy and o'er-darkened ways::
Made for our searching: yes, in spite of all,
Some shape of beauty moves away the pall
From our dark spirits. Such the sun, the moon,
Trees old and young, sprouting a shady boon
For simple sheep; and such are daffodils
With the green world they live in; and clear rills
That for themselves a cooling covert make
'Gainst the hot season; the mid forest brake,
Rich with a sprinkling of fair musk-rose blooms:
And such too is the grandeur of the dooms
We have imagined for the mighty dead;
All lovely tales that we have heard or read:
An endless fountain of immortal drink,
Pouring unto us from the heaven's brink.

Imagem: Innocence, de William-Adolphe Bouguereau

Quando as crianças brincamE eu as oiço brincar,Qualquer coisa em minha almaComeça a se alegrar.E toda aquela infânciaQue...
11/02/2020

Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.

(Fernando Pessoa - "Quando as crianças brincam")

Imagem: "Estalar o chicote" - Winslow Homer

Ora, tudo o que se diz e se faz, de mais ou menos sensato ou mais ou menos absurdo, depende da solução desse enigma. Que...
09/02/2020

Ora, tudo o que se diz e se faz, de mais ou menos sensato ou mais ou menos absurdo, depende da solução desse enigma. Quem sou eu? Para que a vida tenha sentido, e para que a morte mesma tenha alguma decência, eu preciso saber quem sou, por que vivo, por que morro, por que choro. De que me vale apreender o milhar de relações do mundo exterior, se não consigo apreender a substancial realidade que me diz respeito? Que me adianta medir a distância do sol e analisar a configuração do átomo de urânio, se desconheço a largura, a altura, a profundidade de meu próprio ser? De que me serve ganhar o universo se ando perdido de minha alma?

(Gustavo Corção em "Lições de Abismo", p. 235)

Imagem: As reflexões de um caminhante solitário - René Magritte, 1926.

"AS TRÊS METAMORFOSES DO ESPÍRITO, em Nietzsche, são as três etapas da criação literária."(Texto transcrito do áudio do ...
09/02/2020

"AS TRÊS METAMORFOSES DO ESPÍRITO, em Nietzsche, são as três etapas da criação literária."

(Texto transcrito do áudio do Professor Rodrigo Gurgel, em seu grupo de Telegram - http://cutt.ly/rodrigogurgel - no dia 05/02/2020.)

"Vou falar para vocês de um texto que foi muito importante para mim e, de alguma forma, continua sendo. Não que eu volte para reler esse texto, mas a ideia que ele passa ficou gravada na minha cabeça e serve como uma referência para aqueles momentos em que eu enfrento algum tipo de problema, algum tipo de dificuldade.

Quando eu era muito jovem, eu gostava muito de ler o Friedrich Nietzsche e li várias coisas dele. Até hoje tenho a obra completa do Nietzsche aqui porque, apesar do anticristianismo dele, que é uma coisa que não me agrada nenhum pouco, ele tem alguns insights que eu considero muito interessantes.

E esse texto a respeito do qual eu vou falar hoje com vocês, está no livro "Assim Falou Zaratustra". Esse texto se chama "Das Três Metamorfoses".

É um texto interessantíssimo, porque o Nietzsche vai dizer que há três metamorfoses do espírito, quer dizer, três mudanças, três modif**ações do espírito: o espírito se torna CAMELO, o CAMELO se torna LEÃO, e o LEÃO, por fim, se torna CRIANÇA. Então, na verdade, o camelo, o leão e a criança são metáforas para o Nietzsche das etapas da vida.

Como ele define o camelo, a primeira etapa do espírito? O que o camelo faz? O camelo quer suportar cargas pesadas! A própria força dele, a própria condição dele pede as cargas mais pesadas. Então, a primeira fase do espírito seria essa: o espírito de suportação. O homem se pergunta: "O que há de mais pesado?" (...) Ele quer tomar sobre ele toda a carga, todo o peso. Mas, é muito interessante que isso não é visto como motivo de angústia ou de tristeza. Não. Carregar o fardo, para o Nietzsche é razão de alegria. Não há essa visão de angústia, de tristeza, de ter de suportar o fardo,(...) com profunda abnegação, constrição, sofrendo e oferecendo esse sofrimento.... Não! Você carrega, mas carrega o fardo com alegria. E essa é a uma etapa necessária para você passar para a etapa seguinte.

