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Ukraïner em Português A verdade sobre a Ucrânia em português
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As forças de defesa da Ucrânia continuam a atacar com êxito alvos militares na Federação Russa e nos territórios ucrania...
19/06/2024

As forças de defesa da Ucrânia continuam a atacar com êxito alvos militares na Federação Russa e nos territórios ucranianos ocupados. Em especial, em 10 de junho, foram atingidos sistemas de mísseis antiaéreos e estações de radar na Crimeia. Os EUA levantaram a proibição de fornecimento de armas à 12.ª Brigada das Forças Especiais Azov da Guarda Nacional da Ucrânia. Em 14 de junho, a Ucrânia devolveu os corpos de 254 soldados.

Esta é uma reportagem sobre duas pessoas que, na confusão da catástrofe causada pela explosão russa da central hidroelét...
06/06/2024

Esta é uma reportagem sobre duas pessoas que, na confusão da catástrofe causada pela explosão russa da central hidroelétrica de Kakhovka, aproveitaram uma oportunidade para sair da cidade ocupada de Oleshky. Pode-se dizer que tiveram muita sorte, pois os residentes da margem esquerda inundada do rio Dnipró ficaram encurralados quando os ocupantes bloquearam a sua evacuação, dispararam contra os que queriam sair por conta própria e, claro, mentiram dizendo que “está tudo bem, não há motivo para pânico”.

Encontrámos Andrii, de 56 anos, e Yuliia, de 53, em Kherson, um dia depois de terem chegado à zona controlada pela Ucrânia, vindos da zona ocupada de Oleshky. Trouxeram-lhes roupa limpa. De seguida, o casal planeava ir para a região ocidental da Ucrânia para visitar a filha e os netos. Andrii e Yuliia mostraram o vídeo do primeiro gelado comido em ano e meio, em Kherson, e depois recordaram os horrores que viveram e começaram a chorar.

*Os nomes dos entrevistados foram alterados por razões de segurança

Oleshky é uma cidade situada na margem esquerda do rio Dnipró, que tem estado sob ocupação desde o início da guerra em grande escala. Na sequência do ataque terrorista massivo, realizado pelos militares russos, em 6 de junho de 2023, que destruiu a barragem da central hidroelétrica de Kakhovka, dezenas de povoações a jusante ficaram inundadas ou completamente cobertas por água do rio. Em 14 de junho de 2023, 3.103 casas estavam inundadas, tendo em cerca de 500 a água saído em 24 horas.

— A barragem explodiu — disse um amigo a Andrii ao telefone. Eram sete da manhã de terça-feira. A distância entre Oleshky e a central hidroelétrica de Kakhovka é de cerca de 50 quilómetros, pelo que o som da explosão não chegou até eles. Os habitantes souberam da inundação iminente através de amigos que telefonaram, da televisão ucraniana ou da Internet. A administração da ocupação não informou os habitantes locais sobre a inundação que se aproximava.

Sem incomodar Yuliia, Andrii saiu da cama e, pela primeira vez desde o início da ocupação, tirou três espingardas do seu esconderijo. A situação podia trazer de tudo. O homem sentia-se pesado a pensar no desastre que ele e a mulher iriam enfrentar em breve. Mas, ao mesmo tempo, surgiu dentro dele a esperança de que tudo isto, ou seja, a vida sob ocupação russa, chegasse finalmente ao fim.

Andrii levou o seu barco para o quintal e baixou-o do atrelado, colocou dois remos e uma lona no interior, e amarrou uma extremidade da corda ao barco. Depois, através de uma janela aberta no segundo andar, atirou a corda para o seu quarto e atou a outra extremidade para evitar que o barco fosse arrastado pela água.

À uma da manhã, Andrii ouviu o som da água. Abriu a janela. Cães ladravam e pessoas gritavam ao longe. Ele e a mulher saíram para a rua. A estrada estava inundada. Uma mulher com uma lanterna estava do outro lado da água e observava as ondas a inundar a rua. O casal decidiu regressar a casa enquanto ainda podia passar em terra firme. A água aproximava-se demasiado depressa.

Na quinta-feira, paletes, betoneiras, frigoríficos, terraços de madeira, etc., flutuavam corrente abaixo. A casa de um dos vizinhos foi arrancada e flutuou para o mar. A água estava agitada.

Ao fim da tarde, Andrii reparou que a corrente tinha feito um grande corredor até ao rio, com cerca de 50 metros de largura, abrindo caminho para Kherson. Mas era perigoso navegar até lá por causa da descida de um metro na água. No entanto, a esperança cresceu dentro dele. Regressou a casa.

