20/12/2024
Sinto que perdi minha juventude inteira. Enquanto meus amigos se formavam, viviam a vida de maneira leve, frequentavam festas, viajavam e realizavam seus sonhos, eu, com apenas 15 anos, estava balançando um bebê nos braços, sozinha, sem apoio. A culpa não é dos meus filhos — jamais seria deles —, mas da irresponsabilidade de quem não assumiu o seu papel. Eu sei que também tenho minha parcela de culpa, mas a diferença é que eu sempre estive aqui, cuidando das consequências do que fiz.
Quantas vezes desejei fazer coisas simples, como ir a uma sorveteria, conversar com uma amiga, ir a um parque de diversões ou até participar de um acampamento. Mas isso nunca foi possível; eu tinha uma filha para cuidar. Quando finalmente, depois de três anos, consegui um mínimo de fôlego, acabei engravidando novamente. E lá estava eu, com apenas 19 anos, dois filhos pequenos, noites mal dormidas, desespero e uma solidão que parecia não ter fim.
Eu tinha tantos sonhos… Por que acreditei em quem dizia que cuidaria de mim e me amava? Como pude ser tão ingênua, repetindo o mesmo erro? Enquanto outros seguiam em frente, vivendo suas vidas, meus sonhos foram deixados para trás. Eu queria conhecer o mundo, viajar, estudar, me formar. Meu maior sonho sempre foi ser advogada, mas tudo isso me foi roubado.
O mais doloroso é perceber que, enquanto minha vida mudou completamente, os responsáveis por essas promessas vazias seguiram suas rotinas sem interrupções. Eles não perderam noites de sono, não passaram dias em hospitais, não precisaram renunciar aos próprios sonhos para cuidar de filhos. Tudo isso ficou nas minhas costas.
Hoje, aos 30 anos, ainda me sinto presa. Não consigo trabalhar, estudar ou viajar porque tenho um menino que depende de mim 24 horas por dia. Não posso tirar os olhos dele por um segundo sem que algo aconteça. Estou exausta de nunca ser prioridade, de sequer conseguir ir ao médico e cuidar da minha saúde sem que isso se torne um sacrifício quase impossível. Minha mente está sempre em alerta, acelerada, e eu preciso de cuidados que nunca chegam.
A dor de viver assim é esmagadora. Não vivi; apenas sobrevivi. E às vezes me pergunto se fechar os olhos para sempre seria a única maneira de encontrar descanso. Eu sei que ainda vai surgir alguém pra me julgar,mas não ligo. Já sofri tudo que tinha pra sofrer