12/07/2024
“Os homens de quarenta anos
Que sentido é que tem a minha vida?!...” É deste modo que ninguém começa. Reconhecem, antes, que procuram equilíbrio. Que entre compromissos, filhos e trabalho sentem que há agendas para tudo menos para si mesmos. Que, se não tivessem filhos, seriam, seguramente, nómadas digitais. Que aspiram a viagens, longas e solitárias, que lhes tragam o reencontro consigo mesmos e a paz que não têm. Que esgravatam, sem critério, em livros de autoajuda, em retiros ou em seminários, com os gurus internacionais do momento, à procura de soluções óbvias, fáceis e inspiradoras para mudarem quase tudo sem que mexam em quase nada. Que planeiam uma peregrinação, um novo desporto, uma maratona ou um desafio inovador para encontrarem as provas de superação de que são capazes. Ou que fantasiam, um dia, largar tudo e abrir um bar de praia, algures, nas Caraíbas. No final, se bem que nunca comecem por aí, perguntam-se, nas entrelinhas: “que sentido tem a minha vida?!...”. Que é uma forma de reconhecerem que não se reconhecem nela. Que não vislumbram nela a sua cara. Que não mandam nela. Que não é uma vida tão boa assim. Nem é muito bonita. Ou que não são tão felizes com ela como desejam ser.
É mau que os homens de 40 anos procurem um sentido para a vida? Não! Mas a superação e a inspiração que procuram está, bem no meio das coisas emaranhadas, dentro deles. E “A pessoa” que mais os poderá ajudar poderá, até, estar ao pé de si. Que não será “só” alguém que se anule para que eles não deixem de se imaginar guerreiros. Que não será “só” a mãe dos filhos e uma espécie de “mãezinha” para eles. Ou não será “só” amável e amante. Mas que veja na procura do sentido da vida uma equação com a qual um e outro se sintam comprometidos. A partir da qual se isolem problemas e se façam escolhas. Em que se aceite o erro e a falha mas de que não se fuja nem da determinação nem da humildade. E que, no final de tudo, que os leve a aceitar, com ganas de viver, os 40 como o fim da adolescência. E o princípio de uma vida vivida com impressão digital. De forma intensa. Cheia mas serena. Assim não se fuja, nunca, do sentido da vida.”
Eduardo Sá