Yuliia tinha medo de água e quase nunca tinha entrado num barco, mesmo antes da guerra, por isso não queria aceitar a ideia do marido de sair de Oleshky pelo caminho que tinha surgido. Mas Andrii insistiu, dizendo que só precisavam de atravessar o banco de areia e que depois os salvadores estariam à espera.

— É como se estivéssemos em Veneza! — brincou. Depois de olhar para as fezes que flutuavam na água, misturadas com os brinquedos das crianças, e de seguida para o magnífico jardim inundado, que ela tinha cultivado com tanto esforço, Yuliia concordou.

Em 31 de maio, não só 70 ucranianos e 5 ucranianas regressaram do cativeiro, mas também foram entregues à Ucrânia os cor...
05/06/2024

Em 31 de maio, não só 70 ucranianos e 5 ucranianas regressaram do cativeiro, mas também foram entregues à Ucrânia os corpos de 212 defensores mortos. Alguns parceiros ocidentais autorizaram a Ucrânia a usar as armas que lhe forneceram em ataques em território russo. As forças de defesa da Ucrânia atacaram uma travessia de ferry no território temporariamente ocupado da Crimeia, que constitui uma importante ligação logística para as tropas russas. A Rússia prossegue as suas tentativas de ataque, nomeadamente em Slobozhánshchyna, e continua a bombardear infraestruturas energéticas.

Lidar com as sirenes de ataque aéreo em abrigos ou caves, com sons de explosão quase diários, e com a separação forçada ...
01/06/2024

Lidar com as sirenes de ataque aéreo em abrigos ou caves, com sons de explosão quase diários, e com a separação forçada de seus entes queridos, que ora evacuam, ora vão para a guerra. Infelizmente, esta é a realidade das crianças da Ucrânia moderna.

Desde 2014, a Rússia tem utilizado quase todos os métodos concebíveis para conquistar a Ucrânia. A ocupação física e mental das crianças ucranianas – e, frequentemente, o seu assassinato – é um desses métodos. Infelizmente, não se sabe com precisão quantas crianças ucranianas se tornaram reféns dos russos. Forçosamente transferidas, raptadas, ou aquelas que nunca deixaram os territórios temporariamente ocupados, todas são privadas de acesso à língua e à educação ucranianas. Vêem-se numa situação onde a única possibilidade de obter algum conhecimento é frequentar uma escola russificada ou russa.

O mais importante é não sucumbir à narrativa propagandista russa de que estas crianças são uma “geração perdida” da Ucrânia. Porque perdê-las é exatamente o que acontecerá se o mundo as isolar. Não podemos perder a batalha pelas crianças ucranianas.

Todos os meses de junho, o Dia Mundial da Criança é celebrado. Apesar das dificuldades associadas à guerra, as crianças ucranianas também merecem as alegrias da infância. No entanto, a guerra forçou-as a amadurecer depressa: algumas já angariam fundos para o exército, ajudam a tecer redes de camuflagem, ou participam nos eventos solidários para apoiar os defensores da Ucrânia.

Na semana passada, as forças de defesa ucranianas abateram dois aviões Su-25 inimigos e atacaram um centro de comunicaçõ...
01/06/2024

Na semana passada, as forças de defesa ucranianas abateram dois aviões Su-25 inimigos e atacaram um centro de comunicações na Crimeia temporariamente ocupada. O exército russo prossegue as tentativas de avanço em Slobozhánshchyna e continua a atacar infraestruturas civis em Kharkiv. Mais especificamente, em 23 de maio, a Federação Russa atacou uma das maiores tipografias ucranianas, a Factor-Druk, deixando 7 mortos e 21 feridos. Em 25 de maio, a Federação Russa lançou bombas aéreas guiadas contra a loja de materiais de construção Epicentr, quando se encontravam cerca de duzentos empregados e clientes no local. Até à manhã de 27 de maio, 16 pessoas tinham sido dadas como mortas e 45 como feridas, com operações de salvamento em curso.

O Kremlin investiu décadas e milhares de milhões de dólares no estabelecimento de um pilar no mercado energético ocident...
25/05/2024

O Kremlin investiu décadas e milhares de milhões de dólares no estabelecimento de um pilar no mercado energético ocidental. Através de táticas que incluíam a manipulação dos preços, a corrupção e o desenvolvimento de condutas não rentáveis, a Rússia tornou-se um ator dominante no sector do petróleo e do gás da UE. No entanto, o objetivo não era apenas obter receitas, mas influência política.

