01/02/2025
Velha escolinha
Bairro Faxinal
Autora: Suely Vidotto Bassetto
O sol nem tinha raiado, e o cheiro de café fervilhante, coado no coador de pano, invadia a casa modesta, onde o fogão a lenha aquecia o frio das manhãs.
A mãe chamava os pirralhos, era hora de ir para a escola; saiam da cama com os olhos remelados, deixando para trás o colchão de palha afofado. Uma caneca de café com leite, uma fatia de pão caseiro, quando tinha, e pronto! Era hora de pegar o caminho.
Pezinhos descalços que se avermelhavam ao pisarem no orvalho frio da madrugada, não havia uniforme, roupas simples, as vezes somente uma blusinha para aquecer, que logo era descartada devido as longas caminhadas.
Percorriam longas distancias, que variavam de um a dez quilômetros por estradas e trilhas que cortavam os sítios vizinhos.
E então, lá estava ela! Uma pequena construção no meio da mata, mas de uma importância infinita, a singela escolinha!
As professorinhas, verdadeiras heroínas que ali chegavam, as vezes de carro, outras de charretes, recebiam os alunos com carinho, sem nunca questionar o porquê da roupa rota ou suja, e até da falta de material escolar que eram levados em s**olas a tiracolo, feitas de pano de s**o.
Com infinita paciência pegavam aquelas mãozinhas com unhas encardidas e ensinavam os primeiros rabiscos, as primeiras letras, e por fim os ensinamentos, até o quarto ano primário.
A hora do lanche era muito esperada, sentavam no chão e ali dividiam os lanches, fatias de pão com ovos, gomos de canas para ch**ar, mexericas, bananas, e por fim um copo de leite em pó, oferecido pelo governo, que as professoras preparavam no fundo da classe enquanto lecionavam. Primeira e segunda série em uma sala e terceiro e quarta em outra. As brincadeiras eram inesquecíveis: pega-pega, roda, passa-anel, pular sela......
A aula terminava ao meio-dia e partíamos para casa, as vezes o sol era estorricante, outras chovia, ou então frio, mas as intempéries não impediam a caminhada.
E ali naquela escolinha tão singela, no meio do matagal, muitas crianças, aprenderam a ler, e ter conhecimento de fatos inimagináveis para aquelas pessoas tão simples, e começaram a dar os primeiros passos do aprendizado que os levariam ao futuro de um mundo completamente desconhecido.
Obrigada velha escolinha! Que abrigastes no seu interior as professoras abnegadas, a inocência das crianças, e o tesouro da educação.
Por Memórias Botucatu