Revista Arcádia - IEL - Unicamp

Revista Arcádia - IEL - Unicamp Revista de literatura e crítica literária.

📚 [ *EDITAL ABERTO* ] 📚Estão abertas as submissões de originais para a Revista Arcádia! 🏛️Estamos aceitando textos e ima...
23/08/2023

📚 [ *EDITAL ABERTO* ] 📚

Estão abertas as submissões de originais para a Revista Arcádia! 🏛️

Estamos aceitando textos e imagens, mais informações no nosso site na bio ou no link do forms:
https://forms.gle/s1Vbr2LF8VdpmPst6

As inscrições estarão abertas até dia 11 de setembro.

Venha publicar conosco!

08/03/2023

Nesse dia 8 de março a Revista Arcádia presta sua homenagem a todas as mulheres lembrando algumas daquelas que enriqueceram o mundo por meio da poesia.

A Ondina – Francisca Júlia

Rente ao mar que soluça e lambe a praia, a Ondina,
Solto, às brisas da noite, o áureo cabelo, nua,
Pela praia passeia. A opálica neblina
Tem reflexos de prata à refração da lua.

Uma velha goleta encalhada, a bolina
Rota, pompeia no ar a vela, que flutua.
E, de onda em onda, o mar, soluçando em surdina,
Empola-se espumante, à praia vem, recua...

E, surdindo da treva, um monstro negro, fito
O olhar na Ondina, avança, embargando-lhe o passo...
Ela tenta fugir, sufoca o choro, o grito...

Mas o mar, que, espreitando-a, as ondas avoluma,
Roja-se aos pés da Ondina e esconde-a no regaço,
Envolvendo-lhe o corpo em turbilhões de espuma.

O beija-flor – Auta de Souza

Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteiro,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.

Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do Sol, n’essa manhã tão fria!

Um dia, foi-se e não voltou... Mas, quando
A suspirar, me ponho contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...

Digo, a pensar no tempo já passado;
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele beija-flor fosse o teu sonho!

Ser mulher – Gilka Machado

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida: a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor.

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais.

Ser mulher e, oh! atroz, tantálica tristeza!
f**ar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Timidez – Cecília Meireles

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…

e um dia me acabarei.

Amavisse – Hilda Hilst

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.
Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

Recordar é preciso – Conceição Evaristo

O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos.
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento de vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga.
Mas os fundos oceanos não me amedrontam nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a boia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.

06/06/2022
25/05/2022

Nós defendemos o ensino gratuito em todas as universidades públicas.
Diga NÃO à PEC 206.

Fechando a nossa semana dedicada à poesia, um pouco de Manuel Bandeira:O RIOSer como o rio que defluiSilencioso dentro d...
05/11/2021

Fechando a nossa semana dedicada à poesia, um pouco de Manuel Bandeira:

O RIO
Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.

VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui…
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.

Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida… nos desenganos…)

A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa…

– Mas o menino ainda existe.

TESTAMENTO
O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os…
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!… Não foi de jeito…
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde…
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!

MASCARADA
Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)

– Você me conhece?
– Não conheço não.
– Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
que a paixão dos homens
(estranha paixão!)
Fazia maiores…
Fazia infinitos.
Diz: não me conheces?
– Não conheço não.

– Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
à tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido f**avas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia…
Era a minha fala
Canto e persuasão…
Pois não me conheces?
– Não conheço não.
– Choraste em meus braços
– Não me lembro não.

– Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!

Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?

– Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.

Anita Malfatti: O Jardim

Embora não seja dos nomes mais conhecidos da MPB, a obra de Paulo César Pinheiro se popularizou na voz de cantoras como ...
04/11/2021

Embora não seja dos nomes mais conhecidos da MPB, a obra de Paulo César Pinheiro se popularizou na voz de cantoras como Elis Regina e Clara Nunes. Mas, além de canções, ele também compôs poemas como esses, gravados em sua própria voz no disco Poemas Escolhidos (EMI Odeon, 1983):

BÍBLICA
Quem vê tudo o que fiz diz que são cismas.
Não é trabalho o meu, diz quem não cria.
Não sabem que se vivo de poesia
É porque a vida eu vi por outros prismas.

