22/11/2024
ECLIPSE MENTAL DE MIA COUTO E JOAQUIM CHISSANO.
Podemos definir Eclipse como o escurecimento total ou parcial de um astro feito por meio da interposição de um segundo astro frente à fonte de luz. Quando a Lua f**a entre o Sol e a Terra, diz-se que é Eclipse Solar. Já quando a Lua entra na região de sombra da Terra; diz-se que é Eclipse Lunar. E, sem querer extrapolar as fronteiras da licença poética, tampouco abusar os augúrios da nomenclatura científ**a, quando um indivíduo começa a perder parte das suas faculdades neurais, diremos que está em Eclipse Mental. O quase septuagenário Mia Couto, e o octogenârio Joaquim Chissano, parecem estar a viver esse Eclipse agora. Rebrilham, no colar dos seus muitos anos de vida fácil, pérolas de alguma perda de lucidez.
Se há alguma ingratidão da qual eu próprio não me perdoaria, seria se fizesse escorrer água suja sobre Mia, esquecendo-me de que ele é um dos rios onde um dia mergulhei e me lavei da lama da ignorância. Sou um dos milhares de Moçambicanos que aprenderam a ler lendo Mia Couto. Suas obras lançaram, na minha vida e na daqueles outros, os alicerces onde edificámos os nossos castelos de criatividade. Paixão pela palavra escrita. Crença no imaginário. Poder do abstracto. Aliás, quem lê a nova remessa de cultores literários Moçambicanos - Sérgio Raimundo, Lino Mukuruza, Pedro Pereira Lopes, Énia Lipanga, Amosse Mucavele, Dany Wambire, só para invocar meia dúzia deles - não se pode fazer míope aos vincos dobrados pelo veterano beirense, aqui e acolá. Eterno mérito. Merecida vênia.
Não me quero aventurar a calcorrear pelos atalhos do juízo populista. Tampouco aspiro ao recrutamento forçado de Mia Couto ao exército comandado por Venâncio Mondlane. O nosso escritor-mor denuncia ter sofrido tal assédio ideológico. Para mim, a liberdade pressupõe o direito a não ser livre da maneira como parece certo aos olhos da maioria. É contraproducente da mesma espada, usar-se um gume para desfazer aguilhões, e outro gume, para aprisionar corações. Uma coisa é revolução; outra é alienação.
Até porque olhos atentos poderão vislumbrar que a perda de lucidez de Mia Couto é ainda parcial. Ainda vê que o regime da Frelimo é autoritário e não respeita a cidadania. Que o "movimento de libertação e emancipação dos mais pobres foi capturado por uma elite predadora, responsável pela situação atual". Que "temos que nos libertar daqueles que comandaram a luta pela libertação nacional". Reconhece que as eleições de 9 de Outubro foram marcadas por fortes indícios de irregularidades. Que "as eleições expuseram a frustração acumulada da juventude urbana", e que "esse sentimento está sendo aproveitado por quem se intitula um messias".
O que torna esse posicionamento nublado, é quando Couto afirma que se ele "tivesse 20 anos hoje, também estaria revoltadíssimo e marchando, mas não sob as ordens de um profeta". É aqui que parece se haver inspirado em Joaquim Chissano. O Ex-estadista Moçambicano também tentou ridicularizar Venâncio Mondlane, numa colocação infantil de que ele é movido por fanatismo religioso. Aliás, ambos concordam em que deveríamos manter serenidade, até que o Conselho Constitucional se pronunciasse, conforme mandam as regras do jogo eleitoral. Criticam o processo, mas terminam sempre nesse ponto. São ratos. Roem a soprar, para atenuar a dor.
Comecemos por analisar a invalidação do posicionamento de Venâncio Mondlane, acusando-o de fanatismo religioso. Mesmo se supusermos que Mondlane está sob a embriaguez do ópio da religião (o que na verdade não é verdade), anular sua luta por conta disso seria incorrer em Falácia Genética. Esse tipo de falácia consiste em desacreditar alguém por conta do seu histórico pessoal. Não há nenhuma relação lógica plausível entre a luta de Venâncio Mondlane e o seu pendor religioso. Como todos sabem, ele é um Pastor evangélico. Mas, e felizmente, tem sabido dar a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
Em relação à espera da decisão do Conselho Constitucional. Mia Couto fala do povo, escreve sobre o povo e para o povo, mas não é do povo. Parece-nos natural pensar como o faz. Chissano não precisamos de nos prender ou nos perder em labirintos de detalhes. Seria ingênuo esperar que um Presidente da República que teve acordo avaliado em cento e vinte milhões de dólares (USD 120.000.000) com a Vale, em 2007, hoje se faça passar por ancião da verdade e da justiça. Não tem credenciais nenhumas para o fazer. Ele é apenas um ladrão da velha escola. A ambos soa bem, e é facílimo, dizer que temos de esperar o veredicto dos Órgãos Competentes. Será mesmo razoável fazê-lo, quando os Órgãos Competentes são feitos de pessoas incompententes? De maneira nenhuma! Mia Couto e Joaquim Chissano estão em clarividente Eclipse Mental. E nós não podemos permitir que sua penumbra converta o sol dos factos em uma nuvem de utopias.
A FRELIMO DEVE DEIXAR O PODER. E O TEMPO DE O FAZER É AGORA.