A decisão da UE de rejeitar os fornecimentos de energia russos, de proibir o consumo de petróleo e de aplicar mecanismos de limitação dos preços teve repercussões na economia russa. Em janeiro de 2023, as receitas orçamentais da Rússia eram 35% inferiores às do ano anterior. Mas Moscovo continua a financiar a guerra contra a Ucrânia a partir desta indústria, apoiada pela fraca aplicação das sanções e pela venda de recursos à China e à Índia com grandes descontos.

Todos os dias, os ucranianos seguem as notícias sobre o número de mísseis e drones que as forças de defesa aérea consegu...
22/05/2024

Todos os dias, os ucranianos seguem as notícias sobre o número de mísseis e drones que as forças de defesa aérea conseguiram abater. Estes números significam vidas salvas. Os sistemas de defesa aérea são as armas que protegem as cidades e as aldeias ucranianas. E muitas tragédias teriam sido evitadas se tivéssemos mais equipamento para repelir os ataques aéreos que a Rússia, um Estado terrorista, envia quotidianamente contra os ucranianos numa chuva mortal de mísseis.

—Lembro-me de como fomos colocados na carruagem nº 44. Lágrimas, gemidos, gritos - e o comboio começou a andar. Quando e...
19/05/2024

—Lembro-me de como fomos colocados na carruagem nº 44. Lágrimas, gemidos, gritos - e o comboio começou a andar. Quando estávamos a atravessar a fronteira da Crimeia, todos no comboio começaram a cantar uma canção qualquer. Cantavam e choravam enquanto olhavam para trás, — das memórias do tártaro da Crimeia Dilaver Ennanov.

Em 10 de Maio de 1944, Lavrentiy Beria, numa carta dirigida a Estaline (Stalin), descreveu acusações forjadas contra os tártaros da Crimeia, apelidando-os de desertores e descrevendo "as acções traiçoeiras dos tártaros da Crimeia contra o povo soviético" e "a indesejabilidade da continuação da residência dos tártaros da Crimeia nos arredores da fronteira da União Soviética".

Já a 18 de Maio de 1944, teve início a deportação forçada em massa dos tártaros da Crimeia (em tártaro da Crimeia, qırımtatarlar ou qırımlılar).

Em média, as pessoas tinham 15 minutos para fazer as malas. Oficialmente, uma família podia levar até 500 kg de pertences, mas, na realidade, limitavam-se à bagagem de mão (muitas vezes, sem ela).

A deportação forçada era efectuada pela polícia do NKVD (Comissariado do Povo para os Assuntos Internos), o principal órgão punitivo e o centro do terror político em massa da URSS.

— De manhã cedo, os soldados soviéticos invadiram a casa: "Façam as malas! Traidores, vão ser despejados'. Para onde? Para quê? Porquê? Perdidas e assustadas, as crianças Urmus, Leniye, Seitdzhelil e Sundus choravam sem perceber o que se estava a passar. Peguei primeiro o Alcorão e depois a frigideira e a cezve para fazer café. Quando nos levaram para fora, todos à nossa volta estavam a chorar e a gritar, — das memórias da tártara da Crimeia Usniye Cholpan.

A deportação dos tártaros da Crimeia foi concluída em 20 de Maio de 1944. Contas feitas, mais de 180 mil pessoas foram deslocadas à força para a Ásia Central e para algumas regiões do nordeste da Rússia. Durante três dias, os órgãos punitivos enviaram da península mais de 70 comboios , cada um com 50 carruagens apinhadas de gente.

Durante o primeiro ano de exílio, mais de 30 mil tártaros da Crimeia morreram de fome, doença e exaustão.

Até 1956, os Qırımtatarlar foram considerados exilados para toda a vida e não tinham o direito de regressar. As tentativas de regresso seriam punidas com 20 anos nos campos de trabalhos forçados. Em 1967, foram levantadas as acusações de colaboração em massa com os nazistas, mas os tártaros da Crimeia continuaram a não ser autorizados a regressar à sua península natal. O repatriamento em massa só começou em 1989.

Mustafa Dzhemilev, figura pública e líder do movimento nacional tártaro da Crimeia, fala sobre a eterna irreconciliabilidade entre os tártaros da Crimeia e as autoridades russas soviéticas, para quem a Segunda Guerra Mundial foi o pretexto para a "limpeza" final da Crimeia do seu povo indígena.