Me cansam de dizer que são sofismas.
E que ao real, prefiro a fantasia.
Mas eles próprios criam a utopia
Do que pode o poeta e seus carismas.

Que se à imaginação que tudo pede
A poesia curva-se e concede
Também se curvará a realidade.

Porque através do tempo os sonhadores
Estão pelo caminho igual pastores
Levando pelas mãos a humanidade.

VIDÊNCIA
Eu vi uma velha, um velho e vi um menino.
E sobre as mãos e o colo da anciã
Eu vi a renda, a agulha, o bilro e a lã
Com que tecia as malhas do Destino.

Eu vi uma velha, e vi um menino e um velho.
E o quase cego olhar desse ancião
Tentava achar em nosso coração
Vestígio ao menos de seu Evangelho.

Eu vi um menino, um velho e vi uma velha.
E esse menino me arrastava a ela.
E a luz do velho se fechava em breus.

Chama-se Tempo esse menino forte.
E a costureira, pois, chama-se Morte.
E o velho cego, então, chama-se Deus.

ESCOLHA
Por que a tudo dou fim
Depois de dura conquista,
É que, se a dor me contrista,
Não tenho pena de mim.

Não é que eu seja ruim
E nem sequer masoquista,
Mas é meu ponto de vista:
Mereço sofrer assim.

Mas se pra que o verso exista
Tiver que à dor dizer sim,
Então serei fatalista:

A dor que acenda o estopim
E o homem mate-me a fim
De que não morra o artista.

Lasar Segall: Êxodo II

Três poemas de Cecília Meireles,  publicados no livro Vaga Música (1942):EM VOZ BAIXASempre que me vou emboraé com silên...
03/11/2021

Três poemas de Cecília Meireles, publicados no livro Vaga Música (1942):

EM VOZ BAIXA

Sempre que me vou embora
é com silêncio maior.
As solidões deste mundo
conheço-as todas de cor.

Desse-me a sorte um cavalo
ou um barco em cima do mar!
Relincho ou marulho - alguma
coisa que me acompanhar!

Mas não. Sempre mais comigo
vou levando os passos meus
até me perder de todo
no indeterminado Deus.

ENCOMENDA

Desejo uma fotografia
como esta - o senhor vê? - como esta:
em que para sempre me ria
com um vestido de eterna festa.

Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.

Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.

A DOCE CANÇÃO

Pus-me a cantar minha pena
com uma palavra tão doce,
de maneira tão serena,
que até Deus pensou que fosse
felicidade - e não pena.

Anjos de lira dourada
debruçaram-se da altura.
Não houve, no chão, criatura
de que eu não fosse invejada,
pela minha voz tão pura.

Acordei a quem dormia,
fiz suspirarem defuntos.
Um arco-íris de alegria
da minha boca se erguia
pondo o sonho e a vida juntos.

O mistério do meu canto,
Deus não soube, tu não viste.
Prodígio imenso do pranto:
– todos perdidos de encanto,
só eu morrendo de triste!

Por assim tão docemente
meu mal transformar em verso,
oxalá Deus não o aumente,
para trazer o Universo
de polo a polo contente!

Eliseu Visconti: Crepúsculo - novembro

CARTA – Carlos Drummond de AndradeHá muito tempo, sim, que não te escrevo. Ficaram velhas todas as notícias. Eu mesmo en...
02/11/2021

CARTA – Carlos Drummond de Andrade

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci. Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.

