06/02/2024
Revista Espírita 1867
Atmosfera espiritual
O Espiritismo nos ensina que os Espíritos específicos a população invisível do globo; que estão no espaço e entre nós, vendendo-nos e acotovelando-nos incessantemente, de tal modo que, quando nos julgamos sós, temos constantemente testemunhas secretas de nossas ações e pensamentos. Isso pode, para certas pessoas, parecer estranho; mas, sendo um fato, não se pode impedir que o seja. Cabe a cada um proceder como o homem virtuoso que não temia que sua casa fosse feita de vidro. A essa causa, sem dúvida, é que se deve abordar a revelação de tantas torpezas e mais ações que se ocultavam ocultas na sombra.
Sabemos, além disso, que numa reunião sempre há, além dos seres corporais, os assistentes invisíveis; que, sendo a permeabilidade uma das propriedades do organismo dos Espíritos, estes podem achar-se em número ilimitado, mesmo num espaço circunscrito. Disseram-nos muitas vezes que em certas sessões havia Espíritos inumeráveis. Na explicação dada ao Sr. Bertrand sobre as comunicações coletivas que obtivemos, afirma-se que o número de Espíritos presentes era tão grande que a atmosfera estava, por assim dizer, saturada de seus fluidos. Tal fato não é novo para os espíritos; todavia, talvez não se tenha deduzido dele todas as consequências.
Saiba-se que os fluidos que emanam dos Espíritos são mais ou menos salutares, conforme seu grau de depuração. Conhece-se seu poder curativo, em certos casos, bem como seus efeitos mórbidos, de um indivíduo sobre outro. Agora, visto que o ar pode estar saturado desses fluidos, não é evidente que, conforme a natureza dos Espíritos que se reúnem em um determinado lugar, o ar ambiente esteja impregnado de elementos salutares ou malsões, elementos esses que exercem influência tanto sobre a saúde física como moral dos que nele se encontraram? Quando se considera a energia da ação que um único Espírito pode exercer sobre um homem, será de surpreender o que resulta de uma aglomeração de centenas ou milhares de Espíritos? Tal ação será boa ou má, segundo seja benéfica ou maléfica o fluido que os Espíritos vertam num determinado ambiente, fluido que é de modo semelhante às emanações fortificantes ou aos miasmas deletérios que se disseminam no ar. Dessa forma, pode-se explicar certos efeitos coletivos que se produzem sobre massas de pessoas; a sensação de bem-estar ou mal-estar que se experimenta em determinados meios, sem causa aparente conhecida; o arrastamento coletivo para o bem ou para o mal; os impulsos generosos, o entusiasmo ou o desencorajamento, a espécie de vertigem que por vezes se apodera de toda uma assembleia, de toda uma cidade, ou mesmo de todo um povo. Cada indivíduo sofre, proporcionalmente ao seu grau de sensibilidade, a influência dessa atmosfera vicada ou vivificante. Nesse fato indubitável sobre as relações do mundo espiritual com o corporal, confirmadas pela teoria e pela experiência, encontramos um novo princípio de higiene, que um dia a ciência será reconhecido por todos.
Poderemos subtrair-nos essas influências, que emanam de fonte inacessível aos meios materiais? Sem dúvida! Pois do mesmo modo que sanamos os lugares insalubres, destruindo a fonte dos miasmas pestilentos, podemos sanear a atmosfera moral que nos envolve, subtraindo-nos influências àss perniciosas dos fluidos espirituais malsões; e de forma mais fácil do que escapamos às exalações pantanosas, já que isso depende unicamente de nossa vontade. Esse não será um dos menores benefícios do Espiritismo, quando compreendido, e sobretudo praticado, universalmente.
Um princípio perfeitamente comprovado para todo o espírito é que as qualidades do fluido perispiritual estão na razão direta das qualidades do Espírito encarnado ou desencarnado. Quanto mais elevados e desprendidos das influências da matéria forem seus sentimentos, mais depurado será seu fluido. De acordo com os pensamentos dominantes que tenha, um encarnado irradiado fluidos impregnados desses pensamentos, que os viciam ou saneiam; são realmente materiais, embora impalpáveis, invisíveis para os olhos do corpo, perceptíveis porém aos sentidos perispirituais e visíveis aos olhos da alma, dado que impressionam fisicamente e assumem aparências muito diversas, para aqueles que são dotados da vista espiritual.
