TV Tagarela é uma instituição não governamental e sem fins lucrativos que atua na Favela da Rocinha, desde 1998, como TV Comunitária de Rua. Esse movimento teve seu início no ano anterior, numa oficina de produção de vídeo realizada pela ASPA (Ação Social Padre Anchieta) para um grupo de adolescentes da comunidade. Decididos a permanecer e dar sequência prática as experimentações feitas durante o
curso, o grupo teve como principal referência, para consolidar outro conceito de TV na comunidade, a TV Maxambomba que atuava na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro e a TV Viva do Recife, Pernambuco. Ambas com a metodologia midiática de veicular suas produções em espaços públicos (praças e ruas). O vídeo “Preconceito: não aceito” foi exibido numa TV de 40 polegadas na janela da Capela Nossa Senhora Aparecida, virada para os transeuntes que passavam pelo Largo do Boiadeiro – local que viria a ser o principal cenário das intervenções de rua da TV Tagarela, só que posteriormente com telão e projetor. O nome TV Tagarela foi inspirado pelo livro “Varal de Lembranças” das autoras Eliana Segala e Tânia Regina. Em meio às histórias da Rocinha ali contadas, os adolescentes descobriram que um dos primeiros veículos de comunicação da comunidade foi o “Jornal Tagarela”, difundido durante a década de 1980. Ainda no ano de 1998, a TV Tagarela ganhou uma licitação para produzir vídeos para o programa Comunidade em Cena, do Canal Saúde – FIOCRUZ. A partir de então, o grupo conquistou sua independência, assumindo as despesas básicas da manutenção da TV. Ao longo de todos esses anos, essa parceria foi a principal fonte de recurso para o sustento da TV Tagarela, que produziu mais de 30 curtas documentários para o Canal Saúde. Uma das produções de maior relevância no currículo da Tagarela é o documentário “Entre Muros e Favelas”, realizado em parceria com Atrever (Manguinhos) e o coletivo AK KRAAK da Alemanha, que ganhou o “Prêmio Jangada” de melhor documentário de média-metragem na “X Mostra Internacional do Filme Etnográfico” no ano de 2005. Somente depois de acumular em seu histórico uma vasta experiência com produção em comunicação comunitária, que teve início o processo de discussão sobre sua regularização como instituição, sendo fundado em maio de 2008 a Associação de Mídia Comunitária da Rocinha - TV Tagarela. No ano de 2015, a TV Tagarela colocou na pauta comemorativa dos 450 anos da Cidade Maravilhosa a Favela como parte importante do cenário urbano, ao realizar o 1° Cine Favela Festival na Rocinha - com patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Obedecendo a temática da mostra audiovisual, 58 filmes sobre favela e/ou favelado de diferentes regiões do país foram exibidos na Pracinha da Roupa Suja (Praça Aílton Rosa), tendo como metodologia a prática de intervenção cultural desenvolvida pela TV Tagarela. Reconhecida no meio acadêmico como uma das poucas TVs de Rua em atividade no Brasil, a TV Tagarela é citada "entre as experiências mais significativas de TV de Rua" ¹ pela pesquisadora Cicilia M.K. Peruzzo, por atender a requisitos essenciais desse tipo de mídia: "A TV comunitária nos moldes da TV de Rua tem propósitos educativos e culturais. Surge em um contexto de efervescência dos movimentos sociais em que se busca a utilização do vídeo como meio facilitador do processo de tomada de consciência e mobilização de segmentos sociais excluídos" ² . Para além da produção e exibição de vídeos, a TV Tagarela é um mobilizador sociocultural que promove atividades em parceria com outras instituições e movimentos sociais fomentando o desenvolvimento social, político e cultural da comunidade. Cine Favela Festival:
Inspirado na prática de intervenção de rua da TV Tagarela, o 1° Cine Favela Festival foi realizado na Rocinha entre os dias 10 e 20 de junho de 2015 em comemoração aos 450 anos da cidade, com patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. Na mostra, foram exibidos 58 filmes na Pracinha da Roupa Suja (Praça Ailton Rosa), tendo a favela e o favelado como tema principal - contextualizando a periferia como parte importante do cenário urbano. Para além das exibições, era preciso discutir a representação da favela no audiovisual e a importância das produções realizadas pelo próprio favelado. Nessa perspectiva, a TV Tagarela, em parceria com Imagens e Complexos, elaborou o Circuito de Repescagem do Cine Favela Festival, com objetivo de promover debates refletindo a estética do cinema brasileiro a partir de filmes que concorreram na mostra. O itinerário do Circuito de Repescagem percorreu quatro comunidades com sessões temáticas e mesa de debate com convidados (diretores, produtores e atores) que tiveram suas obras representadas no 1° Cine Favela Festival: Rocinha / Sessão “Filmes Premiados Cine Favela Festival”; Manguinhos / Sessão “Documentário, Mulher e Favela”; Complexo do Alemão / Sessão “Favelas Ontem e Hoje - novas imagens e novos desafios”; Santa Marta / Sessão “Curtas Premiados Cine Favela Festival”.
¹ PERUZZO, Cicilia M. K. Televisão Comunitária: Dimensão Pública e Participação Cidadã na Mídia Local. Rio de Janeiro: Mauad, 2007.
²http://bocc.unisinos.br/pag/peruzzo-cicilia-tv-comunitaria.pdf