14/07/2022
REVOLUÇÃO FRANCESA
Até o século XVIII, a frança estava sob os domínios de um modelo absolutista de governo, onde o até então rei francês Luís XIV, personificava o próprio estado, e tinham os poderes de estado totalmente sob seu controle, de modo em que o legislativo, executivo e judiciário, não eram divididos entre instituições internas, e sim centralizadas no rei. Dito isso, é possível dizer que os franceses não eram cidadãos de um estado democrático constitucional, como conhecemos boa parte dos estados ocidentais modernos.
Na estrutura de poder absolutista, tínhamos algumas camadas, onde um seleto grupo de pessoas podiam aconselhar ou opinar em decisões reais, entretanto, é claro que não tinham poder para impedir ou mudar aquilo que vinha como a palavra do monarca. Nessa estrutura podemos destacar:
• Primeiro Estado: era representado pelos bispos do Alto Clero;
• Segundo Estado: tinha como representantes a nobreza, ou a aristocracia francesa – que desempenhava funções militares (nobreza de espada) ou funções jurídicas (nobreza de toga);
• Terceiro Estado: por sua vez, era representado pela burguesia, que se dividia entre membros do Baixo Clero, comerciantes, banqueiros, empresários, os sans-cullotes (“sem calções”), trabalhadores urbanos e os camponeses, totalizando cerca de 97% da população.
Vale ressaltar, que embora a nobreza e o alto clero estivessem mais próximos do monarca, os mesmos não tinham autoridade alguma, apenas relações de interesse comercial ou religioso. Ao longo da segunda metade do século XVIII, a França se envolveu em vários conflitos como A Guerra dos sete anos (1756-1763) contra a Inglaterra, e a Guerra da Independência em 1776 dando auxílio aos Estados Unidos para a independência do país, e mesmo com a sua monarquia sendo extremamente custosa e não renunciar a uma vida repleta de luxo e regalias, financiaram com doses cavalares de dinheiro os Estados Unidos com o intuito de desestabilizar seu oponente, a Inglaterra. O resultado dessa atmosfera foi:
1) uma crise no campo, em razão das péssimas colheitas das décadas de 1770 e 1780, o que gerou uma inflação 62%; e
2) uma crise financeira, derivada da dívida pública que se acumulava, sobretudo pela falta de modernização econômica – principalmente a falta de investimento no setor industrial.
Os membros do Terceiro Estado (muitos deles influenciados pelo pensamento iluminista e pelos panfletos que propagavam as ideias de liberdade e igualdade, disseminados entre a população) passaram a ser os mais afetados pela crise.
Já no fim da década de 1780, a burguesia, os trabalhadores urbanos e camponeses, começaram a exigir soluções para a grande crise que assolava a França, onde em determinados locais já era comum que se faltasse pão e insumos básicos para a vida, surgindo um movimento que lutava por direitos da população, de modo em que em julho de 1788 foi convocado uma reunião para deliberação de assuntos relacionados à situação política da França, onde membros do terceiro estado e do clero se juntaram à nobreza para discutir sobre os interesses relacionados ao rei.
Após quase um ano de discussões a respeito dos rumos que a França iria tomar, em 1789 foi convocado uma assembleia, onde representantes de estados se uniram para criar um projeto, mas entenda representantes apenas os membros da nobreza e do clero, fato que gerou extremo desconforto na população comum, como burgueses e trabalhadores. A indignação não ficou somente no campo do sentimento, e no dia 10 de junho, a burguesia, liderando o terceiro estado, propuseram a formulação de uma nova Constituição para a França, mas a proposta não foi somente recusada, mas totalmente ignorada pelo rei e clero, que no dia 17 de junho se reuniram para iniciar um levante popular, a partir da união entre burguesia, camponeses e trabalhadores.
É aqui que a primeira causa da Revolução Ganhou força, a insatisfação com os privilégios da monarquia e do clero, que continuavam a gastar incansavelmente mesmo com o país em crise, que no que lhe concerne, passava pelo rigoroso inverno de 1788 e 1789, quando as colheitas foram fracas devido ao frio, e os alimentos começaram a ficar escassos, algo que até então nunca havia acontecido com tal intensidade, e os gastos reais eram bancados justamente pelos altos impostos pagos pelos camponeses e povo comum, impostos esses, que não abaixavam, muito pelo contrário. Em meio a esse caos, no dia 14 de julho de 1789 iniciava-se de fato a chamada Revolução Francesa, quando a massa de populares sem nenhum apoio ou amparo do estado se viu isolada, se juntando para a tentativa que representava o único modo de serem ouvidas: tomando o poder a força, e o primeiro ponto foi tomar a Bastilha, prisão símbolo do Antigo Regime.