Em 2014, quando a Península da Crimeia foi ocupada, os órgãos punitivos russos começaram de novo a perseguir os tártaros da Crimeia.

— Já era tempo, uma grande parte do território ucraniano fazia parte do Canato da Crimeia. Agora fazemos parte da Ucrânia. De vez em quando, trocamos de estatuto, mas se nos separarmos, a Ucrânia perder-se-á para nós. Por isso, isso nunca deve acontecer. Nós faremos parte da Ucrânia. Nós, os povos indígenas, somos os fundadores, somos uma parte do Estado ucraniano. É por isso que, na Ucrânia, vemos tudo o que é nosso, — Mustafa Dzhemilev

Em 2015, a Ucrânia reconheceu a deportação de Qırımtatarlar como genocídio.

Em 2021, foi aprovada uma lei que concede aos tártaros da Crimeia o estatuto oficial de povo indígena da Ucrânia, juntamente com outros povos da Crimeia, como os caraítas e os crymchaks.

18 de Maio é o Dia da Memória das Vítimas do Genocídio do Povo Tártaro da Crimeia.

Saiba mais sobre a história dos tártaros da Crimeia no nosso projecto de documentário:
https://ukrainer.net/crimean-tatars-who-are-they/

18/05/2024

Em 18 de maio de 1944, ocorreu um dos mais trágicos eventos na história dos tártaros da Crimeia, um povo indígena que vive na Ucrânia.

Ao despertar do dia, sem quaisquer avisos, soldados soviéticos vieram aos seus lares na Crimeia e ordenaram que fizessem as malas. As pessoas tinham apenas 10 minutos para fazê-lo, sendo, então, levadas para as estações de comboio, de onde eram expulsas da península em vagões destinados a gado e mercadorias. Foram levadas para milhares de quilómetros longe de casa, para as regiões remotas da Ásia Central e da Sibéria.

Estatísticas oficiais mostram que 191.044 tártaros da Crimeia foram deportados, enquanto um autocenso conduzido pelo Movimento Nacional dos Tártaros da Crimeia estima o número em 423.100. Durante os primeiros anos após a deportação, entre um terço e metade da população tártara pereceu.

Os tártaros da Crimeia foram proibidos de voltar para casa praticamente até ao colapso da União Soviética, só podendo regressar à sua terra natal em 1989.

Neste vídeo, Pakise Seitosmanova, uma sobrevivente da deportação, fala sobre o jarro que levou consigo no dia da deportação, quando ainda era criança, o qual conseguiu preservar durante toda a sua vida.

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Todos os anos, a 16 de maio, os ucranianos celebram o Dia da Vyshyvanka.Para os ucranianos, a vyshyvanka (camisa bordada...
16/05/2024

Todos os anos, a 16 de maio, os ucranianos celebram o Dia da Vyshyvanka.

Para os ucranianos, a vyshyvanka (camisa bordada) não é uma peça de vestuário só usada em eventos dedicados à cultura tradicional. É a roupa que se usa diariamente: a qualquer momento, é possível ver pessoas com uma camisa tradicional no escritório, num centro comercial, nos transportes públicos ou simplesmente na rua. Na Ucrânia, as vyshyvankas não são vendidas apenas em lojas de recordações, são também criadas para o mercado nacional e os designers ucranianos contemporâneos oferecem incansavelmente novas e mais modernas adaptações das vyshyvankas.

Mas é no dia 16 de maio que as ruas da Ucrânia ficam particularmente cheias de pessoas vestidas com camisas bordadas. Ao vestirmos a roupa bordada neste dia, demonstramos a nossa identidade, unidade e amor pela nossa cultura nativa.

Este ano, o nosso fotógrafo voluntário Herman Krieger captou o aspeto das pessoas num dos bairros de Kyiv.

«Há um grande mapa da Crimeia no corredor do seu apartamento em Kyiv. Tem os nomes antigos das povoações, em tártaro da ...
10/05/2024

«Há um grande mapa da Crimeia no corredor do seu apartamento em Kyiv. Tem os nomes antigos das povoações, em tártaro da Crimeia, como existiam antes da revolta de outubro de 1917. O mapa não está lá para lembrar de quem é a Crimeia. É uma garantia de que Mustafa Dzhemilev regressará definitivamente à península. Tal como fez em 1989. Porque a Crimeia é a sua pátria, o seu lar.»

Este é um excerto da história sobre o líder nacional do povo tártaro da Crimeia, Mustafa Dzhemilev, gravada por Khrystyna Kotsira, em 2021, para a revista "História Local".