Você toma sobre si esses pesadíssimos fardos, você se deixa penetrar desse espírito de suportação e marcha, então, carregado, para o deserto. Mas não para qualquer deserto: você marcha para o seu próprio deserto. E ali, carregando todo o fardo que você se dispôs a carregar, na região mais solitária do deserto, mais erma, então, ali ocorre a segunda metamorfose. De camelo, o espírito se transforma em leão.

Ele que tinha sido treinado carregando os piores e mais pesados fardos com alegria, ele, então, agora, como leão está pronto para conquistar. Mas conquistar o que? Conquistar a sua liberdade. E ser senhor do seu próprio deserto.

E aí, é muito interessante, por que, qual é o grande embate? Qual é a grande luta que o leão vai ter? Ele vai lutar contra um dragão que se chama "tu deves". Mas... o espírito do leão... porque ele luta contra o dragão "tu deves"? Ele luta porque precisa prevalecer o "eu quero". "Eu quero" precisa ser mais forte do que "tu deves". E por que o "eu quero" deve prevalecer sobre o "tu deves"? Porque "criar a liberdade de novas criações" é isso que o espírito agora transformado em leão precisa fazer. Ele precisa conquistar essa liberdade.

Primeiro veio o tempo do fardo, de carregar todos os fardos com alegria. Agora chegou a época, então, de você, que foi treinado como um carregador de fardos, agora, querer que prevaleça a sua liberdade. E como você faz prevalecer a sua liberdade? Deixando de "obedecer as regras pelas regras", mas, obedecendo as regras poque "você efetivamente quer".

Isso é muito interessante. A liberdade para o Nietzsche não é simplesmente você sair aí fazendo o que você bem entende, jogando coquetel molotov em porta de banco... as pessoas interpretam muito mal o Nietzsche em muitos sentidos. Na verdade, a filosofia no Nietzsche é manipulada das mais diferentes formas. Mas essa questão é uma questão central. Não se trata de destruir tudo o que é sagrado para o homem. Nao! É arrebatar a sua própria liberdade ao objeto de todos os amores. Você precisa realmente ser livre para criar aquilo que você "quer criar". Aí, então, ocorre a terceira transformação. O leão se transforma em criança.

E o que isso signif**a? Depois que "eu quero" venceu o "tu deves", depois que você aprende a cumprir os seus deveres (não para obedecer a uma vontade exterior a sua, mas porque você decide livremente obedecer, e você obedece por sua vontade própria, livre, e não por uma imposição), a terceira metamorfose é a conquista da inocência e do esquecimento. Exatamente como a criança, agora você está livre para um novo começo.

O Nietzsche diz: "um novo começo", "um jogo", "uma roda que gira por si mesma", "um movimento inicial", "um sagrado dizer sim". Então, agora, não é mais "eu quero", mas é apenas "sim". O Nietzsche fala, não nesse texto, mas num outro, da necessidade do homem dizer sempre um "sim irrepreensível à vida", "um sim total", completo, àquilo que a vida nos oferece.

E agora, então, transformado em criança, você está realmente livre para reiniciar todos esse processo de novo. Então, aquele que parecia perdido para o mundo, conquista o seu mundo. E o seu mundo tem a pureza, tem a inocência da criança. Ele está limpo, está livre de todas as imposições, de todos os jogos, mas não porque ele destruiu tudo, não. Mas porque, primeiro, ele assumiu tudo Depois, porque ele percebeu que não basta assumir tudo, mas obedecer a tudo por uma vontade própria. E aí, então, ele se torna a criança.

