09/08/2024
Ao longo de mais de 20 anos ensinando estratégia e marketing para alunos de graduação, mestrado e doutorado, vivenciei uma rica diversidade de experiências. Tive o privilégio de acompanhar turmas compostas por estudantes altamente engajados, que constantemente me desafiavam a inovar e aprimorar minhas aulas. Muitos desses alunos se tornaram colegas de profissão, com os quais mantenho uma conexão valiosa até hoje. Por outro lado, também encontrei desafios ao lidar com estudantes que se mostravam indiferentes, ou até mesmo resistentes, a qualquer metodologia de ensino — mesmo aquelas baseadas em técnicas de aprendizagem ativa.
Essa realidade faz parte da trajetória de muitos professores do Ensino Superior. É tão comum que, nas conversas entre colegas, frequentemente surgem comentários de que os alunos de hoje não são tão bons quanto os de antigamente. E assim, na nossa memória, construímos uma imagem romântica dos alunos do passado, sempre dispostos a aprender. Mas será que essa visão é realmente verdadeira?
O filme “Meia-Noite em Paris”, de Woody Allen, nos oferece uma interessante reflexão sobre essa idealização do passado. Na trama, o roteirista Gil Pender, insatisfeito com sua vida, é magicamente transportado para a Paris dos anos 1920, onde encontra seus ídolos literários, como Scott Fitzgerald, Gertrude Stein e Ernest Hemingway. No entanto, a história revela algo profundo: a tendência humana de acreditar que o passado era melhor do que o presente. Gil está tão encantado com essa visão idealizada que se sente incapaz de concluir seu próprio livro, acreditando que jamais atingirá o nível de excelência dos grandes escritores do passado.
Como professores, muitas vezes caímos na mesma armadilha. Sofremos daquilo que chamo de “Síndrome de Meia-Noite em Paris”, acreditando que os alunos de outrora eram indiscutivelmente superiores aos de hoje. Mas será que era mesmo assim?
Devemos lembrar que, no passado, nossos alunos (e nós mesmos) não tinham as distrações da internet e dos dispositivos eletrônicos, mas ainda assim, frequentemente se perdiam em rabiscos nos cadernos ou textos de outras disciplinas. A verdade é que eles também demonstravam desinteresse e, ocasionalmente, hostilidade frente às estratégias adotadas em sala de aula.
Acredito firmemente que os alunos de hoje não são piores do que os do passado. Talvez, o que precisamos é reconhecer e combater nossa própria “Síndrome de Meia-Noite em Paris” e focar em aperfeiçoar nossos métodos e técnicas de ensino, adaptando-nos às novas realidades.
E você, o que pensa sobre isso?