— Em 1968, após a ocupação da Checoslováquia, começaram as detenções em massa de dissidentes. Nessa altura, eu vivia com a minha irmã. Ao fim da tarde, reuni todos os meus documentos para os destruir de manhã. E pela janela vi um investigador. Saltei pela janela com o material, vestido com uma T-shirt, calças e meias. No quintal, escondi-me no milho. Regressei à noite. A minha irmã estava a chorar; tinham-lhe levado o marido. E deixaram-me uma notificação para interrogatório. O meu genro foi condenado a três anos.

Mustafa Dzhemilev andou à solta durante algum tempo. Em setembro de 1969, foi preso. Por "divulgar ficções deliberadamente falsas que difamam o Estado soviético e o sistema social".

Dois anos mais tarde, Mustafa foi novamente preso. Primeiro, durante 15 dias, por hooliganismo; depois foi condenado a um ano de prisão e teve outros processos fabricados contra ele. Declarou uma greve de fome.

— Apercebi-me de que iriam acrescentar um artigo penal ao meu ficheiro e julgar-me sem me deixarem sair da prisão. Por isso, entrei em greve de fome. Escrevi uma carta ao académico Andrei Sakharov. Consegui passá-la. E o Sakharov iniciou uma campanha sobre a minha greve de fome.

No sétimo mês de greve de fome, o jornal britânico The Times noticiou que Dzhemilev teria morrido na prisão de Omsk.

— Aconteceu o seguinte: a minha mãe veio a Omsk para me ver. E o chefe do campo disse-lhe: "O seu filho não está aqui, vá-se embora". E ela foi a Moscovo ter com Sakharov, em lágrimas. Sakharov e Hryhorenko (Petro Hryhorenko foi um ativista ucraniano dos direitos humanos e dissidente soviético) deram uma conferência de imprensa e anunciaram que era possível que Dzhemilev tivesse morrido. A informação correu o mundo. Na Turquia, cantaram orações fúnebres nas mesquitas, compuseram poemas e destruíram consulados soviéticos.

Depois de regressar do campo, Dzhemilev foi mantido sob vigilância. Dirigiu-se à direção da Assembleia da URSS com um pedido de revogação da sua cidadania e de autorização para abandonar a União. Acrescentou que estava disposto a mudar de opinião se os tártaros da Crimeia fossem autorizados a regressar a casa.

Em vez disso, em 1979, Dzhemilev foi condenado a um ano e meio de prisão. A sentença foi alterada para quatro anos de exílio na Yacútia.

— Os nossos amigos enviaram um homem jovem e forte para viver perto de mim e para me guardar. Ele falou-me de uma mulher patriota e bonita. [...] Ela era tão patriota que queria vender a casa, ir viver com os pais e doar o dinheiro ao movimento nacional tártaro da Crimeia. [...] Mais tarde, houve muitas piadas sobre o porquê de ela ter casado comigo. Eu respondia que ela tinha ouvido na rádio que eu não comia durante 303 dias, por isso pensou que se livraria das tarefas da cozinha.

Em fevereiro de 1983, terminou o seu exílio e Dzhemilev deixou a Yacútia em direção à Crimeia. Para o local onde nascera, do qual não se lembrava de todo, e com o qual sonhara como uma terra prometida durante 39 anos da sua vida. A família Dzhemilev permaneceu na península apenas três dias. Foram colocados num carro e levados para fora da Crimeia.

Dzhemilev foi preso em novembro de 1983, seis meses após o seu regresso do exílio. Foi condenado a três anos de prisão. Em 1986, foi aberto outro processo, mas permaneceu em liberdade devido à pressão de Reagan sobre Gorbachev; os EUA defenderam os presos políticos do Kremlin.

Hoje, Dzhemilev está a ser julgado novamente. Na ausência do arguido. Desta vez, são as autoridades russas. Os ocupantes russos na sua Crimeia natal montam o seu espetáculo: abrem sessões, interrogam testemunhas, criam a aparência de um processo legal. A própria casa de Dzhemilev está fechada desde 2014.

Os EUA e a Europa enfrentam uma ameaça de segurança iminente sob a forma da China, uma ameaça potencialmente mais perigo...
09/05/2024

Os EUA e a Europa enfrentam uma ameaça de segurança iminente sob a forma da China, uma ameaça potencialmente mais perigosa do que a Rússia. Se não responderem prontamente a esta ameaça à segurança, as democracias ocidentais poderão ter de despender recursos e finanças significativos para fazer face a uma potencial invasão de Taiwan.