Agora, é muito interessante porque muita gente entende essas três metamorfoses como etapas da vida. É a forma mais banal de você entender o texto do Nietzsche. E é claro que é um texto em que ele está falando por imagens, então, cada um entende da forma que acha mais interessante e que serve para a sua vida. Mas eu prefiro entender essas metamorfoses como um ciclo que se repete em todos os momentos da nossa vida. São etapas de tudo o que a gente faz e que de alguma forma é essencial.

Então, você está aí, começando a escrever um livro. Você está naquela fase da pesquisa, das fontes, montando o seu enredo, pensando nos personagens, esquematizando tudo... bom, essa é a fase do camelo. E depois? Depois vem a fase do leão, quando você precisa se impor sobre todos os fatos que você reuniu e começar a dar uma forma a tudo isso, fazer com que todas as informações que você reuniu se submetam a sua vontade. E depois, no transcorrer desse processo, quando você, finalmente, encontra a sua linguagem, a sua voz, a voz com que você vai efetivamente narrar a sua história, então, você já é uma criança, você ganhou essa inocência disposta ao jogo, (...) que é esse "sagrado sim" à criação.

(...) eu lembro daquilo que o Churchill dizia: que o êxito surge da habilidade de você passar de um fracasso para outro sem nunca desistir. Então, eu acho que a vida é exatamente isso, e a produção literária é isso. A gente sempre, de alguma forma, tem hesitações diante de um texto novo, seja um poema, um ensaio, um conto... nós sempre hesitamos, sempre temos dúvidas se aquilo que nós estamos produzindo ou queremos produzir tem realmente algum valor. Então, é necessário que a cada nova produção literária, a gente passe por essas metamorfoses. Primeiro, assumir todos os riscos, carregar todos os fardos. Depois, impor a sua vontade sobre as ideias, sobre as palavras, fazer com que as palavras digam o que você quer, ser o leão para a linguagem. E, por fim, então, descobrir toda a liberdade, toda a inocência que é ser criança e, de fato, se entregar totalmente à alegria do processo criativo.

São as três metamorfoses não como etapas da vida, mas como etapas de todas as coisas essenciais que a gente pode fazer, quer fazer e acaba fazendo."

Transcrito por: Mariana Machado de Freitas

O que podemos dizer é que o mundo ficou um pouquinho menos inteligente hoje
12/01/2020

O que podemos dizer é que o mundo ficou um pouquinho menos inteligente hoje

TEMPOS DE IGUALDADEDayher GiménezAntigamente os pobres se esforçavam para manter a casinha sempre pintada, a calçada var...
11/01/2020

TEMPOS DE IGUALDADE
Dayher Giménez

Antigamente os pobres se esforçavam para manter a casinha sempre pintada, a calçada varrida, os alumínios areados, as roupas de linho barato e chita lavadas só com água e lisinhas passadas só no ferro. Tudo era muito simples, mas muito limpo. Tudo era muito humilde, mas muito organizado. Palavrões não se falavam em hipótese alguma porquê, como se dizia, "nós não somos dessas coisas". As avózinhas analfabetas não sabiam escrever o próprio nome, mas sabiam recitar orações inteiras de cor, com memória superior aos dos nossos universitários incapazes de lembrar pequenas equações. Os avôs passavam o dia na roça, comendo polenta no café, no almoço e na janta; de vez em quando, um pedaço de carne de porco da lata. Essa gente de mãos calejadas constituiu família, criou e educou os filhos, que andavam quilômetros a pé nas estradas rurais para aprender o abecedário com professoras sem os stricto sensus da existência acadêmica. Os pobres nasciam pobres mas não f**avam pobres-de-marré por muito tempo: costuravam, faziam bicos, trabalhavam por fora para ter vida melhor por dentro. Iam morrer piedosamente, com velório em casa, chorados por toda a penca de escadinhas de filhos, netos e bisnetos. Os pobres de antigamente davam exemplo aos ricos de antigamente. O pobre não abortava, o pobre respeitava a Deus, o pobre não se nivelava à evolução e ao progresso dos abastados. Os pobres eram a grande conquista da Civilização. Os pobres eram civilizados, elegantes e dignos. Hoje, como está a situação? A casa está encardida, o mato cresce na calçada, imundície pelos quatro cantos, calça de jovem de 16 anos custando mais de R$ 300. Tudo é muito complexo, mas muito sujo. Tudo é muito caro até, mas muito desorganizado. Palavrões se dizem aos borbotões a ponto de se crer que a língua pátria é constituída apenas de grosserias e imprecações. Todos têm diploma do fundamental, do médio e, não raramente, do tal democratizado e burríssimo ensino superior. Todo mundo passa o dia em frente à tv e batendo os dedos lisinhos na tela do celular. Essa gente se estufa com bolachas, salgadinhos, refrigerantes e com toda e qualquer porcaria comprada a preço de banana (da banana, muito melhor, que não comem porquê deram Coca-Cola na chuquinha e chocolate na papinha desde cedo pros pirralhos) no supermercado. Reclamam de andar um quilômetro e meio para levar os filhos na creche e na escola, com professores à beira da depressão por terem que criar e educar os filhos dos outros enquanto os próprios passam muitas vezes o dia sozinhos. Vão morrer, hoje ou daqui uns anos, estirados solitários nas macas de hospitais superlotados, com um ou outro descendente com muita má vontade pagando a conta do sepultamento. Hoje, salvo as poucas exceções de sempre, os pobres estão iguais aos ricos. O igualitarismo, pelo qual as ideologias fizeram correr rios de sangue? Ei-lo. Os filhos da pobreza e os filhos da riqueza deram pseudo-fraternalmente as mãos para pularem juntos no abismo da barbárie -- a liberdade de ser lixo. Choremos, todos, por nós e por nossos filhos.

