18/09/2023
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Natural de Salvaterra de Magos, onde nasceu há 76 anos, Francisco Palhota mudou-se para Vila Franca de Xira aos 17, idade com que se iniciou nas lides tauromáquicas. “Com outros jovens que procuravam a glória no toureio”, frequentou a Escola de Toureio do Mestre António Cadório, na Praça de Touros Palha Blanco. A paixão pela festa brava levou-o a tomar a alternativa de bandarilheiro, uma cerimónia que marcou a sua entrada oficial no toureio. “Tirei a prova de bandarilheiro praticante em Santarém, em 1974, no decorrer da Feira do Ribatejo e, em 1975, também na Monumental Celestino Graça, tirei a alternativa de bandarilheiro profissional”, recorda Francisco Palhota, ou “Paco”, como também é conhecido entre os amigos.
Ao longo de mais de 20 anos, Francisco Palhota enfrentou touros, “sem medos”, em arenas de norte a sul do país, tendo inclusivamente atuado em praças de touros em Espanha e França. Apesar de nunca ter tido nenhum acidente grave, Francisco Palhota não esquece uma cornada que levou durante uma tourada na Praça de Touros da Nazaré. “Dei uma voltareta de dois ou três metros para o ar. A sorte é que depois de marrar, o touro foi para a frente. Se tivesse recuado, não sei o que podia acontecer. Nesse dia tive medo”, lembra, acrescentando logo de seguida: “Macarena esteve comigo”, em referência à Virgem de Macarena, a padroeira dos toureiros.
Enquanto bandarilheiro, Francisco Palhota integrou quadrilhas de toureiros de renome nacional e internacional, como José Júlio, António de Portugal ou Paco Camino. Uma das melhores recordações da sua carreira foi a de atuar sob as ordens do famoso toureiro espanhol Paco Camino, na Praça de Touros Palha Blanco. Francisco Palhota recorda, com especial saudade, algumas corridas de touros em que participou na praça de touros da cidade que o recebeu há cerca de 50 anos. “Aqui toda a gente me conhecia e tinha de estar bem. Deixava os nervos em casa”, recorda, enquanto olha para a centenária Praça de Touros Palha Blanco, um dos ex-líbris de Vila Franca de Xira.
Antes de receber a alternativa de bandarilheiro, Francisco Palhota já trabalhava como serralheiro mecânico, profissão que viria a exercer até ser alvo de um despedimento coletivo da fábrica onde trabalhou vários anos no Porto Alto, concelho de Benavente. A necessidade aguçou o engenho de Francisco Palhota que, pouco tempo depois, aventurou-se na arte de construir peças inspiradas na tauromaquia. “Antes de estar desempregado, já fazia uma peça ou outra nos tempos livres”, diz, prosseguindo: “Através do artesanato procuro exaltar a minha paixão pela festa brava”. Na oficina que construiu no quintal da sua casa já foram feitas centenas de peças, sendo que, habitualmente, “diversas tertúlias e coletividades taurinas, como as de Évora, Coruche e Alcochete, procuram algumas das peças para ofertar aos triunfadores das temporadas, para a melhor faena, melhor pega, melhor lide a cavalo, entre outros”, explica, enquanto mostra duas das suas obras mais recentes. Do Campo Pequeno à Praça de Touros Palha Blanco, os troféus feitos por Francisco Palhota já foram oferecidos nas mais prestigiadas praças de touros do país. No seu percurso autodidata, baseado na arte de trabalhar a madeira, o ferro e a pedra mármore, entre outros materiais, contam-se várias exposições em galerias de cidades como Santarém ou Vila Franca de Xira. Além disso, em 2010, o município onde nasceu, Salvaterra de Magos, prestou-lhe homenagem pelo seu percurso tauromáquico.
A profunda ligação de Francisco Palhota ao mundo da tauromaquia traduz-se, igualmente, na fundação do Clube Taurino Vilafranquense. Foi um dos mentores e fundadores desta associação que “tem como objetivo primordial promover a defesa e o desenvolvimento da Festa Brava”. Como aficionado, gosta de acompanhar os novos valores da Escola de Toureio José Falcão, bem como as festas bravas e touradas da região. Entre estas, destaca-se o Colete Encarnado, a maior festa de Vila Franca de Xira e uma das maiores festas do Ribatejo. Apesar da saúde já não permitir grandes aventuras, Francisco Palhota revela que ainda gosta de ir para dentro da manga esperar o touro. Ribatejano de gema, este ex-bandarilheiro e artesão tauromáquico simboliza, com a sua paixão pela festa brava, uma parte fundamental da cultura do Ribatejo.
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