De acordo com um relatório da CNN, as autoridades francesas indicaram que a China fornece a Rússia com artigos como capacetes, coletes à prova de balas e tecnologias de dupla utilização. Emmanuel Bonne, conselheiro do Presidente francês Emmanuel Macron, informou que Pequim está a reforçar significativamente as capacidades militares da Rússia.

A China desempenha um papel fundamental no apoio à guerra da Rússia na Ucrânia, contrapondo os efeitos das sanções ocidentais. Um estudo realizado pelo Grupo de Especialistas em Sanções à Rússia revelou que 67% dos componentes utilizados em três modelos de drones empregados pela Rússia em ataques contra a Ucrânia têm origem na China, sendo que 17% passam por Hong Kong.

— A realidade é que a Rússia e a China têm estado a travar uma guerra híbrida contra as democracias e estão prontas para passar a uma guerra direta. Elas sabem o que querem. A Rússia quer rever o cenário pós-Guerra Fria a seu favor. A China quer substituir os Estados Unidos como líder. A política ocidental atual permite à China roubar propriedade intelectual e extorquir tecnologia e dados ocidentais em troca de acesso ao mercado. Se continuarmos nesta trajetória, os nossos inimigos provavelmente prevalecerão — diz Andrew Michta, diretor do Colégio de Estudos Internacionais e de Segurança do Centro Marshall.

O controlo das exportações e a aplicação de sanções, mais do que apenas números, são essenciais para impedir que regimes autoritários como a Rússia e a China obtenham tecnologia crítica.

Na semana passada, a Ucrânia celebrou a Páscoa ortodoxa. No domingo, os ocupantes atacaram o centro de Kharkiv, danifica...
09/05/2024

Na semana passada, a Ucrânia celebrou a Páscoa ortodoxa. No domingo, os ocupantes atacaram o centro de Kharkiv, danificando edifícios residenciais e infraestruturas civis. O Reino Unido garantiu à Ucrânia 3 mil milhões de libras (mais de 3,7 mil milhões de dólares) de ajuda militar anual, não se opondo à utilização de armas britânicas no território da Rússia. As forças de ocupação russas procuraram apoderar-se de solo ucraniano. Mais especificamente, o inimigo avançou em Ocheretyne (Donéchchyna) e continuou a atacar Chasiv Yar.

05/05/2024

Anatolii Boiko, de Volyn, faz obras de arte a partir de ovos. Existem muitas técnicas diferentes para pintar ovos de Páscoa na Ucrânia, utilizando sobretudo cera e tinta. Mas o artista queria criar algo especial, pelo que inventou uma técnica única. “Veste” os ovos com metal, decora-os com pedras preciosas e dá-lhes uma forma invulgar.

Graças a esta técnica, Anatolii tornou-se conhecido em todo o mundo.

«Nessa noite, animais predadores, lobos ou chacais, uivavam sem parar. "Agora vão comer-nos", chorava o menino de três a...
04/05/2024

«Nessa noite, animais predadores, lobos ou chacais, uivavam sem parar. "Agora vão comer-nos", chorava o menino de três anos, tentando abafar os sons terríveis. A mãe sentou-o ao colo, abraçou-o e acalmou-o: "O pai não vai deixar que ninguém nos coma. Não te preocupes, Mustafa". Numa noite fria de 1946, a família Dzhemilev estava a caminho da sua nova casa. Com a permissão do comandante.

— São as minhas primeiras recordações de infância — diz o dissidente e preso político Mustafa Dzhemilev, 75 anos após os acontecimentos. Está sentado numa confortável cadeira estofada no seu escritório, em Kyiv. A sala está decorada com objetos relacionados com a Crimeia. Na parede, há um quadro de Bakhchisarai.»

Este é um excerto da história sobre o líder nacional do povo tártaro da Crimeia, Mustafa Dzhemilev, gravada por Khrystyna Kotsira, em 2021, para a revista "História Local".

— Tinha sete meses de idade quando fomos deportados (em 1944, as autoridades soviéticas deportaram à força 200 a 400 mil tártaros da Crimeia para o Extremo Oriente e a Ásia Central). A minha família foi parar ao Uzbequistão. [...] Em muitos sítios, os habitantes locais receberam os comboios com uma chuva de pedras. Mas quando viam mulheres e crianças a sair dos comboios, acalmavam-se. A discriminação era evidente. Estávamos sob a supervisão do comandante e os pais apresentavam-se todas as semanas. Só tínhamos o direito de circular num raio de quatro quilómetros.

