19/05/2021
O Reino da Lira. Vale lembrar que essas entidades tiveram uma passagem errante na terra e hoje trabalham prestando caridade e buscando ascensão espiritual.
O “Reino da Lira” é um dos maiores mistérios dentro da Quimbanda. Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “Lira” significa um instrumento musical de cordas usado em tempos medievais. Apenas com esse direcionamento não entenderíamos a profundidade esotérica desse Reino, por tal motivo devemos recorrer à história para compreendermos melhor a associação entre a palavra “Lira” com o Reino de Exu que a mesma representa.
Lira é o nome de uma cidade localizada ao norte de Uganda que desde os tempos remotos destacava-se como grande centro de negócios. A localização geográfica da cidade, assim como a fartura de água e comida, faziam dessa cidade um ponto de encontro de diversos povos. A história da cidade relata que grandes tratados comerciais ocorriam entre etnias como os ciganos, árabes, chineses e os poderosos clãs bantus. Um local que atraia estrangeiros, certamente atraia o povo do entretenimento que é composto tanto de artistas quanto das damas da noite. Relatos provindos de espíritos alegam que na cidade de Lira muitos tratados comerciais eram regados com bebidas, danças, apresentações diversas e s**o. Diamantes, esmeraldas, cavalos árabes, pólvora, porcelanas, tapeçarias, peças em cobre e ouro e lindas mulheres, dentre tantos outros itens eram negociados nesse poderoso polo sócio-econômico-cultural africano. Além dos negócios, guerras ocorridas entre os próprios clãs e entre o povo de Uganda com estrangeiros, em especial os árabes, construíram uma identidade particular nessa região. Com o processo escravista europeu, homens e mulheres de Lira foram acorrentados e trazidos para o continente americano. Essa é a origem real do nome desse Reino, composto por espíritos que vivenciaram os dias de glória da região de Lira.
Porém, o “Reino da Lira” expande-se e agrega outros elementos em sua formação. Nos tempos da “Belle Époque” na França, abastados senhores frequentavam casas noturnas chamadas “cabaret”. Tais estabelecimentos eram extremamente luxuosos e existiam inúmeros espetáculos que envolviam desde danças sensuais com mulheres até apresentações circenses e óperas. Dentro de tais casas, a luxúria se mesclava aos vícios e conluio de banqueiros, policiais, assassinos e políticos que definiam os ditames do poder. O “cabaret” era uma casa onde o obscuro era rodeado por gargalhadas, s**o e luxo.
Não podemos citar os “cabaret” sem falar acerca da prostituição. Só ocorre prostituição em locais onde os conceitos morais e éticos aplicados consideram adultério como crime ou falha religiosa. Onde o adultério não é crime ou pecado, dificilmente existe prostituição. Muitas prostitutas são mestras na arte de manipulação mental e comportamental, fazendo com que os homens cometam todos os tipos de atos quando bem presos aos seus laços. Esse estado hipnótico que tais damas agarram suas presas, marcou a história do mundo em várias fases.
Os “cabaret” vieram ao Brasil através da colonização europeia. Além das moças, imigraram também algumas atrações que costumeiramente apresentavam-se em tais casas. Ao longo do tempo, mulheres de etnia indígena e negra também compuseram os “cabarés” brasileiros, onde ricos e poderosos senhores costumeiramente frequentaram. No processo formador da história do Brasil, os cabarés estiveram em diversos “bastidores”, assim como as prostitutas.
Na Quimbanda, o “Reino da Lira” é um espaço astral composto por toda essa legião que circundava o mundo dos negócios, da sedução e dos cabarés. Prostitutas, cafetões e cafetinas, senhores abastados (banqueiros, políticos, fazendeiros), jogadores e apostadores, artistas circenses, ciganos e ciganas, viciados em s**o e luxúria, assassinos passionais, traficantes, dentre outros seres. Seus pontos de força são os cabarés, motéis, boates, discotecas, bares, casas de aposta, porta de bancos, locais onde existam circos e outras atrações do gênero, casas antigas, casas de espetáculo e museus. Todavia, as legiões da Lira também respondem em quase todas as partes das cidades urbanizadas.
Os Exus e Pombagiras desse Reino são seres espertos e ladinos, aptos e sempre prontos para os golpes de boa sorte. São portadores de caminhos para as riquezas materiais e satisfações carnais. Podem levantar da miséria os adeptos dando oportunidades de trabalho, retirando pessoas dos vícios e depressões, em contra partida, obscuramente são seres que “chafurdam” os humanos nos vícios e na luxúria descontrolada. Capazes de iludir e enevoar, levam as pessoas a completa derrota em todos os sentidos. Não sentem piedade em escravizar e manipular os humanos fazendo-os cometer barbáries e sandices, além de corromper todos os pilares morais individuais.
Muitas legiões, chamadas também como “Povos” compõem o “Reino da Lira”:
Legião ou Povo do Inferno - Chefiado por Exu dos Infernos
Legião ou Povo dos Cabarés - Chefiado por Exu do Cabaré
Legião ou Povo da Lira - Chefiado por Exu 7 Liras
Legião ou Povo dos Ciganos - Chefiado por Exu Cigano
Legião ou Povo dos Malandros - Chefiado pelo Sr José Pelintra
Legião ou Povo do Oriente - Chefiado por Exu Pagão
Legião ou Povo do Lixo - Chefiado por Exu Ganga
Legião ou Povo do Luar - Chefiado por Exu Male
Legião ou Povo do Ouro - Chefiado por Exu do Ouro
Legião ou Povo do Comércio - Chefiado por Exu Chama Dinheiro