12/03/2022
“Este mistério é grande”: O ícone de Rupnik para o Encontro Mundial das Famílias
O episódio das bodas de Caná da Galileia está no centro do ícone do 10.º Encontro Mundial das Famílias: ao centro as figuras de Jesus e de Maria, à esquerda o rosto velado dos esposos, enquanto o servo que derrama o vinho tem as feições de S. Paulo, segundo a antiga iconografia cristã; é ele que afasta com a mão o véu e a exclamar, falando do Matrimónio: «Este mistério é grande; digo-o em referência a Cristo e à Igreja» (Efésios 5, 32).
O ícone revela como o amor sacramental entre homem e mulher é um reflexo do amor e da unidade indissolúvel entre Cristo e a Igreja: Jesus derrama o seu sangue por ela. É a imagem-símbolo escolhida para o Encontro programado para Roma, daqui a menos de um ano, de 22 a 26 de junho.
Realizada com cores vinílicas sobre gesso aplicado sobre madeira, é obra do jesuíta Marko Ivan Rupnik, sacerdote artista e teólogo. Predominam os tons quentes, tem um formato de 80x80 cm e intitula-se precisamente “Este mistério é grande”.
«Em Caná – explica o autor –, na transformação da água em vinho, abrem-se os horizontes do sacramento, isto é, da passagem do vinho ao sangue de Cristo. Paulo, com efeito, está a derramar o mesmo sangue que a Esposa recolhe no cálice». Com a esperança – acrescenta - «de que através desta pequena imagem possamos compreender» como «para nós, cristãos, a família» é a expressão do sacramento nupcial; e «isto muda totalmente o seu significado, porque um sacramento implica sempre a transformação».
No Matrimónio cristão, efetivamente, o amor dos esposos torna-se «participante do amor que Cristo tem pela Igreja. Nesse sentido, o Matrimónio tem uma dimensão eclesial e é inseparável da Igreja», assinala, citando Nikolaj Berdjaev, que escreveu como nas tradições cristãs o Matrimónio ainda não foi explorado, porque «com demasiada velocidade coberto com a família, mas segundo a natureza».
Após a oração e o logótipo, o ícone é o terceiro símbolo que é publicado como instrumento pastoral para a preparação e o caminho das famílias rumo ao Encontro de 2022. Os vídeos com as catequeses e as explicações do P. Rupnik, legendados em cinco línguas, estão na página do YouTube da diocese de Roma.
«A interpretação que emerge da imagem inspira-se no grande padre da Igreja siríaca S. Tiago de Sarug, que fala do «véu de Moisés», explica o autor. «Também a família, que por si faz parte de uma existência segundo a natureza como característica dos seres vivos, dos pássaros, dos peixes, dos animais..., em Cristo é transfigurada, porque pelo Espírito Santo é-nos dada a participação no amor de Cristo pela sua Igreja».
De resto, sublinha Rupnik, na imagem «torna-se manifesto que a família se desvincula do sangue como único facto natural para ser transfigurada segundo a união no sangue de Cristo, através do sacramento do Matrimónio, que manifesta o núcleo constitutivo da própria Igreja, como era já evidenciado por João Crisóstomo». Em síntese, «a família é uma realidade eclesial enquanto participação na vida de Cristo, de quem, como diria Nicolau Cabásilas, somos verdadeiramente consanguíneos».
“O amor familiar: Vocação e caminho de santidade” é o tema do Encontro, que será realizado em duas modalidades: o Vaticano será a sede principal, na qual decorrerão o Festival das Famílias, o Congresso Teológico-Pastoral e a missa, com a participação de delegados das conferências episcopais e dos movimentos ligados à pastoral familiar; e nas dioceses, os bispos poderão programar iniciativas análogas, utilizando os símbolos preparados para o Encontro Mundial.
Imagem fonte:
© Marko Ivan Rupnik | 2021