— Era março de 1953. Tínhamos o rádio ligado. A voz de Levitan (locutor soviético – ed.) dizia que Estaline tinha morrido. E o meu pai disse: "Finalmente, o cão morreu". E eu vim para a escola neste estado de espírito. E toda a gente estava a chorar. A soluçar. Como se o mundo estivesse a acabar. Só os tártaros da Crimeia não choravam. Reshat Bekmambetov, o nosso líder, reuniu toda a gente e disse: "Ouçam, todos estão a chorar, exceto nós. Temos de chorar. Caso contrário, os nossos pais serão presos". Ele trouxe cebolas.

Terminada a escola, Mustafa Dzhemilev foi para Tashkent para entrar na Faculdade de Língua e Literatura Árabe. No entanto, o chefe do comité de admissão aconselhou-o secretamente a nem sequer tentar, pois tinha instruções para não aceitar tártaros da Crimeia. Mais tarde, Dzhemilev compreendeu o porquê. Todos os licenciados em árabe eram empregados no estrangeiro e tornavam-se automaticamente agentes do KGB. E os tártaros da Crimeia eram maus agentes.

— Um dia, estava sentado na secção de livros raros [na biblioteca]. Dois jovens entraram e falaram um com o outro em tártaro da Crimeia. Um deles aproximou-se de mim e disse: "Estou a ver que lê em árabe. Pode traduzir-nos alguma coisa?". Eu traduzi. E depois ele perguntou-me: "Porque é que tem todos os livros sobre a Crimeia?" Perguntou em russo. Respondi-lhe que era tártaro da Crimeia. Eles ficaram muito contentes. Disseram-me que estavam a envolver os jovens e a criar uma organização destinada a fazer regressar os tártaros da Crimeia à sua terra natal.

— Desde então, toda a gente ficou sob a mira da KGB. Dois foram expulsos do instituto. Eu fui despedido da fábrica. A vigilância era constante. Apercebi-me de que, mais cedo ou mais tarde, seria preso. Comecei a estudar o código penal, os artigos, os comentários, as decisões dos plenários dos tribunais e voltei a ler os processos de Nuremberga.

Mustafa conta que conseguiu entrar numa escola superior agrícola em Tashkent para estudar uma especialidade que não lhe interessava. Dedicava-se, paralelamente, a questões relacionadas com os tártaros da Crimeia. Escreveu "Um breve esboço histórico da cultura turca na Crimeia nos séculos XIII-XVIII". O KGB considerou esta obra "uma obra com pendor antissoviético" e com posições nacionalistas. No seu terceiro ano, Dzhemilev foi expulso da escola.

— Ele [agente do KGB] disse: "Permitiremos que continue os seus estudos se escrever uma nota de arrependimento, prometer tornar-se uma pessoa soviética normal e ajudar as autoridades na luta contra os apóstatas". Estava a recrutar-me como informador. Disse imediatamente ao reitor que levaria os documentos. Felicitei o oficial da KGB por mais uma vitória sobre a contrarrevolução. Depois disso, ele chamou-me "id**ta" ou "sacana", qualquer coisa do género.

No dia seguinte, Dzhemilev recebeu um aviso de recrutamento. Recusou-se a servir. Explicou: "Recuso-me a servir no exército soviético porque não tenho pátria para defender. E não acredito que tenha inimigos fora da União Soviética". Isto valeu-lhe o seu primeiro processo criminal e a prisão.

No total, Mustafa Dzhemilev passaria 15 anos na prisão e no exílio, em várias partes da União Soviética, sem nunca desistir da luta pelo direito dos tártaros da Crimeia a regressarem à sua terra natal.

"Glória à Ucrânia" e mais: slogans ucranianos famososExistem slogans e divisas não oficiais em diferentes países. Todos ...
24/04/2024

"Glória à Ucrânia" e mais: slogans ucranianos famosos

Existem slogans e divisas não oficiais em diferentes países. Todos eles expressam de forma sucinta um impulso nacional básico, como “Za wolność naszą i waszą” (Pela tua liberdade e pela nossa), na Polónia, e "Жыве Беларусь! Жыве вечна!" (Viva Belarus! Viva para sempre!), na Belarus. A saudação ucraniana mais popular é “Слава Україні – Героям слава” (Glória à Ucrânia – Glória aos Heróis), que se tornou particularmente popular durante a agressão russa. No entanto, existem outras expressões que simbolizam a luta ucraniana pela liberdade e independência. Os slogans tanto podem ter surgido há vários séculos como há décadas, mas todos mostram a força dos ucranianos. Criamos significados, utilizamo-los em conjunto, e eles ressoam em todos os cantos do país.

