16/12/2024
Vestibular da lacração: feminismo e música pop ocupam espaço da literatura
Por Paulo Briguet
15/12/2024
Peço aos meus sete leitores que leiam atentamente os seguintes versos:
Eu não gosto de padre
Eu não gosto de madre
Eu não gosto de frei
Eu não gosto de bispo
Eu não gosto de Cristo
Eu não digo amém
Eu não monto presépio
Eu não gosto do vigário
Nem da missa das seis
Não
Não
Eu não gosto do terço
Eu não gosto do berço
De Jesus de Belém
Eu não gosto do Papa
Eu não acredito na graça
Do milagre de Deus
Eu não gosto da igreja
Eu não entro na igreja
Não tenho religião
E então, que acharam? Pois saibam vocês: para ser aprovado no próximo vestibular da Universidade Estadual de Londrina, o seu filho ou filha terá que estudar esse tipo de obra. Os versos que vocês acabaram de ler fazem parte de uma canção intitulada “Igreja” e estão no álbum “Cabeça Dinossauro”, da banda paulistana Titãs. “Cabeça Dinossauro” é uma das obras selecionadas para a prova de literatura do vestibular da UEL.
Ou seja: se você tem um filho ou filha prestes a entrar na universidade, ele será obrigado a ouvir essa tosca musiquinha anticristã como se fosse algo relevante para a sua formação. Trata-se de lixo cultural elevado à condição de literatura — e tudo isso, convém lembrar, financiado com o dinheiro dos nossos impostos.
Antes que os militantes da educação paulofreiriana venham me acusar de ser inimigo da liberdade — essa liberdade que a esquerda só defende quando não beneficia seus adversários políticos —, informo que não apenas conheço o referido álbum como cansei de ouvi-lo, até furar o disco, durante minha adolescência.
“Cabeça Dinossauro” foi lançado em 1986 e logo fez grande sucesso entre a moçadinha que achava o máximo aquelas músicas fáceis de cantar e tocar (que tinham no máximo três acordes no violão), que às vezes tinham um palavrão no meio.
No entanto, uma coisa é cantar essas bobagens numa cervejada de RU; outra muito diferente é achar que esse besteirol tem alguma relevância cultural
Os esquerdistas, que em geral têm ouvido de lata, ouçam “Cabeça Dinossauro” à vontade; só não venham obrigar ninguém a dizer que essas coisas possuem algum valor estético ou podem ser comparadas em pé de igualdade com os clássicos da nossa literatura.
Não é a primeira vez que esses subprodutos da indústria pop são alçados à condição de alta cultura. A Unicamp já incluiu o disco “Sobrevivendo no inferno”, de um grupo de rap paulista — de cuyo nombre no quiero acordarme — e a UnB indicou a faixa “Beijinho no Ombro, da funkeira Valeska Popozuda, para uma das fases do seu vestibular.
A porteira já foi aberta; em alguns anos, a persistirmos no mesmo rumo, não haverá mais Machado de Assis, nem Euclides da Cunha, nem Graciliano Ramos em nossos vestibulares, mas apenas celebridades do pop.
Estamos assistindo à destruição completa da nossa alta cultura, conforme profetizou Olavo de Carvalho em seu livro “O Futuro do Pensamento Brasileiro”.
“Só se vence aquilo que se substitui”, dizia Nietzsche. A esquerda brasileira, que domina o sistema universitário do país, aprendeu muito bem essa lição. A militância acadêmica dedica-se a eliminar os clássicos e substituí-los pelos ícones daquilo que a esquerda lacradora entende por cultura.
Ao menos, o vestibular da UEL, na lista de suas leituras obrigatórias, inclui obras de autores importantes como Machado de Assis, Fernando Pessoa, Bernardo Guimarães e Tomás Antônio Gonzaga, entre outros. Já o vestibular da Fuvest, a partir de 2026, vai adotar uma lista composta unicamente por autoras do s**o feminino.
Foi isso mesmo que vocês sete leram, meu caros: por três anos — de 2026 até 2028 —, os candidatos da Fuvest terão como leitura obrigatória apenas obras escritas por mulheres. Em outras palavras: os homens serão excluídos da lista do vestibular paulista. Inclusive (aliás, exclusive) Machado de Assis. Um escritor genial como Dalton Trevisan, falecido no último dia 9, não terá lugar na lista de leituras da Fuvest até 2029.
O motivo alegado para essa medida insana é dar maior visibilidade às mulheres da literatura e compensar uma suposta exclusão das autoras femininas ao longo da história.
Desse modo, teremos, no lugar de Machado de Assis, uma autora como Nísia Floresta (1810-1885) e seu “Opúsculo Humanitário”, uma coletânea de artigos de jornal influenciados pelo positivismo e claramente inspirados nas ideias da protofeminista inglesa Mary Wollstonecraft (1759-1797).
Ora, transformar a lista de obras da Fuvest em um Clube da Luluzinha literário é uma ofensa às grandes autoras de nossa literatura, que não precisam desse tipo de “ajuda” para serem notadas. Escritoras como Rachel de Queiroz (1910-2003), Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), Clarice Lispector (1920-1977), Hilda Hilst (1930-2004) e tantas outras nunca dependeram da exclusão de autores do s**o masculino para que tenham reconhecido o valor de suas obras.
O critério identitário para seleção de obras literárias é uma aberração que só pode sair mesmo da cabeça da elite esquerdista que comanda as universidades
Se esse critério for levado ao extremo, nada impede que em poucos anos tenhamos nas listas dos vestibulares apenas obras de escritores que se identificam com este ou aquele comportamento sexual, ou com esta ou aquela ideologia política.
Em uma crônica anterior, já discuti essa obsessão da esquerda em dividir a sociedade em grupos irreconciliáveis e nos condenar à atomização, tornando-nos indefesos perante o Estado controlador. Parece que esse afã divisionista chegou de vez à literatura. A depender da esquerda, teremos a cotização geral do universo — e isso equivale a excluir e desprezar as mais altas realizações do espírito humano.
Iniciei esta coluna com uma canção, termino com outra, em respeito aos meus sete leitores:
Não sou a das águas vista
nem a dos homens amada;
nem a que sonhava o artista
em cujas mãos fui formada.
Quando o tempo em seu abraço
quebra meu corpo, e tem pena,
quanto mais me despedaço,
mais fico inteira e serena.
Por meu dom divino, faço
tudo a que Deus me condena.
Da virtude de estar quieta
componho o meu movimento.
Por indireta e direta,
perturbo estrelas e vento.
Sou a passagem da seta
e a seta, — em cada momento.
Não digas aos que encontrares
que fui conhecida tua.
Quando houve nos largos mares
desenho certo de rua?
E de teres visto luares,
que ousarás contar da lua?
Lamentavelmente, a pessoa que fez esses versos imortais, um gênio da literatura brasileira, não está na lista feminista da Fuvest. Seu nome? Cecília Meireles.
Canal Briguet
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-briguet/vestibular-da-lacracao-feminismo-e-musica-pop-ocupam-espaco-da-literatura/ ?ref=comentarios-materia
Copyright ©️ 2024, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.
Nos próximos vestibulares, não haverá Machado de Assis, nem Euclides da Cunha ou Graciliano Ramos, mas militância anticristã e lacração.