CRÔNICAS SOBRE BRASÍLIA | tate nascimento
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w3 sul e norte - núcleo bandeirante
num ponto: de ônibus, de ósculo, de ômicron
ou, por certo, do ocaso
derramando, vermelhado, seu cansaço no pretume
espaço aberto para o céu ser escuridão
o deus do acaso
com sua boca do mundo
cantou às 18 em ponto
um ponto
e dando a real
reticências em vez de final
dizendo que havia um que nada
um mapa dessa brasília era a sua exuzilhada
saiu, depois disso
ecoando em gargalhada pelas ruas destrancadas da cidade
já tão implanejável
véi, eu fiquei de cara com essa bênção de aparição
fiquei tão de cara que eu quase perdi o ônibus
cê bota fé?
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#NoArNaCBN #Brasília #Aniversário #Crônica
CRÔNICAS SOBRE BRASÍLIA | Meimei Bastos (educadora, atriz, autora do livro “Um verso e mei”
“Tinha um EIXO atravessando meu peito
Tão grande que cortava a minha alma em L2
Sul e Norte
Uma W3 entalada na garganta virou nó
Eles têm o Parque da Cidade,
Nós, o Três Meninas;
Eles, a Catedral;
Nós, Santa Luzia;
Eles, o Lago Paranoá;
Nós, Águas Lindas.
Eu sou filha de Maria,
Que não é Santa e nem puta.
Nasci e me criei num paraíso que chamam de Val
E me formei na Universidade Estrutural.
Eu não troco o meu Recanto de Riachos Fundos e Samambaias verdes
Por aquelas Tesourinhas
Essa Brasília não é minha
Porque eu não sou Planalto
Eu sou periferia
Porque eu não sou concreto
Eu sou quebrada”
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#NoArNaCBN #Brasília #Aniversário #Crônica
CRÔNICAS SOBRE BRASÍLIA | Cristiane Sobral (escritora, atriz e professora de teatro)
Caliandra
“Brasília merece uma homenagem
Especialmente os ipês, os lobos-guará e a vida selvagem
O mais velho que passa na minha rua vendendo quebra-queixos
É exemplo de um território e de uma subjetividade além dos eixos
As asas do avião brasiliense
Planam em direção ao céu mais lindo que já vi
Nesse Planalto tanta coisa vivi
Cresci intrépida Caliandra, dançando no espelho d’água da Torre réplica parisiense
Mas espere um instante!
Brasília tem mãe, no Núcleo Bandeirante
É matriarca antiga, forjada no barro vermelho chão
Muito antes de ser a capital da corrupção
Tem quatro estações em um dia
Tem cachoeiras para a nossa alegria
Cidade rodeada de Brasil por todos os lados
Habitat das capivaras, do Seu Estrelo e dos Encantados
Amo Brasília em seu coração musical e periférico
O clube do choro, o parque da cidade e o espírito sincrético
Em um final de tarde na Prainha dos Orixás...
Eu transmuto nas águas todas as energias más.”
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#NoArNaCBN #Brasília #Aniversário #Crônica
CRÔNICAS SOBRE BRASÍLIA | Karla Calasans (atriz, professora, escritora, poeta e diretora de criação da Cia Abrigo Santo)
A Visita
"Como a casa ganha vida,
quando se chega uma visita!
A porta se abre
e o vazio ganha formas e carnes. No espaço, vai sendo talhado um novo canto
com cheiros, sons,
cores e sabores
É como um encontro entre casa e botão
O abrigo vai ganhando uma nova dimensão
É um chá, uma ambrosia, um suco de graviola batido na hora que despertam a poesia
E fazem desse momento de suposta invasão um encontro de irmãos
Que não vão na contramão
E ofertam com as palmas
O melhor de suas almas"
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#NoArNaCBN #Brasília #Aniversário #Crônica
CRÔNICAS SOBRE BRASÍLIA | Paulo José Cunha (jornalista e escritor, ex-professor da Universidade de Brasília)
“Quando o urbanista Lúcio Costa desenhou Brasília, ele pensou nas quatro escalas da cidade: a residencial, das superquadras; a escala monumental, a dos palácios, dos prédios públicos, da esplanada; a escala gregária, ali onde os eixos se cruzam, com a rodoviária, o setor comercial, o setor de diversões, um espaço pra as pessoas se encontrarem; e a escala bucólica, a dos espaços urbanizados, das áreas verdes da cidade-parque. Olhe, o senhor pensou bonito, dr. Lúcio, pensou graaande! Mas nem sonhava que a cidade ia ter outras escalas, além das que o senhor inventou. Por exemplo: a escala... dos horizontes infinitos. Será que o senhor imaginou que Brasília, pra onde a gente fosse olhar, a gente ia ver o horizonte? É... Por isso é que nós sonhamos longe. Nós sonhamos, mestre, é com o que está...além do horizonte! O senhor disse que o céu é o mar de Brasília, mas não falou de uma outra escala, a dos gramados a perder de vista. Os gramados verdinhos, dr. Lúcio, são... o outro mar de Brasília! E a escala dos sotaques? Por aqui a gente mistura é tudo, dr. Lúcio, num abraço de gente de toda parte desse Brasilzão de meu Deus: Mas bah, che, me passa a cuia de chimarrão, porque, oxente, véi, ramu encarar um bode do Piauí, no leite de coco, ali na Ceilândia, ouvindo cantoria de repentista? Uai, sô, mas só depois de encarar uma galinhada com pequi que é bão demai da conta, né? E, por último, mestre Lúcio, a escala... da saudade. Olhe, a gente tira férias e viaja pra fugir da seca braba de agosto, setembro aqui de Brasília, que o senhor sabe como é. Tá lá, numa praia linda, de boa, tomando umas e outras quando bate... a escala da saudade. Pois não é que junta os panim de bunda, pega a família... e volta? Volta, pra encarar a seca, com os beiços tudo rachado, mas volta. Volta, Dr. Lúcio, porque eu não sei o que