ORAÇÕES - Casimiro de AbreuA alma, como o incenso, ao céu s’elevaDa férvida oração nas asas puras,E Deus recebe como um ...
11/01/2020

ORAÇÕES - Casimiro de Abreu

A alma, como o incenso, ao céu s’eleva
Da férvida oração nas asas puras,
E Deus recebe como um longo hosana
O cântico de amor das criaturas.

Do trono d’ouro que circundam anjos
Sorrindo ao mundo a Virgem-Mãe s’inclina
Ouvindo as vozes d’inocência bela
Dos lábios virginais duma menina.

Da tarde morta o murmurar se cala
Ante a prece infantil, que sobe e voa
Fresca e serena qual perfume doce
Das frescas rosas de gentil coroa.

As doces falas de tua alma santa
Valem mais do que eu valho oh! querubim!
Quando rezares por teu mano
Não t’esqueças também – reza por mim!

RIXAS INTELECTUAISPor Erick FerreiraRixas não são um fenômeno incomum entre intelectuais. Aliás, em tão poucos mundos el...
06/01/2020

RIXAS INTELECTUAIS
Por Erick Ferreira

Rixas não são um fenômeno incomum entre intelectuais. Aliás, em tão poucos mundos elas são tão comuns. Em geral, a defesa de uma ideia pode gerar hostilidades entre intelectuais que, simplesmente, seriam raras entre pessoas comuns. Isto porque o intelectual tende a se apegar a suas ideias de forma tão afetiva quanto à uma pessoa. Ele vive de ideias. Seus bens mais preciosos são os produtos de suas mentes. Por esta razão, uma ofensa à ideia de um intelectual pode ser tão ultrajante a este quanto uma agressão física.

Foi um destes atritos que encerrou uma amizade de mais de dez anos entre dois dos maiores intelectuais latino-americanos, ambos ganhadores de prêmios Nobel: o colombiano Gabriel Garcia Marquez e o peruano Mario Vargas Llosa. Ambos, iniciaram uma amizade intima baseadas na mesma paixão pelo socialismo. Com o tempo, Llosa começava a se distanciar da utopia ao notar suas consequências nefastas no mundo, tornando-se, de defensor a um critico ferrenho da ideologia. Marquez, por sua vez, continuava tão fiel a fracassada ideologia quanto antes, chegando, inclusive, a tornar-se amigo intimo de Fidel Castro.

Já no ápice da animosidade entre os dois, Vargas, simplesmente, encerrou aquela já claudicante amizade com um belo cruzado de direita na fuça de Marquez.