A mera presença de encarnados numa assembléia determina, pois, que os fluidos ambientes sejam salubres ou insalubres, segundo sejam bons ou maus os pensamentos aí dominantes. Quem quer que alimente pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, maledicência, malevolência – em uma palavra, pensamentos provenientes da fonte das paixões mais – espalha ao seu redor eflúvios fluídicos malsões, que reagem sobre os que estão à sua volta. Numa assembleia em que, ao contrário, cada um traz apenas sentimentos de humildade, de caridade, de humildade, de devotamento desinteressado, de benevolência e amor ao próximo, o estará impregnado de emanações salutares, em meio às quais sentimos bem-estar.
Se considerarmos, agora, que os pensamentos atraem pensamentos da mesma natureza, e que os fluidos atraem fluidos semelhantes, compreenderemos que cada indivíduo traz consigo um cortejo de Espíritos que são simpáticos, bons ou maus, e que, assim, o ar ficará saturado de fluidos correspondentes aos pensamentos predominantes. Se os maus pensamentos estão em minoria, não impedem que boas influências se façam presentes, mas estes ficam paralisados. Se eles dominam, enfraquecem a irradiação fluídica dos Espíritos bons, ou mesmo, por vezes, impedem que os fluidos bons penetrem no ambiente, do mesmo modo que a deficiência ou barra os raios do Sol.
Qual, portanto, o meio de nos subtrairmos à influência dos maus fluidos? Ele ressalta o estudo da própria causa que produz o mal. O que fazemos quando avisamos que um alimento é prejudicial à saúde? Rejeitamo-lo, atualizando-o por um mais saudável. Agora, visto que são os maus pensamentos que engendram os maus fluidos e os atraem, é preciso que nos esforcemos para ter somente bons pensamentos, repelindo tudo o que for ruim, da mesma forma que repelimos um alimento que pode nos tornar doentes – em uma palavra, é preciso trabalhar para nossa melhoria moral. Servindo-nos de uma comparação evangélica, recomendamos “não apenas limpar o vaso por fora, mas limpá-lo principalmente por dentro”.
Melhorando-se, a Humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em meio a qual vive, porque não derramará senão bons fluidos, sendo que estes oporão barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra vier a ser ocupado apenas por homens que praticam entre si as leis divinas do amor e da caridade, não há dúvida de que então eles se encontrarão em condições de higiene física e moral muito diferentes das que existem hoje.
Esse tempo está certamente distante, mas, enquanto não chega, tais condições melhores podem existir parcialmente, cabendo às assembléias espirituais justamente fornecer o exemplo. Os que conhecem a luz serão tanto mais repreensíveis quanto houverem possuídos entre as mãos os meios de se iluminar; serão responsabilizados pelos atrasos que seu mau exemplo e sua má vontade acarretam para o processo de melhoria geral.
Trata-se de uma utopia, de uma declamação vã? Não; é uma dedução lógica dos próprios fatos que o Espiritismo a cada dia nos revela. Efetivamente, o Espiritismo nos prova que o elemento espiritual, que até hoje se mostra atualmente como a antítese do elemento material, guarda com ele uma conexão íntima, de onde resulta uma multidão de espectadores ainda não coletados ou compreendidos. Quando a ciência é assimilada pelos elementos fornecidos pelo Espiritismo, ela tirará novos e importantes recursos para a própria melhoria material da Humanidade. Vemos, assim, ampliar-se diariamente o círculo das aplicações da doutrina, que está longe de restringir-se ao aspecto pueril das mesas girantes, como alguns ainda pensam. O Espiritismo não tomou verdadeiramente impulso senão quando entrou pela via filosófica. Ficou então menos divertido para certas pessoas, que buscavam apenas uma distração; mas por outro lado passou a ser apreciado por pessoas sérias, e será cada vez mais, à medida que for melhor compreendido em suas consequências.