Basta começar a seguir pelas vias do bairro para que os ouvidos deixem de lidar com os ruídos do trânsito e se encontrem com pios dos pássaros e das galinhas, berros dos bodes e com o silêncio. Aliás, estranha “ouvir” o silêncio nesta Fortaleza barulhenta - ainda que o bairro esteja lá onde a Capital termina. No percurso, olhos se deparam com muito verde, uma lagoa e vida tranquila que segue sob a
s árvores, e com o Mosteiro de São Bento - vistoso no alto do bairro. E eis que, nesse passeio dos sentidos, vêm o aroma e o sabor da tapioca. Se o prato é típico do Ceará, para os moradores do bairro, é - antes e mais do que isso - a cara da Paupina. Para encontrá-la, é só seguir pela avenida Barão de Aquiraz - antigamente único acesso para o litoral leste. Está ali a origem do Centro das Tapioqueiras que existe hoje na avenida Washington Soares. Pelo caminho, há tapioca como a feita há mais de cinco décadas na Tapioqueira Santa Cecília. A pioneira, segundo ostenta placa em frente ao comércio e conta, orgulhosa, Maria do Socorro Pereira da Silva, de 57 anos. Dona Socorro lembra da meninice ajudando o pai, João Inácio, a ralar o coco. Naqueles tempos, ele saía em um jumento rumo ao Mercado São Sebastião para vender tapioca. Entre risos, ela diz que na Paupina falta “muita coisa. Só não falta tapioca!”. Entre as “coisas”, dona Socorro pede uma farmácia. Já a reclamação da comerciante Vera Lúcia Bezerra, 51 - “nascida e criada” na Paupina - é a precariedade do posto de saúde. Segundo ela, é um posto para atender sete comunidades. “Tem poucas fichas, só um médico”, reclama. Apesar disso, a moradora diz viver em um “bom bairro”. “Tem silêncio, é calmo”. Vera lembra como era ao chegar por ali: “só mato. Era uma casinha aqui, outra acolá, uma terra de sítios, com cajueiro, mangueira”. As árvores ainda estão pela Paupina, especialmente nos sítios que resistem numa área que ganha cada vez mais condomínios fechados. Um dos sítios pertence a Manoel Bezerra da Silva, de 78 anos. Talvez mantendo vivo um hábito da meninice vivida ali, o portão do terreno amplo, cheio de pássaros, não se fecha. Casas vizinhas também mantêm portas abertas. Inevitável não pensar que a Paupina é Fortaleza, mas não é.
“Aqui é tudo casa de família. Antigamente é que era muito bom, era o lugar mais calmo que existia”, relembra Manoel - balançando compassadamente na rede. Porém, o “clima de Interior” que o bairro ainda ostenta - alegria dos mais antigos - não agrada a todos. “Acho que precisa mais praças pra gente poder f**ar, mais cantos pra ir. Só tem lá pra Messejana”, lamenta a estudante Cíntia Carneiro, de 14 anos. A dona de casa Rosa Maria de Sousa, de 39 anos, defende que a Paupina é ótima “para criar os filhos”. “Mas é um bairro grande e não tem um posto de saúde direito”, diz. Posto recebeu médicos
O posto de saúde do qual os moradores reclamam é o Anísio Teixeira, que f**a na comunidade Itamaraty. Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que sexta-feira a unidade recebeu dois novos médicos. “Informamos ainda que está sim prevista reforma na unidade, por meio do Programa Requalif**a UBS (Unidade Básica de Saúde) do Ministério da Saúde. Sobre a falta de medicamentos, esclarecemos que já estão sendo providenciados o abastecimento e as reposições necessárias”, disse o texto da SMS. EM ALTA
NATUREZA
A tranquilidade do bairro é motivo de permanência de muitos moradores. Na Paupina, há poucos carros circulando. EM BAIXA
RUAS
Em muitas ruas e esquinas do bairro, que tem poucas calçadas, há lixo acumulado e vias com esgoto
correndo a céu aberto.
14 MIL
A Paupina tem 14.665 habitantes, segundo o Censo 2010 do IBGE. São 7.042 homens e 7.623 mulheres. RONDA
O Povo nos Bairros publica o telefone de contato dos policiais da Ronda do Quarteirão no bairro Paupina
3457 1077 e 190
www.opovo.com.br/app/colunas/opovonosbairros/2013/03/04/noticiasopovonosbairros,3016072/entre-silencio-e-verde-a-vida-segue-tranquila-no-extremo-da-cidade.shtml