Assim encerrava-se uma longa amizade, fundada em ideais fajutos. Amizade, conforme observa Salústio, é a união de vontades e de repugnâncias.
Os olhos de qualquer humano brilham quando encontram com um semelhante que compartilha os mesmos gostos e antipatias. Sem estes requisitos, dificilmente uma amizade prospera. E da mesma forma, a amizade encerra quando aqueles gostos e desgostos que a embalavam se encerram em uma das partes. Como somos seres instaveis, nossas covicções de hoje podem não ser as mesmas de amanhã. E ao perder nossas velhas convicções, junto com elas, se vai muito mais do que uma crença; vai junto todo um vinculo afetivo com todo um universo de seres e coisas. Por isso, as amizades fundadas em ideais costumam ser as mais intensas e ao mesmo tempo as mais frágeis. Depois do ideal, deve vir algo a mais: a caridade. fraterna. Sem este elemento, as amizades colapsam. Ame os homens, não pelo que eles acreditam, nem pelo nível de concordância que tens com eles; ame-os por razões bem maiores que seus pensamentos e suas crenças; ame-os acima de seus vis ideais. Ainda que seja o defensor de um nefasto sistema, não deixa de ser menos digno de pena e amor. Isso, porém, não quer dizer que todos são dignos de tua amizade. Amar o próximo não signif**a que vc deve estabelecer uma comunhão de ideias com todos. Pois, tal só acontece na amizade. E amizade verdadeira, acredite, não é fenômeno tão banal e corriqueiro.

Abaixo: Imagem de Gabriel Garcia Marquez com o olho roxo após os sopapos de Vargas Llosa

Sinfônia N° 9 de Anton Bruckner interpretada pela Orchestre National de France sob a regência de Bernard Haitinkhttps://...
06/01/2020

Sinfônia N° 9 de Anton Bruckner interpretada pela Orchestre National de France sob a regência de Bernard Haitink

https://youtu.be/MIJET6NO4-k

The Orchestre National de France conducted by Bernard Haitink performs Anton Bruckner's Symphony No.9 in D minor. Live recording on February 23, 2015 at the ...

SOBRE A FUTILIDADE E OUTRAS COISAS Por Márcia PinhoVamos falar de futilidade? É relevante! (sic)Fútil (signif**ado):adj....
06/01/2020

SOBRE A FUTILIDADE E OUTRAS COISAS
Por Márcia Pinho

Vamos falar de futilidade? É relevante! (sic)

Fútil (signif**ado):
adj. Insignif**ante; característica do que é irrelevante, sem importância ou utilidade.
Futilidade (signif**ado):
s.f. Característica ou particularidade de fútil; caráter daquilo que é fútil.
Característica de quem dá importância ao que é superficial.
Coisa irrelevante; objeto de ocupação de quem é fútil; insignificância.
Sinônimos: bobagem, banalidade, frivolidade, insignificância, que não tem importância.
Antônimos: seriedade, valor, importância, relevância, gravidade, profundidade, transcendência.
A futilidade é uma característica de quem valoriza coisas ou situações irrelevantes e insignif**antes. Dá muito valor ao que tem pouco ou nenhum valor.
Muitos atualmente valorizam mais a marca do celular ou do carro que possuem do que a qualidade dos seus relacionamentos.
Gente que gasta horrores com viagens, roupas e eletrônicos, mas não pensa em investir a mesma quantia em conhecimento ou investir em pessoas.
A futilidade não está apenas ligada ao consumismo, apesar de ser muitas vezes expressa por meio dele. A futilidade pode ser um estilo de vida. A pessoa não é fútil apenas por interessar por viagens e compras, mas viver tão somente com os pensamentos na curtição e na excessiva preocupação com a aparência de um modo geral (roupas, calçados, academia).
A futilidade e a vaidade andam de mãos dadas. As “selfies” mendigando curtidas que o digam!
Na festa da futilidade me chama atenção a quantidade de tempo gasto assistindo reality shows, novelas, programas de fofoca entre outros que apenas emburrecem, sem contar as redes sociais.
Não quero dizer que as pessoas que assistem a tais programas são todas fúteis. A futilidade não é expressa em apenas um ato, um dia; é um estilo de vida. A maneira como você enxerga as coisas que o rodeiam, vai determinar seus valores. E seus valores determinam com o quê ou com quem você gasta seu tempo e dinheiro.
O que pretendo comunicar com esse texto é tão somente a reflexão:
Quanto da sua vida você tem dedicado aquilo que é inútil?

