29/07/2015
Qual dos Imperadores Romanos que citei?
Não sei bem de onde tirei esse conceito “é preciso f**ar sem dar” mas andava acreditando nele. Por não estar dando, minha vida parecia estar dando mais certo.
Havía três meses que eu nao dava. Um recorde em minha carreira sexual. Me sentia numa espécie de estado medidativo.
Porém, ainda tinha pesadelos com o ex. As vezes mandava e-mails e mensagens noturnas pra ele, ainda chorava antes de dormir, ou seja, não estava totalmente recuperarada. Mas muito orgulhosa dos 3 meses de celibato. Uma marca. Uma mulher moderna, quase totalmente segura, independente. É preciso saber f**ar sem dar, e eu estava indo bem.
Mudei de casa, tenho plantas, cachorro, gato e um vizinho fenomenal. O vizinho tem me mantido distraída, coloco no despertador nos horários que ele vai estender roupa sem camisa no quintal dele e passo bem na hora pra bater papo.
Ele também tem uma árvore de limão. Somos bons vizinhos, já pedi açucar outro dia, tudo muito normal, amistoso e respeitoso. Acho genial essa coisa de não ser possível ler pensamentos, assim posso pensar e visualizer o que eu quiser. Não é maravilhoso?
Eu não como açucar então passei a pedir pra pegar limões na árvore do quintal dele. As vezes ele me ajuda a alcançar um limão mais difïcil, lá no alto, com a ajuda de um pau grande que ele tem.
Fim de tarde passei pela feira, passei somente pra cortar caminho. Me apressava a fim de chegar em casa a tempo de fazer uma limonada grátis. Essa feira já estava no fim, os feirantes, a estavam desmontando, carregando os caminhōes com caixotes e peças de madeira.
De longe eu vejo ele. Ele quem? Um ilustre desconhecido. Uma figura masculina que me chamou atenção de bem longe, uns cinquenta , cem metros. Em meio a sujeira e a bagunça que é o cenário do final de uma feira, sem óculos eu foquei nele como uma águia. Fui indo até onde ele estava sem querer, como um imã.
Oque é oque é? Um pontinho vermelho no meio de uma feira? Ele não era vermelho, mas emergiu pelo meu olhar daquele caos, como se estivesse grifado numa bíblia em marca texto amarelo fluorescente.
Eu estava sem óculos, fui apertando os olhos na tentativa de um zoom-in no rapaz, contra a luz do sol. Isso enquanto andava instintivamente em linha reta na direção dele.
Ainda não dava pra ver se era homem, moleque, tr*******al, são paulino, petista. Com o olhar fixo eu simplesmente obedeci meu corpo que caminhava até ele com ainda muito pouca informação visual.
Ele estava com uma camiseta preta dos Rolling Stones, a língua clássica, jeans e tennis. Aproximo mais. Tem barba bonita, cheia, deve ser mais alto que eu. É bem forte, concluo, pois carregou uma madeira de balcão de feira enorme sozinho.
Tem bom humor. Pois falou alguma coisa pros caras do caminhão e eles racharam o bico. Putz! Ele sorriu de volta. P**a sorriso lindo, mas foi sorte, porque bateu uma luz do sol de frente no rosto, bem na hora em que ele sorriu, pareceu ser reflexo do retrovisor do caminhão.
Mais passos perto e vejo que tem cabelos castanho claro, bagunçados, é do tipo desencanado. Ou só é descabelado, e curte os anos 70. Suspirou, está cansando um pouco. Tem sobrancelhas grossas, quase unidas, um rosto grande. A mão é bem grande. É um cara grande.
Não deve ser fácil carregar tantas caixas mesmo sendo forte e grande, penso. P**a m***a! Ele me viu. Pior: me viu vendo ele.
Neste momento eu estava na esquina , no sol, de boca aberta olhando com cara de imbecil, e agora, diretamente nos olhos verdes dele!