POEMA ESQUISITO – Adélia Prado

Dói-me a cabeça aos trinta e nove anos.
Não é hábito. É rarissimamente que ela dói.
Ninguém tem culpa.
Meu pai, minha mãe descansaram seus fardos,
não existe mais o modo
de eles terem seus olhos sobre mim.
Mãe, ô mãe, ô pai, meu pai. Onde estão escondidos?
É dentro de mim que eles estão.
Não fiz mausoléu pra eles, pus os dois no chão.
Nasceu lá, porque quis, um pé de saudade roxa,
que abunda nos cemitérios.
Quem plantou foi o vento, a água da chuva.
Quem vai matar é o sol.
Passou finados não fui lá, aniversário também não.
Pra quê, se pra chorar qualquer lugar me cabe?
É de tanto lembrá-los que eu não vou.
Ôôôô pai
Ôôôô mãe
Dentro de mim eles respondem
tenazes e duros,
porque o zelo do espírito é sem meiguices:
Ôôôôi fia.

J. M. W. Turner: Norham Castle, Nascer do Sol

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas tornou-se conhecida pelo pseudônimo Cora Coralina, com que assinava suas poesias, ...
01/11/2021

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas tornou-se conhecida pelo pseudônimo Cora Coralina, com que assinava suas poesias, que carregam muito de suas memórias. Sobre ela, Carlos Drummond de Andrade escreveu em 1980: “Na estrada que é Cora Coralina passam o Brasil velho e o atual, passam as crianças e os miseráveis de hoje. O verso é simples, mas abrange a realidade vária.”
O poema abaixo faz parte de seu livro Vintém de Cobre:

CÂNTICO PRIMEIRO DE ANINHA – Cora Coralina

A estrada está deserta,
vou caminhando sozinha.
Ninguém me espera no caminho.
Ninguém acende a luz.
A velha candeia de azeite
de há muito se apagou.

A longa noite escura…
A caminhada…
Carreando pedras,
construindo com as mãos sangrando
minha vida.

Deserta a longa estrada…
Mortas as mãos viris que se estendiam às minhas.
Dentro da mata bruta
Leiteando imensos vegetais.
Cavalgando o negro corcel da febre,
Desmontado para sempre.

Passa a falange dos mortos…
Silêncio. Os namorados dormem.
Flutuam véus roxos no espaço.
Na esquina do tempo morto
À sombra dos velhos seresteiros…
A flauta, o violão, o bandolim.
Alertas as vigilantes,
barroando portas e janelas cerradas.
Cantava de amor a mocidade.

A estrada está deserta…
Alguma sombra escassa
buscando o pássaro perdido.
Morro acima. Serra abaixo.
Ninho vazio de pedras.
Eu avante na busca fatigante
de um mundo impreciso,
todo meu.
feito de sonho incorpóreo
e terra crua.

Bandeiras rotas, despedaçadas,
quebrado o mastro na luta desigual.
Sozinha, pisada. Nua. Espoliada, assexuada.
Sempre caminheira, removendo pedras.
Morro acima. Serra abaixo.
Longa procura de uma furna escura,
fugitiva a me esconder.
Escondida no meu mundo.
Longe… Longe…
Indefinido longe, nem sei onde.

O tardio encontro.
Passado o tempo de semear o vale,
de colher o fruto.
O desencontro,
da que veio cedo e do que veio tarde.

A candeia está apagada
e na noite gélida eu me vesti de cinzas.

Meus olhos estão cansados
Meus olhos estão cegos
Os caminhos estão fechados.

Isidore Pils: Cabeça de Velha

Mas se você curte um Halloween, a Arcádia também não esquece de você. A todos cabe um pouco de poesia.ASSOMBRAÇÃO - Olav...
31/10/2021

Mas se você curte um Halloween, a Arcádia também não esquece de você. A todos cabe um pouco de poesia.

ASSOMBRAÇÃO - Olavo Bilac

Conheço um coração, tapera escura,
Casa assombrada, onde andam penitentes
Sombras e ecos de amor, e em que perdura
A saudade, presença dos ausentes.

Evadidos da paz da sepultura,
Num tatalar de tíbias e de dentes,
Revivem os fantasmas da ternura,
Arrastando sudários e correntes.

Rangem os gonzos no bater das portas,
E os corredores enchem-se de prantos...
Um mundo de avejões do chão se eleva,

Ressuscitado pelas horas mortas:
Frios abraços gemem pelos cantos,
Beijos defuntos fogem pela treva.