CONTA E TEMPODeus pede estrita conta de meu tempo.E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.Mas, como dar, sem tempo, tanta c...
06/01/2020

CONTA E TEMPO

Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta.

Mas, como dar, sem tempo, tanta conta
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta,

Não quis, sobrando tempo, fazer conta,
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.

Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!
Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,

Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...

Frei António das Chagas
(1631-1682, Antologia Poética)

LIRISMO CAINITAPor Mariana Machado de FreitasDeus me livre alguém descubra Que no fundo bom não sou.Eu teria, enfim, ven...
04/01/2020

LIRISMO CAINITA
Por Mariana Machado de Freitas
Deus me livre alguém descubra
Que no fundo bom não sou.
Eu teria, enfim, vencido,
Que sair da distração
E teria que escolher
Um rumo e geografia,
Ou a do alto, sublime
Ou a que embaixo se enfia.
Enquanto não me descobrem
Não me descubro, tampouco.
Nos disfarces que eu crio
Para acreditar um pouco.
Vivo em sossego, em paz.
Me inquietaria bem mais
Se cru mirasse o espelho
E me visse liso em pelo.
Deus me livre e defenda
Descobrir que bom não sou.
Livre e defenda bem mais
Ser distinto aos animais.
Posto que vive, enfim
O lirismo de Caim,
Escravo da própria crença
Como se tudo mereça.
Deus me livre ter, assim
Visão tão clara de mim.
Teria de decidir se, de fato,
O bem me apraz ou o teatro.

(09/11/2019)
Imagem: "Caim mata Abel", Daniele Crespi, 1618.

À CHAMA DE UMA VELAPor Erick FerreiraHá uma certa experiência interior, comum há outros séculos, que o homem moderno só ...
04/01/2020

À CHAMA DE UMA VELA
Por Erick Ferreira

Há uma certa experiência interior, comum há outros séculos, que o homem moderno só poderá experimentar quando um "black-out" atinge sua cidade e o faz recolher-se; desligar-se da vida digital e voltar ao estado analógico -- do qual já havia até perdido a sensação --, e encarar o silêncio sob a luz bruxuleante de uma vela.

À chama de uma vela, ou uma lamparina, muitas gerações cresceram e as melhores ideias nasceram. A modernidade aboliu este velho estado, o fez desagradável aos olhos de todos, deixou em seu lugar inegáveis vantagens tecnológicas, mas roubou algo precioso, do qual depende a própria sanidade do homem: silêncio, solidão e reflexão; a beleza de um céu estrelado; o grunhido e cricrilar nas florestas... Um mundo fabuloso de reflexão que nenhuma maravilha digital pode substituir, onde a vela era a luz que dissipava a escuridão da noite sem lhe roubar o encanto e o mistério. Estava certo Bachelard ao dizer que "a chama de uma vela fazia os sábios pensarem". Não foi à toa que as grandes religiões conferiram à vela um caráter simbólico e sagrado que nem as mais fantásticas inovações da eletricidade foram capazes de substituir. Luminarias de neon, luzes incandescentes, alogêneas, fluorescentes e de led, ainda são insignif**antes perante o mistério que uma simples vela evoca. Não há rito onde esses luzeiros da humanidade não se façam presentes, e quando elas faltam, o cenário f**a um pouco incompleto. E as Igrejas, onde ardem as velas possuem um brilho e um mistério que nem as lancinantes luzes de Las Vegas podem superar. As noites das metrópoles não possuem a serenidade e a paz das humildes noites no sertão, sob o céu estrelado e os contos envolventes do povo.

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