Ele faz um movimento com as mãos, tipo estalando os dedos e começa a atravessar a rua! Que movimento era aquele? Enquanto eu me perguntava, ele vinha até mim! Isso me faz acordar do transe.
Começo a correr! Saio desesperada na direção oposta e sumo entre os montes de lixo da feira.
Uma semana depois, eu juro por Jeová, Buda, a galera toda, que eu esqueci deste episódio.
Não fazia sentido pensar num feirante com caixas de fruta, tem uma árvore carregada aqui ao lado, no vizinho. E ele era muito grande, eu tenho medo de homens grandes.
Caminho tranquilamente pela feira porque ela é meu caminho, viro a direita para sair dela e dou de cara com alguém. Foco em quem é que impede meu caminho, tem sol no meu rosto ( é uma feira ensolarada), então o reconheço, é ele. O feirante. Hoje veio de camiseta dos Ramones, ele gosta de rock.
- Oi. – diz ele.
- Olá. – sou educada.
- Como você chama?
- Ah não…- é só isso que disse “Ah não”e saí andando rápido. Evitando olhar pra trás, em linha reta, percebendo que ele, para meu horror, vinha junto!
- Anão? Imagine, você é bem alta. - p**a humor id**ta, nada a ver dizer isso.
- Hey espere! Eu não tenho culpa de você amar o Adriano! - neste momento eu gelo, da cabeça aos pés em segundos. Tava sol mas eu senti frio. De que p***a de Adriano ele estava falando? Meu queixo foi caindo ( meu queixo sempre cai) e eu fiquei parada, estática, quase sem respirar. Minha vista escurece, meus olhos apertaram.
- Acertei o nome dele, assim em cheio?
- Não conheço nenhum Adriano. - respondi séria, me recuperando do choque.
- Então como chama? César? Cláudio? Júlio, Alexandre, Marco, Antonino? Hahahah!- ele estava rindo da minha cara…
- Do que vce está rindo? E quem é vce?
- Hahaha! Da sua cara, é engraçada. Eu me chamo… antes de dizer – ele faz mistério e fala rindo- me diz, eu realmente acertei?
- Acertou oque?
- O nome dele.
- Não.
- Nenhum deles?
- Não.
- Mas eu me pareço com algum deles, isso é certeza, pela sua cara. Não pareço?
- Não! Não parece.
- Fala a verdade, eu acertei o nome de prima não foi?
- Não.
- Ele parece muito comigo? Tsc… eu sou um cara mó comum…
- Ele não é comum.- falo e me arrependo imeditamente.
- O Adriano?
- Não. – nunca a palavra “não” me veio tanto a boca. Parecia meu sobrinho aos dois anos quando a aprendeu.
- Você ainda o ama?
- Não.
- Você me confundiu com ele aquele dia, não foi?
- Claro que não - precisava variar um pouco a resposta.
- O que é nele tão parecido comigo, a barba?
- Não. – eu insistia na falta de vocabulário. Eu queria ir, mas algo me fazia f**ar. Ele dá uma relaxada, passa alguns segundos e eu não saio dali, estou paralizada. Ele diz tipo puxando assunto:
- Hoje em dia todo cara tem barba né? Já sacou? Eu sempre tive. Eu li que mulher quer ser sempre magra e bonita assim que nem você, já o homem quer parecer visualmente que tem poder. Grana mesmo sabe? No nosso país o presidente ou o cara mais poderoso dele, é barbudo. Então incoscientemente todos os caras começaram a deixar a barba crescer. Pra parecerem poderosos.
Eu só pensava do que ele poderia estar falando, e porque falava comigo? Oque está acontecendo? Dou umas respiradas e saio andando devagar e ele grita:
-Nossa, você é chata! Foi por issso que o Adriano te deixou! Não sabe nem conversar e parece meio louca.
Close em meu rosto. Eu já estava de costas mas ouvi bem o que ele disse. Viro o corpo e ele está lá parado vendo o efeito do que falou.