A língua sempre foi não só um meio de comunicação, mas também uma oportunidade de responder com rapidez e precisão às circunstâncias e aos novos tempos históricos. Porque a língua é também uma arma. A língua é que forma os pensamentos de toda uma nação, os termos que usamos para dizer ao mundo de hoje: "Stand with Ukraine".

“Glória à Ucrânia”

O slogan "Glória à Ucrânia" surgiu em Kharkiv, no final do séc. XIX, e originalmente era "Glória à Ucrânia – Glória por toda a terra!". Esta era a saudação do Partido Revolucionário Ucraniano (1900-1905), sendo também usada nos tempos da República Popular da Ucrânia (1917-1921).

No romance "Kholodnyi Yar", o escritor e ativista Yurii Horlis-Horskyi recorda o lema "Glória à Ucrânia – À Ucrânia glória".

Na sua forma moderna, o slogan foi difundido entre os membros da "Liga dos Nacionalistas Ucranianos", entre 1925-1929, que mais tarde fundaram a Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN).

Em 1941, os membros da OUN adotaram as palavras "Glória à Ucrânia" e a resposta "Glória aos Heróis", como saudação oficial.

Mais tarde, os soviéticos proibiram o slogan e quaisquer demonstrações de revolta. O slogan ressurgiu na transição dos anos 80 para os 90, em manifestações e protestos pela independência da Ucrânia na Halychyná e na Transcarpátia, e durante a Revolução no Granito, em Kyiv, onde estiveram pessoas de toda a Ucrânia. Então, o lema foi complementado com as expressões "Glória à nação! Morte aos inimigos!" e "Ucrânia acima de tudo!".

Atualmente, o lema "Glória à Ucrânia – Glória aos Heróis" está associado à Revolução Laranja, à Revolução da Dignidade e à guerra russo-ucraniana. É a saudação oficial das Forças Armadas e da Polícia Nacional, desde 2018. É proferido nos funerais dos soldados mortos de todas as unidades das Forças de Defesa. As mesmas palavras são utilizadas para saudar em casa os prisioneiros de guerra libertados.

"Os heróis não morrem"

A frase teve origem na Revolução da Dignidade. As palavras "Os heróis não morrem" foram usadas na cerimónia fúnebre da Centena Celestial que morreu pelo futuro europeu da Ucrânia. O slogan também é ouvido nos funerais dos soldados ucranianos mortos durante a guerra russo-ucraniana.

O lema tem uma sequência: "Os heróis não morrem, morrem os inimigos". Não se sabe exatamente quando surgiu, mas a frase aparece na letra da canção de 2015 com o mesmo nome da banda "Persha Línia".

"Viva a Ucrânia livre"

A frase surgiu entre os camponeses ucranianos durante a luta contra os bolcheviques. Estas palavras foram escritas em cartazes e utilizadas para concluir os discursos dos líderes da resistência, sublinhando os motivos pelos quais os ucranianos estavam a lutar.

Atualmente, os líderes estrangeiros terminam os seus discursos de apoio aos ucranianos com o slogan "Viva a Ucrânia livre". Por exemplo, estas palavras foram utilizadas nas saudações do Presidente polaco Andrzej Duda no Dia da Independência da Ucrânia em 2022.

"Nosso Pai é Bandera"

Em 2020, surgiu na Internet a canção "O nosso pai é Bandera, a mãe é a Ucrânia", cantada por finalistas da Universidade Nacional Yurii Fedkovych de Chernivtsí. A canção, interpretada por ocasião do aniversário de Stepan Bandera, tornou-se viral no TikTok. Os cantores afirmam que a ouviram pela primeira vez do reitor do Centro Espiritual da Santíssima Trindade de Danylo Halytskyi da Igreja Ortodoxa da Ucrânia, em Ternopil, o Padre Anatolii Zinkevych.

Ao mesmo tempo, os folcloristas referem que a composição é semelhante às canções do Exército Insurreto Ucraniano (1942-1960) com uma melodia que lembra "Oh, na mata, na mata, debaixo de um carvalho verde, há um rebelde gravemente ferido".

Em 2021, "Nosso Pai é Bandera" foi a canção mais procurada no YouTube e, em 2022, tornou-se um dos símbolos da luta ucraniana contra os invasores russos.

Esta canção é um exemplo de criação moderna de temas que só mais tarde se popularizam.

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