Vincent Van Gogh: Esqueleto com cigarro aceso (1885/1886)

31 de outubro!Esqueça o Halloween (ou o Dia do Saci, como preferem os nacionalistas), porque amanhã é o Dia Nacional da ...
30/10/2021

31 de outubro!
Esqueça o Halloween (ou o Dia do Saci, como preferem os nacionalistas), porque amanhã é o Dia Nacional da Poesia.
A data foi oficializada por lei federal de 2015, homenageando o dia em que nasceu Carlos Drummond de Andrade, mas aqui na Arcádia um dia é pouco. Vamos celebrar, a partir de hoje, a semana da poesia. Acompanhe a gente ao longo da semana e aproveite alguns momentos de beleza que queremos compartilhar com você.
E para ir adiantando a comemoração, aqui vai o poema O Elefante, de Drummond, publicado em seu livro A Rosa do Povo. Você já conhecia? Diga para nós a sua opinião sobre ele.

O ELEFANTE

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.

Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
E todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos,
esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de caricia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

Independência para quem?É o que parecia perguntar ao leitor essas imagens publicadas na Revista Illustrada há quase um s...
07/09/2021

Independência para quem?
É o que parecia perguntar ao leitor essas imagens publicadas na Revista Illustrada há quase um século e meio. Nunca é demais lembrar que questionar o signif**ado das datas nacionais é uma tradição tão antiga quanto a própria celebração.

Muito antes que Pedro Américo imaginasse o seu Grito do Ipiranga, François-René Moreaux pintou sua versão do mesmo fato ...
06/09/2021

Muito antes que Pedro Américo imaginasse o seu Grito do Ipiranga, François-René Moreaux pintou sua versão do mesmo fato em 1844: em vez de espada, o príncipe ergue o chapéu, saudando a população civil que o cerca celebrando a independência; os poucos militares que se veem ao fundo também saúdam com o chapéu.
É claro que se trata aqui de outra ficção, não mais verdadeira do que a de Pedro Américo, mas tanto em um caso como em outro, a questão é de escolha. A versão mais famosa acabou sendo a que associa a origem da pátria a um evento militar, com a população civil assistindo a tudo de um canto inferior da tela. Mas imaginar outra pátria sempre foi possível.

E por falar em ficção, começa a semana da pátria, com gente de um lado e de outro lado querendo ir pra rua e mostrar que...
05/09/2021

E por falar em ficção, começa a semana da pátria, com gente de um lado e de outro lado querendo ir pra rua e mostrar quem grita mais que Dom Pedro. Mas cuidado. Se a Independência que você tem em mente é essa imagem aqui abaixo, ela só foi pintada por Pedro Américo em 1888, baseada no quadro de Ernest Meissonier, A batalha de Friedland. Nenhum deles, portanto, tem qualquer relação com o que pode ter acontecido em 7 de setembro de 1822.

Não se esqueça dessa data: a submissão de textos para a Arcádia f**a aberta até a semana que vem, dia 7 de agosto.
30/07/2021

Não se esqueça dessa data: a submissão de textos para a Arcádia f**a aberta até a semana que vem, dia 7 de agosto.

Nessa data, 2 de junho, há 69 anos, nasceu Ana Cristina César. Conheça (ou relembre, se já conheceu) alguns de seus poem...
02/06/2021

Nessa data, 2 de junho, há 69 anos, nasceu Ana Cristina César. Conheça (ou relembre, se já conheceu) alguns de seus poemas:

QUARTETOS

Desdenho os teus passos
Retórica triste:
Sorrio na alma
De ti nada existe

Eu morro e remorro
Na vida que passa
Eu ouço teus passos
Compasso infernal

Nasci para a vida
De morte vivi
mas tudo se acaba
silêncio. Morri

CHOVE

A chuva cai.
Os telhados estão molhados,
Os pingos escorrem pelas vidraças.
O céu está branco,
O tempo está novo.
A cidade lavada.
A tarde entardece,
Sem o ciciar das cigarras,
Sem o jubilar dos pássaros,
Sem o sol, sem o céu.
Chove.
A chuva chove molhada,
No teto dos guarda-chuvas.
Chove.
A chuva chove ligeira,
Nos nossos olhos e molha.
O vento venta ventado,
Nos vidros que se embalançam,
Nas plantas que se desdobram.
Chove nas praias desertas,
Chove no mar que está cinza,
Chove no asfalto negro,
Chove nos corações.
Chove em cada alma,
Em cada refúgio chove;
E quando me olhaste em mim,
Com os olhos que me seguiam,
Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar.

FLORES DO MAIS

devagar escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais

Quem se interessa por tradução vai gostar dessa conversa com Caetano Galindo e Paulo Henriques Britto:https://www.youtub...
25/05/2021

Quem se interessa por tradução vai gostar dessa conversa com Caetano Galindo e Paulo Henriques Britto:
https://www.youtube.com/watch?v=sNaHbV2WMHA&t=3629s

Nesta live, Paulo Britto e Caetano Galindo falam sobre a arte da tradução literária que exercem com maestria.Formulário de participação para recebimento de c...

20/05/2021

Veja essa dica que a revista História da Historiografia dá aos seus colaboradores para a elaboração de resumos dos artigos enviados:

"O resumo é um breve sumário do artigo. Ele não deve ser uma introdução do texto, mas uma descrição completa e sintética do conteúdo do artigo, indicando os objetivos e os aspectos centrais do argumento, a forma de abordagem do tema e as conclusões e/ou hipóteses do estudo. As informações devem ser expostas em um parágrafo, com narrativa contendo introdução (tema central do estudo e objetivos), meio (forma de abordagem do tema e fontes utilizadas) e fim (conclusões ou hipóteses principais)

Detalhamento das partes do resumo:

Introdução: a parte inicial do resumo deve fornecer uma introdução ao tema ou problema do estudo. Ela deve identif**ar a questão central do trabalho. É preciso dizer em poucas palavras sobre o que é o artigo. A introdução deve ser seguida pelos objetivos (gerais e específicos) do estudo, sendo possível eliminar a introdução e expor os objetivos no início de forma mais direta.

Meio: apresenta de forma clara as questões, os objetivos, os argumentos centrais e a forma de abordagem do tema.

Fim: indica a conclusão principal do estudo ou a hipótese (quando houver).

O resumo deve poder responder às seguintes questões:

Do que o texto trata?

Quais os objetivos?

Como o estudo foi conduzido?

Quais foram os resultados ou as conclusões da pesquisa?

Lembramos aos autores que o resumo é o primeiro contato do leitor com o estudo e pode ser o único elemento recuperado nas bases de dados científicos sobre um determinado tema. Além disso, se o resumo for bem escrito poderá auxiliar os avaliadores do artigo, esclarecendo possíveis dúvidas sobre os objetivos e conclusões do autor. Também poderá atrair leitores para o texto."

Poesia de Gabriela Nascimento Annanias publicada na Arcádia nº 2:
11/05/2021

Poesia de Gabriela Nascimento Annanias publicada na Arcádia nº 2:

Desenho de Rafael Ghiraldelli publicado na Arcádia nº 5
07/05/2021

Desenho de Rafael Ghiraldelli publicado na Arcádia nº 5

Vem aí o número 7 da revista Arcádia, que será publicado no final do segundo semestre. Envie sua contribuição até 7 de a...
04/05/2021

Vem aí o número 7 da revista Arcádia, que será publicado no final do segundo semestre. Envie sua contribuição até 7 de agosto.
Mais informações em nosso site:
https://arcadiarevista.wordpress.com/

ARCÁDIA Revista de Literatura e Crítica Literária ⁠Arcádia Revista de Literatura e Crítica Literária é uma revista-⁠laboratório do curso de Estudos Literários do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. É uma publicação eletrônica de submissão aberta, editada anualmente pelos ...

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