- Como você chama?- intimo inquisidora
- Agora quer saber?
- Não. Sim!
- Não vou dizer.
- Vai sim!
- Meu nome é um dos imperadores romanos que te falei. - ( oi?)
- Não importa! Ouça bem: o “Adriano” não me deixou. Eu o deixei me deixar, sabe por que?
- Não, mas posso imaginar.
- Porque eu olho pela janela!
- Oque?
- Eu olho pela janela! Do carro, da casa, do quarto, que nem a música da Adriana Calcanhoto, eu olho um homem desconhecido na feira! Mas é porque eu gosto de olhar para as pessoas, só por isso!
- Sei.
- Eu não quero dar pra voce, nem te conhecer!
- Que arrogante!
- Nem saber seu nome, eu só estava olhando uma pessoa trabalhar!
- Uma pessoa trabalhar…
- Uma cena bonita de um homem … bonito…
- Obrigado.
- … carregando um caminhão de feira com vários outros!
- Certo.
- E eu não posso olhar! Porque se eu estivesse com o “Adriano” ele ia dizer “Olha pra mim, pra baixo, pra dentro de voce mesma, mas não pra outros homens.”
- Machista esse cara.
- Todos vces são machistas! Essa conversa é machista!
- Você deixava ele olhar outras mulheres?
- Não é essa a questão!
- E qual é?
- Eu não posso andar numa feira sozinha em paz, nenhuma mulher pode! Todos os homens, feirantes como você vão dizer as coisas mais absurdas pra gente.
Mesmo que seja 8 horas da manhã, mesmo que seja inverno, e eu tenha blusas e casacos de frio até o pescoço, anel de casada no dedo, vão me olhar, comentar, evocar, e classif**ar a minha bunda por exemplo, em alto e bom som. Fazer piadinhas, falar coisinhas pra me provocar…Enquanto que eu, mulher, não posso nem simplesmente olhar pra voce carregando uma caixa de limões.
- Laranjas.
- Eu ando pensando muito em limão.
- Por que?
- Esquece. O que eu quero dizer, é que só porque eu te olhei! Você já tá achando que eu quero dar pra voce!
- Voce não só olhou. Encarou, bastante. E depois deixou o queixo cair.
- Você não percebe? Não tenho que me desculpar por ter o buco maxilar relaxado! Assim como nenhuma mulher tem que se desculpar ao namorado por ter quadris exorbitantes, ou seios grandes, e roupas que os marcam, entende?
- Entendi.
- Não, não, não. Não entendeu! Você NUNCA vai entender.
- Tá me chamando de id**ta?
- Não, não.
- Vai começar a segunda bateria de “nãos”?
- …
- Moça eu entendi. Voce é feminista.
- Não!
- Ou muito arrogante de achar que todo mundo quer te comer. Eu só queria conversar. Aquele lance dos presidentes e da estética masculina mesmo. Ainda ia falar do Kenedy. Falar de limão já que tem pensado tanto nisso ultimamente, nada de mais.
- Ah é? Quer falar de estética masculina. Discutir o preço do limão. Comigo uma desconhecida.
- Ué e voce que gosta de olhar um desconhecido trabalhar.
- Voce trabalha na rua e a rua é pública.
- Voce parece uma criança de dois anos argumentando. O Adriano não vai voltar pra voce. Voce é muito chata. Não compreende o lugar do outro, só se baseia em voce.
Vira as costas e sai. Eu grito:
-Hey! Voce não parece o “Adriano”. Você parece o Shrek!
Faço leitura labial ele está me chamando de cri-an-ça-in-fan-til.
-Seu, seu… redundante!
- E você é arrogante demais. Ah, saiba que eu nunca mexi com as clientes da feira. Nunca. Sua rotuladora, preconceituosas. Mas se fosse mexer, não seria com uma magricela esquisita que nem voce. Vce parece a girafa de Madagascar!