05/08/2024
A NECESSIDADE DE UMA TEOLOGIA DO CUIDADO: FÉ, DIVERSIDADE E INCLUSÃO
Nos dias atuais, a questão do cuidado para com a mulher é uma preocupação que se torna cada vez mais relevante. É fato que a coisif**ação da mulher e a questão da misoginia ainda persistem, e os debates sobre o feminino dentro da Igreja avançam a passos lentos. No entanto, temos visto mudanças signif**ativas, como a abertura de ministérios antes exclusivos para homens. Mulheres hoje podem receber as chamadas ordens menores, como o leitorato e o acolitato.
O Papa Francisco tem nos inspirado a refletir sobre o papel da mulher na Igreja, não como uma questão de poder, mas de serviço. Quando confundimos serviço com poder, limitamos a nossa capacidade de viver plenamente a realidade eclesial. Devemos nos inspirar na exortação de Jeremias, que nos convida a sermos como argila nas mãos de Deus, permitindo que Ele nos transforme e nos conduza por caminhos justos.
O reconhecimento do valor das mulheres na Igreja é um processo em evolução. Precisamos compreender que nossa caminhada deve ser coletiva, e não individualista. As mudanças são necessárias, mas devem ocorrer de maneira gradual e consciente, evitando extremos que possam gerar resistências desnecessárias. A riqueza do feminino é inegável, e ele nos ensina a ternura, a face mais bela de Deus.
Outro aspecto crucial dessa teologia do cuidado é a inclusão das comunidades LGBTQIA+. Vivemos tempos em que a doutrina cristã, infelizmente, é usada por alguns para excluir e condenar. Não são raras as vezes em que se ouve dizer que devemos acolher, mas que "eles" estão no pecado e precisam mudar. Essa abordagem está longe de refletir o amor e a acolhida que Jesus pregou.
Devemos lembrar que a Bíblia, em sua essência, não é um documento estático, mas uma obra viva que interage com a história e a cultura de seus tempos. Muitos preceitos antigos, como a exclusão da mulher menstruada ou a proibição da carne de porco, foram superados com o avanço da sociedade e do conhecimento. Por que, então, deveríamos manter posturas arcaicas sobre a homossexualidade?
A Torá, como sabemos, possui diversas leis que refletiam as necessidades e o contexto de sua época. Assim como superamos muitos desses preceitos devido à evolução da higiene, medicina e tecnologia, devemos também superar as barreiras que se levantam contra a diversidade sexual. É importante lembrar que Jesus, em seu ministério, não condenou a homossexualidade. Ele focou em amar e acolher, sempre estendendo a mão àqueles que eram marginalizados.
Acreditamos que as palavras de Jesus devem ser o guia para a prática da fé cristã. Ele nos ensinou a amar o próximo como a nós mesmos, sem exceções. Portanto, excluir pessoas LGBTQIA+ de ministérios ou da comunhão é contrário ao Evangelho. Devemos ser uma Igreja que acolhe, que ama e que vê o outro como um irmão em Cristo, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Se cremos que Deus é amor, como podemos justif**ar atitudes que excluem e marginalizam? Devemos nos comprometer com uma visão mais inclusiva e amorosa, onde todos têm espaço e voz. A identidade de gênero, tantas vezes mal compreendida, é, na verdade, uma luta por justiça e equidade. É a busca por um mundo onde todos possam viver plenamente, sem medo ou discriminação.
O debate sobre as questões de gênero é frequentemente confundido e rotulado de forma pejorativa como "ideologia de gênero". O uso do termo "ideologia" em um sentido negativo distorce a verdadeira natureza dessas questões, transformando-as em algo que não são. É condenável ver o binômio "ideologia de gênero" sendo empregado de maneira negativa, uma vez que sugere que todas as ideologias são ruins. Essa crítica, que rotula as questões de gênero como ideologia, carece de uma compreensão adequada e pode perpetuar preconceitos e equívocos.
A teologia do cuidado nos chama a sermos mais humanos, mais acolhedores e mais amorosos. É um chamado à conversão, não apenas pessoal, mas também institucional, para que possamos verdadeiramente refletir o amor de Cristo em nossas ações e palavras.
O Reino dos Céus é um banquete para todos, onde não há distinção entre homens, mulheres, homossexuais ou transexuais. Todos são chamados a partilhar da mesa do Senhor, celebrando juntos a vida e o amor divino.
Que possamos, então, ser agentes de mudança em nossas comunidades, promovendo uma teologia do cuidado que acolhe e respeita a todos, vivendo assim o verdadeiro Evangelho de Cristo. Como disse Jesus, "[…] na casa do meu Pai há muitas moradas […]" (cf. João 14, 2), e essas moradas são para todos nós, sem exceção. Que possamos viver essa verdade em nossa caminhada de fé.
Mauro Nascimento
Reflexões resultantes dos diálogos formativos sobre Teologia do cuidado, com Padre Hermes A. Fernandes.
Publicado em:
Acesso em: 05 ago. 2024.
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