11/11/2023
‘Jaiminho’, o sócio n.º 1 do Benfica, faz 100 anos
Filiado no clube desde 1938; amigos prepararam uma grande festa, mas com a mágoa de não poder contar com nenhum representante do clube
Jaime João Avelino da Silva, Jaiminho para os amigos e família, o senhor Tócaqui, como era conhecido nas suas intervenções nas «tertúlias petisqueiras gastronómicas», e Jaime João, como atleta do Benfica, comemora hoje 100 anos de vida. Desde 1938 que é sócio do Benfica, sendo o atual n.º 1. Hoje há festa em Estoi, no concelho de Faro, onde reside no lar do Centro Comunitário local.
Natural de Portimão, Jaime Silva é visto como uma pessoa afável e divertida. «Fez a escola primária e o liceu em Faro, tendo depois frequentado o Liceu Passos Manuel, em Lisboa, já que o seu pai, oficial principal nos Correios, teve que pedir transferência para lá, por ser declaradamente antirregime», conta a A BOLA Joaquim Aleixo, seu grande amigo e que organiza a festa comemorativa dos 100 anos.
«Começou a praticar desporto no Sport Lisboa e Faro, hoje Sport Faro e Benfica, a 1.ª filial do Benfica, com 12 ou 13 anos. Quando foi para Lisboa ingressou no Benfica para jogar basquetebol, a sua modalidade de eleição, e ténis de mesa. No basquetebol foi campeão nacional e jogava com o n.º 10», transmite Joaquim Aleixo, dizendo também que jogava ténis de mesa «com muita qualidade, tendo sido campeão de Lisboa, já como veterano individual e campeão nacional de veteranos em 1963/64».
«Parte da génese»
«Para o Jaime Silva, ser benfiquista é parte integrante da sua génese e esmerada formação que recebeu de seus pais, cultivando o fair play e respeitando quem possa ser de outro clube. Viveu intensamente a história única do clube e vibrou com as mais destacadas conquistas», relata o amigo, revelando ainda que agora não vê os jogos, «porque se excita muito e isso pode fazer-lhe mal. São 100 anos! Mas gosta de saber como ficou o resultado».
«Tanta gente na Direção...»
Hoje é dia de festa em Estoi, com cerca de centena e meia de convidados, entre os quais 23 sobrinhos, vindos de todo o país. Rui Costa também recebeu convite, mas não vai estar presente. «Antecipadamente, escrevi com muito coração e alma benfiquista ao Sr. Rui Costa, mas só hoje [ontem] é que o Benfica me informou a dizer que não podia estar presente. Com tanta gente que têm na direção, não custava nada mandarem alguém a representar o clube», lamentou Joaquim Aleixo.
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«Schmidt já tinha feito a equipa»
Ligado ao Benfica há 85 anos, pela sua dedicação, foi conferido a Jaime João Avelino da Silva o Diploma de Sócio de Mérito, em 4 de fevereiro de 1949. Em 2013 recebeu o anel de platina, dos 75 anos de filiação. Em 2022, já a residir no Centro Comunitário, recebeu, «com muita alegria e entusiasmo» a notícia de que era o sócio n.º 1.
«Ele teve a plena noção que, a partir daquele momento, era o representante legítimo de milhões de benfiquistas espalhados por esse mundo fora», diz a A BOLA Joaquim Aleixo.
O cartão foi-lhe entregue por Rui Costa, a 13 de novembro, aquando do jogo com o Gil Vicente, no Estádio da Luz. «Presenteou-o com uma placa, um cartão de sócio e uma camisola oficial autografada com o seu nome gravado e o n.º 1 nas costas, dizendo-lhe, com graça e um sorriso: “Só não joga, porque o Roger [Schmidt] já tinha feito a equipa», recorda.
O senhor ‘Tócaqui’ nas tertúlias
Jaime Silva participava em muitas tertúlias e nessas experiências, passou a ser conhecido como o Senhor Tócaqui. «Foi por causa de um hino que aprendeu, da autoria de padres algarvios e farenses, que sempre que brindavam uns com os outros, levantavam-se e erguendo os seus copos — de vinho, é claro — cantavam, com aquela voz gregoriana, arrastada, estes versos: Tócaquiii, tócaliii, só a mim não toca nadaaa / A moda do tócaquiii é uma moda engraçada.»
«E brindavam tilintando os copos, prosseguindo depois: Tócaquiii, tócaliii, tocaqui à minha beiraaa, que a moda do tócaquiii é uma linda brincadeiraaa… Por vezes alguém dizia: Brreeee…, como que a expelir os taninos! Uma pândega festiva de amigos próximos, que marcaram a sua longa e riquíssima vida», relembra Joaquim Aleixo, amigo de Jaiminho e responsável pela organização da festa do centenário do sócio número 1 do Benfica.
Hoje, o hino volta a ser cantado em Estoi.