22/01/2025
PENSIONATO É FECHADO EM RIO GRANDE APÓS DENÚNCIAS DE MAUS TRATOS...
Denúncias afirmam que idosos ficaram trancados no local desde a noite de domingo, 19, sem acesso a alimentos e medicação, até que a Polícia acessou o local na segunda-feira, 20.
Na segunda-feira, 20, a Brigada Militar e a Polícia Civil realizaram a busca de seis idosos em supostas condições de maus-tratos em uma casa de longa permanência localizada na rua Conde de Porto Alegre, no centro do Rio Grande. A ação ocorreu após uma denúncia recebida pelas autoridades que relatava negligência no cuidado com os moradores.
A denúncia afirmava que os idosos estavam sozinhos no local desde às 23h do domingo, 19. Ainda conforme informações da SMCAS, três dos moradores estavam acamados, com comorbidades e sem alimentação. Os idosos chegavam a pagar um valor mensal de R$ 2 mil para residirem no lar.
Durante a operação, deflagrada na segunda-feira, a Brigada Militar necessitou forçar a fechadura do local, pois os idosos estavam trancados. O lugar foi encontrado em condições precárias de higiene e com poucos alimentos, segundo relatos.
Após, todos os moradores foram resgatados e encaminhados às suas famílias ou outros lares. A ação contou com a participação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Vigilância Sanitária e a Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SMCAS), que vistoriaram a situação do local e prestaram apoio.
“Os idosos ficaram fechados à chave desde a noite de domingo e não foi comunicado a nenhum órgão, nem prestado atendimento ou socorro.
Pela manhã [de segunda-feira], foi informada a situação, e isso já contempla abandono de incapaz e cárcere privado. A Brigada Militar constatou que havia seis idosos lá dentro, uma das idosas estava com a glicose alterada, devido não estar se alimentando bem e nem ter feito a medicação de que precisava. Foram chamados todos os familiares de cinco idosos, que os retiraram.
Um deles, de Santa Vitória, foi encaminhado para outra instituição, até a família chegar em Rio Grande”, afirmou a superintendente da Alta Complexidade da SMCAS, Rosane Farias.
Posicionamento da casa asilar
O Litorâneo entrou em contato com a responsável pela casa asilar, solicitando um posicionamento sobre a situação. Em resposta, a responsável afirmou que havia deixado os idosos com uma cuidadora, após uma
discussão com seu esposo, que também era responsável pelo local. Em virtude do conflito, segundo ela, o esposo havia expulsado a funcionária do local, deixando os moradores sozinhos desde a noite de domingo. “Quando eu
deixei meus idosos, deixei com a cuidadora, mas ele chegou embriagado e correu a cuidadora, nem ficou com os idosos. Apenas os trancou lá dentro e foi pra casa. Eu não sabia nada disso”, afirmou.
Já sobre a higiene do local e a falta de alimentos, a responsável alega que possuía funcionária para manter a limpeza do local e que, semanalmente, eram realizadas compras de alimentos. “Eu tenho funcionária que faz a limpeza todos os dias, mas diante dos acontecimentos, é claro que chegaram lá e o pensionato estava um caos.
Em relação à comida, eu faço as compras semanalmente, sempre na segunda-feira”, alegou a responsável. Em contato com uma assistente social e ex-funcionária do local - que preferiu não se identificar -, a profissional confirmou que os idosos foram encontrados em má situação.
Porém, afirmou que no período em que esteve
trabalhando no pensionato nunca havia presenciado uma situação semelhante. “Ontem a higiene estava bem precária, estavam todos urinados e com fezes, na casa tinha fezes. Porém, não era assim, a higiene dali era muito
boa, sempre foi. A alimentação que os familiares relatam que ontem não tinha nos armários, é porque eles faziam o rancho semanalmente, né?
Então, com certeza, no final de semana, como tiveram esse desentendimento, não fizeram, mas também não faltava. Com certeza, se eu tivesse visto alguma dessas situações, não teria
permanecido, devido a minha ética profissional”, afirmou.
Além disso, a ex-funcionária declarou que, embora não trabalhasse mais no local, o esposo da responsável do abrigo lhe avisou que os idosos estavam sozinhos. Durante uma conversa, a assistente social solicitou para que
ele comunicasse os órgãos responsáveis e os familiares dos assistidos, contudo, o mesmo não o fez. Ela também alega ter contatado a responsável, que justificou estar na cidade de Pelotas, sem ter como retornar ao município.
A ex-cuidadora do local afirma ter acionado os familiares dos moradores e acompanhado a ação de resgate, prestando apoio aos idosos.
Providências
Em contato com a Polícia Civil, a delegada responsável pela Delegacia de Policia de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPPGV), Alexandra Pérez Sosa, informou que um inquérito foi aberto para apurar o caso. “Na ocorrência que recebemos, é narrado que os idosos foram deixados sozinhos e trancados. Não se sabe quanto tempo ficaram sozinhos ali sem os responsáveis, isso será apurado em um inquérito. O Ministério Público já fez a inspeção do local”, afirmou.