04/08/2025
Febre? Antibiótico.
Tosse? Antibiótico.
Essa cultura de tratar qualquer coisa com antibiótico, tão comum no Brasil, tá na mira da ciência (e com razão).
Um estudo publicado esse ano no Journal of Infectious Diseases acompanhou mais de 700 mil crianças e jogou luz num problema sério: o uso precoce e repetido de antibióticos na infância aumenta, e muito, o risco de doenças crônicas.
⚠️ Para você ter uma ideia, entre as crianças que tomaram antibióticos com frequência entre o nascimento e os dois anos de idade, o risco de asma subiu 24%. A alergia alimentar, 33%. Em quem tomou cinco ou mais ciclos, os números dispararam: 52% e 53%, respectivamente. E o dado que mais assusta: risco 73% maior de déficit intelectual.
Sim, setenta e três por cento.
O que tá por trás disso? A resposta pode estar na microbiota intestinal. Antibiótico não escolhe: mata as bactérias ruins e leva junto as boas. O resultado? Um verdadeiro caos bem no auge do desenvolvimento infantil.
É absolutamente normal que uma criança pequena tenha de 8 a 12 infecções febris por ano. Quase todas virais, passageiras, sem necessidade de antibiótico. Mas a febre assusta. A ansiedade dos pais e a ideia equivocada de “é melhor prevenir” viram a receita perfeita pro uso desnecessário.
A Organização Mundial da Saúde já bateu o martelo: a resistência aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde pública global.
E esse alarme existe justamente porque a cultura do uso desse medicamento está tão enraizada entre nós.
Dra. Virginia Oliveira Ohana
Pneumologista
CRM 9124-PA | RQE 5188