11/06/2021
O CADERNO DO EDITOR (6)
Quando era miúdo, gostava muito de ler sobre animais e às vezes acompanhava o meu pai a ver aqueles documentários da vida animal que davam antes do telejornal da uma, acho que na SIC. Hoje em dia, embora não tenha a iniciativa de ver, se acontecer apanhar um programa sobre animais num qualquer zapping, fico a ver.
Houve um livro da infância que nunca esqueci. Chamava-se Porque Maltratamos os Animais? e tinha na capa um macaco maquilhado, vestido e com um microfone na mão. O livro foi-me oferecido num aniversário e era bastante chocante, embora fosse um livro para crianças, com pouco texto e muitas fotos (horríveis). Falava-se de experiências médicas, de te**es de produtos de beleza, de circos, jardins zoológicos com péssimas condições, entre outras coisas. A história que mais me impressionou foi uma sobre tigres que morriam de tédio, presos em jaulas minúsculas de um qualquer coleccionador privado. A ideia de morrer de tédio impressionou-me ao ponto de nunca me esquecer daquilo — pareceu-me a mais horrível das mortes.
A certa altura, o meu pai comprou uma colecção nas televendas que, por acaso, incluía coisas para todos na família: para o meu pai, uma vasta colecção de VHS com documentários sobre animais; para mim, os livros divididos pelas principais classes, mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, se a memória não me falha; e para a minha mãe, uma televisão pequena, que era a oferta da colecção, e que ocupou a bancada da cozinha durante muitos anos.
Também me lembro de fazer uma colecção de cromos com as raças de cães, que saía nos Bollycao. A minha mãe ia ao supermercado do bairro e, através da embalagem transparente, conseguia ver o número dos cromos e comprar-me Bollycaos com os cromos que ainda me faltavam. Infelizmente, a minha mãe não gostava de animais, pelo que a única vez que tive animais foi quando a minha prima nos ofereceu, a mim e ao meu irmão, um aquário com duas tartarugas. O mais bizarro é que não me lembro do que lhes aconteceu.
— Gonçalo Mira
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