O estado por sua vez não teve poder de reação, pois dias antes, o povo havia tomado armas e pólvora do governo, tomando as ruas e centros públicos não somente com foices e martelos, mas também com artilharia, culminando na Queda da Bastilha e estendendo-se por dez anos a fio, sendo somente encerrada quando Napoleão assumiu o poder do país por meio do golpe de 18 de Brumário. Os ideais dos revolucionários eram inspirados no iluminismo, sendo a liberdade e o constitucionalismo suas principais ideias, além de obrigarem a separação da igreja com o estado.
A revolução alcançou o poder após sangrentas batalhas, e um dos primeiros atos da mesma foi elaborar uma Assembléia Constituinte para dar inicio a nova fase da revolução, que deixou de ser parcialmente no campo bélico e passou a se dar no campo ideológico, como define o historiador Eric Hobsbawm:
Economicamente as perspectivas da Assembleia Constituinte eram inteiramente liberais: sua política em relação aos camponeses era o cerco das terras comuns e o incentivo aos empresários rurais; para a classe trabalhadora, a interdição dos sindicatos; para os pequenos artesãos, a abolição dos grêmios e corporações […]. A Constituição de 1791 rechaçou a democracia excessiva através de um sistema de monarquia constitucional baseada em um direito de voto censitário dos “cidadãos ativos” reconhecidamente bastante amplo..
A partir de 1791, a França passou a esboçar aquilo que seria seu modo de governo por alguns meses, a Monarquia Constitucional, que durou de 1791 a 1792, tendo sido criada a partir de termos aceitados na Assembleia como a igualdade de todos perante a lei, voto censitário, fim do dízimo e a constituição civil do clero. Foi nesse momento em que a ala mais radical da revolução, chamados Jacobinos (os revolucionários que se sentavam à esquerda, se opondo aos girondinos que ficavam à direita) passou a defender uma ampliação da perspectiva revolucionaria, e não aceitaria se submeter às decisões da burguesia, que passou a se articular com nobres e clero ao chegar ao poder, a proposta jacobina era simples, acabar com a nobreza e instituir uma república revolucionaria, sem nenhum resquício de monarquia.
Nesse ponto, o rei já sabia dos possíveis rumos que a revolução tomaria, e passou a articular um levante contrarrevolucionário com o apoio da Áustria e Prússia. Em 1792, os austríacos invadiram a França, declarando guerra contra a revolução, e assim que a população parisiense ficou sabendo dos planos do rei, invadiram então o palácio de Tulleries, prendendo o rei e sua família, e posteriormente, sendo levados a morte por guilhotina em 1793, dando fim a monarquia constitucional. Com isso, houve também a dissolução da Assembleia Constituinte, e os jacobinos iniciaram outra parte da revolução, conhecida como Fase do Terror, marcada por centenas de condenações à guilhotina todas as semanas, de pessoa parte da nobreza, apoiadores da monarquia, membros do alto clero entre outros que desagradavam à opinião revolucionária.
Nesse momento surgem figuras como Robespierre, Saint-just e Danton, como lideres do movimento jacobino, e também a Áustria e Prússia intensificam os ataques contra a frança, de modo a impedir que a revolução se espalhasse. No processo nasce também o Exército Nacional Francês, que pela primeira vez não era composto de mercenários ou aristocratas, e sim, pelo povo que se via como uma nação. Mas como era de se esperar, a falta de organização jacobina no poder e os milhares de mortes por execução se transformaram rapidamente em um problema, a economia passou a ir de mal à pior, seus vizinhos se recusavam a comercializar com os revolucionários radicais, e um novo plano teve de entrar em ação para tentar organizar os rumos que a revolução havia tomado.
Em 1795 o órgão chamado de Diretório, formado em sua maior parte por burgueses que queriam reorganizar a economia francesa e, em simultâneo, não eram a favor do retorno da monarquia. Um dos mais jovens generais envolvidos na revolução, era Napoleão Bonaparte, que tinha apoio da burguesia e, ao mesmo tempo, a admiração do povo comum, e ao se deparar com o cenário repleto de caos e conspirações no diretório, deu o Golpe de 18 de Brumário, reivindicando o poder da França para acabar com a crise que assolava a população, e reerguer a economia francesa. Acabava então o período da revolução francesa, se iniciando o Período Napoleônico.