30/08/2024
Um pouco como quando os velhotes sentem nos ossos quando o tempo vai mudar, a mim começam-me a brilhar os olhos quando me parece que vem aí um novo escritor português.
Aconteceu-me com vários autores, recentemente, o que é bom sinal para a Novíssima Literatura Portuguesa, termo cunhado pelo Professor Jorge Valentim ( ) e que eu acho muito bem fisgado para definir uma leva de nomes que apareceram nos últimos anos e que escrevem texto literário.
Foi o que me sucedeu com Afonso Curval e o seu “Porto à Noite.” Ao vê-lo por aí, ganhei aquele brilhozinho nos olhos e tinha de lhe deitar a mão. Ao livro, claro.
Livro cuja leitura gostei muito e que me apresentou as deambulações de um jovem estudante de Filosofia pelo Porto à noite, de bar em bar, onde vão surgindo as mais inusitadas situações. O Porto, a Nápoles portuguesa, tem esta coisa de nos trocar as voltas aos planos e de repente vermo-nos, no raiar da aurora, em sítios “onde os sonhos vão morrer”. E qual é o portuense da gema que nunca perdeu a noção da vida no, usemos o alias, “24/7”?
A escrita é ousada, dá voltas à gramática e à ortografia, sem que pensemos que são erros e não estilo. O que é algo muito difícil de se fazer. O autor também não teve medo de dar um grande biqueiro à hiper-correção formal que vivemos hoje em dia, que amiúde liga muito mais ao “como é dito” em vez de “o que é dito”. Neste livro, as situações e as personagens são tratadas sem receio de ferir os leitores ou facilitar a compreensão. Pessoalmente, gosto muito disso.
Sei que ainda vamos ouvir falar muito de Afonso Curval, por isso sugiro que aproveitem e lhe comprem diretamente este seu primeiro livro, para uma viagem pelo Porto à noite onde vão f**ar constrangidos e emocionados, muitas vezes em simultâneo.
Estou ansioso por lê-lo num registo mais longo e ficcional, onde possa usar à vontade os imensos recursos que é evidente que o autor tem, seja linguísticos, estilísticos ou conjeturais.
📸 como sempre, do incrível