19/06/2022
Laura era um nome comum para uma jovem, considerado seu passado e o que esta mesma jovem sentia ao inspirar e expirar o ar; a certeza que vinha; o ardor; uma efemeridade que parecia, as vezes, durar horas. Visto que a moça tinha apenas 20 anos, e era um ano emblemático, politicamente falando – 1964 -, além de que ela mesma era envolvida e revolvida por questões sociais, seu nome não significava muito. Era um portal e, ao mesmo tempo, uma prisão.
Por exemplo, quando criança, não gostava de ser chamada pelo nome e sobrenome, pois isso a fazia lembrar-se de onde vinha; de sua famíia e de sua mãe; das brigas e discussões entre famíliares. Aos 14 anos, Laura já tinha um histórico traumático o suficiente que a fazia justificar, em sua cabeça adolescente, o uso de maconha e álcool. Bebia escondido dos pais, saindo às madrugadas com outros jovens que também eram rebeldes como ela. Laura, porém, destacava-se. Sua mente havia criado um mundo somente seu, desde a primeira briga que ela presenciara. Desde que lera as lendas arthurianas pela ótica de Marian Zimmer Bradley pela primeira vez. E, nesse mundo, algumas pessoas não eram bem vindas.
A arte para Laura era um deleite. Lembrava-se de, aos dessezeis, deitar-se em sua cama velha e de colchão fino, e escutar artistas de todos os gêneros músicais: Cat Stevens, Bob Dylan, Led Zeppelin, Janice Ian, Kansas. Laura apreciava a arte. E, mais do que isso, precisava dela.
Desde criança ela nutria uma obsolente paixão por ler, escrever e ensinar – o que a levaria, mais tarde, a ser uma ávida leitora. Nutrira o sonho de ser bibliotecária durante um tempo; tinha uns 7 anos de idade quando sonhava sobre isso; não sabia que bibliotecárias não ganhavam bem e eram desvalorizadas. Não “não – valorizadas”, mas desvalorizadas.