03/01/2024
Sobre Feminismo e Sororidade x Traição e Fim
Trair é egoísta. Aceitar fazer parte da traição dos outros não torna ninguém melhor do que esse outro só porque "é ele quem tem o compromisso". Finais de relacionamentos também são difíceis, principalmente depois de muitos anos de convivência. Ter parte da culpa no final do relacionamento de alguém também não torna ninguém inocente "só porque é ele quem tinha o compromisso".
*****
O feminismo precisa conscientizar mulheres a pensarem nas esposas e namoradas antes de se envolverem com homens que prometeram exclusividade para suas parceiras.
*****
A "patrulha da sororidade" se preocupa em "conscientizar" mulheres casadas ou que namoram a compreender a amante ou a outra por quem foi abandonada pelo seu parceiro, mas não quer conscientizar mulheres a pensarem nas esposas e namoradas antes de se envolverem com homens que prometeram exclusividade para suas parceiras.
O discurso de sororidade do feminismo é lindo, mas, às vezes, parece irreal em um nível que chega a ter graça. Sim, em uma sociedade onde esposas e namoradas agridem e expõem amantes, depois voltam pra casa sorridentes ao lado de seus maridos ou namorados, como se a amante ou a outra ou atual fosse “a vagabunda destruidora de lares” e o marido um santo, é importante conscientizar mulheres de que o cara é um grande babaca e é especialmente dele que ela deve ter raiva. Era ele quem tinha o compromisso, era ele quem te devia alguma satisfação.
Mas, se a amante ou a outra em questão sabia que ele tinha esposa ou namorada, ela não tem culpa de nada?
Muitas mulheres são amantes ou a outra ou a destruidora de relações, e de fato são enganadas, assim como a oficial, mas muitas sabem que o cara tem ou tinham um relacionamento e colocam toda a responsabilidade nele, do tipo “ah, quem tinha compromisso é ele, a traição acaba na porta dele, não tenho nada a ver com isso”.
Olha, amiga, tem sim. Tem muito.
*****
Só devemos nos preocupar em não fazer mal a quem conhecemos? Você tem uma escolha entre compactuar com isso ou não.
*****
Não ter comprometimento não exime ninguém de ter ética e moral. “Ah, mas eu nem conheço a mulher”, então só devemos nos preocupar em não fazer mal a quem conhecemos? Se não for nossa amiga, tudo bem?
É um discurso bastante hipócrita: a oficial deve ter compaixão com a amante ou a outra, pois isso é sororidade, mas a amante ou a outra que destruiu um relacionamento, não tem que ter sororidade com a mulher que está sendo traída ou foi abandonada por causa dela? A culpa maior pode ser do cara, sim, mas você tem uma escolha entre compactuar com isso ou não.
É muito louco exigir de uma mulher que foi enganada, traída, abandonada e feita de otária, ainda ter que parar pra ter compaixão com a mulher que concordou em participar dessa covardia com o cara, quando esta claramente não se preocupou com isso em relação a ela. Isso não é sororidade, é infantilização, é imaturidade, é falta de responsabilidade, ética e moral.
”Não bata na amante, não exponha a amante, não aja como se o homem fosse um anjinho fisgado por uma vadia". Mas abraçar a amante a outra como se fosse tudo lindo, só porque somos todas mulheres não faz sentido algum.
*****
Existe uma escolha. E, quando você escolhe se envolver com um homem comprometido, você está escolhendo também ser cúmplice do desrespeito que ele tem pela parceira.
*****
Vamos esclarecer uma coisa: ninguém é santa. Toda mulher já se interessou ou se apaixonou ou pegou ou até se relacionou com um homem comprometido. A mulher que vira amante ou a outra, não é a principal vilã e não é isso que quero defender aqui. O que estou colocando é que existe uma escolha. E, quando você escolhe se envolver com um homem comprometido, você está escolhendo também ser cúmplice do desrespeito que ele tem pela parceira. É uma questão simples de assumir responsabilidades pelos próprios atos. Não quero ficar passando a mão na cabeça de ninguém em prol de uma sororidade seletiva.
Sabe quando dizem pra um homem que, antes de assediar uma menina, ele deveria pensar na mãe ou na irmã? Acho que podemos dizer o mesmo para mulheres: antes de se envolver com um cara comprometido em um relacionamento monogâmico com outra mulher, pense que poderia ser sua melhor amiga, sua irmã, o relacionamento dos seus pais. Como sua mãe se sentiria? Ou melhor ainda: pense que poderia ser você. Como você se sentiria?
*****
Temos que admitir, pra nós mesmas, que ser amante, a outra ou destruir um relacionamento, é concordar, é colaborar com essa dor que vai ser causada.
*****
Abandono ou traição são coisas que machucam e doem muito. É, além da quebra da confiança entre o casal, sentir-se feita de boba por ter sido enganada e sentir-se insuficiente.
Cada um faz o que quer, mas sejamos responsáveis. Temos que admitir, pra nós mesmas, que ser amante, a outra ou destruir um relacionamento, é concordar, é colaborar com essa dor que vai ser causada.
Trair é egoísmo Abandonar uma parceira de anos é egoísmo Terminar um relacionamento por causa de outra pessoa é egoísmo. Aceitar fazer parte da traição dos outros ou do fim do relacionamento entre duas pessoas, não torna ninguém melhor do que esse outro, só porque “é ele quem tem o compromisso”. Sim, ele devia respeito e consideração a essa mulher específica com quem se comprometeu. Mas e você? Você não deve respeito e consideração a outras mulheres, não?