10/05/2023
OPINIÃO I Sandra Marques
A floresta, mais uma vez...
Todas as pequenas vitórias da nossa floresta devem ser assinaladas e celebradas e, portanto, foi com satisfação que soube, há já algum tempo e via Movimento 2030 - que tem estado na linha da frente da luta por esta causa colectiva - da Resolução nº 19/2023 emanada da Assembleia da República, a recomendar ao governo um conjunto de medidas no sentido da protecção e valorização desta floresta, das quais se destacam claramente os seguintes pontos.
Que o governo português:
1 - Aumente a dotação financeira para a gestão do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar para além de, em articulação com a câmara municipal e as juntas de freguesia, garantir que todas as verbas provenientes da venda de madeira, da resinagem e de outras atividades diretamente relacionadas com a floresta são reinvestidas neste perímetro florestal.
2 - Inicie o procedimento de reavaliação do Plano de Gestão Florestal do Perímetro Florestal das Dunas de Ovar, através do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas;
8 - Garanta a integridade do perímetro florestal, continuando o mesmo propriedade e gestão pública.
É importante que todas as entidades públicas e órgãos de poder com interesse neste inestimável património florestal acolham as recomendações da AR e se alinhem no mesmo objectivo, transparente e irredutível, de defender um dos nossos activos mais preciosos.
Enquanto cidadãos desta terra, apaixonados pelo bem comum e gratos pelo contributo destes imponentes pinhais para a qualidade de vida local, continuaremos atentos ao desenrolar de todo este processo.
A CASA MORTUÁRIA
Arrancou, finalmente, a obra de construção da Casa Mortuária, há muito anunciada e, certamente, desejada pelos cortegacenses. Pessoalmente, tenho um sentimento um pouco dividido em relação a este projecto:
porque, se a vida é transitória, a passagem para a morte ainda o é mais. Não há dúvida de que devemos ter um local digno para chorar e honrar os nossos mortos mas - admito - choca-me um pouco a priorização e o valor avultado desta obra, numa freguesia pequena e cada vez menos populosa (vejam-se os resultados dos recentes censos), onde também o número de funerais, por força das circunstâncias, será tendencialmente cada vez mais reduzido.
Um pouco à semelhança do que defendia, em seu tempo, o visionário Marquês de Pombal, é importante enterrar os mortos, sim, mas mais ainda cuidar dos vivos. E a freguesia de Cortegaça continua a carecer, de forma gritante, de inúmeros equipamentos e investimentos fundamentais para a qualidade de vida de quem cá vive, das crianças pequenas aos jovens e, mais ainda, dos nossos idosos. Que não se reserve a estes últimos, que tanto já nos deram, um tratamento digno apenas na despedida.
E, para lá disso, se me permitirem dizê-lo, mantive sempre alguma implicância em relação à localização escolhida para esta obra.
A igreja matriz de Cortegaça afirmou-se, sobretudo em anos recentes, neste tempo de redes sociais, como um cartão postal da nossa vila e até do próprio concelho.
De certo modo, a construção da casa mortuária, tal como a desenharam - um bloco de betão volumoso e compacto -, vai alterar de forma impactante e irreversível a perspectiva sobre aquele local.
Desde logo, esconde-se a beleza dos azulejos que revestem os jazigos, e que constituem um belíssimo complemento ao revestimento da própria igreja. Retira-se, também, algum relevo ao cemitério antigo, que muito o merece.
Mas bom, o que está feito - ou em curso -, feito está. Garantida que f**a a despedida condigna aos nossos entes queridos, não esqueçamos, doravante, as necessidades dos vivos que em Cortegaça resistem.
In Povo de Cortegaça.